A overdose de intelectualidade de alguns filmes de Woody Allen tem vindo a ser mal compreendida pelo públicos menos fiéis de autor. Aquilo que parece ser uma atitude pretensiosa face à nossa ignorância no campo dos compositores austríacos ou dos filósofos alemães é quase sempre uma falácia narrativa que Allen arranja para nos presenciar com uma paulada na cabeça para aquilo que se pode definir como “Banho Frio de Realidade”. Ah, é verdade, e neste filme também há amor lésbico entre Penelope Cruz e Scarlett Johansson.
A essência de Vicky Cristina Barcelona faz-me lembrar o grande Purple Rose of the Cairo. Constrói-se um mundo idílico arte, cultura, um estilo de vida alternativo, longe dos preconceitos sociais e dos espartilhos das regras de conduta do nosso dia a dia. Os nossos personagens são embrenhados num fantástico mundo de utopia de onde bebem poesia e comem cultura às fatias. A vida perfeita sem as amarras pesadas da civilização ocidental e toda a sua banha de porco. Mas no final acaba-se por receber o tal “Banho Frio de Realidade”, uma lição de moral onde percebemos que é tudo muito lindo, mas o nosso destino é mesmo ter uma existência aborrecida porque este mergulho constante de boémia e arte não pagam as contas.
Isto é um bocado como a faculdade. Andamos ali uns anos a viver um estilo de vida fantástico. Gajas, álcool, festas constantes, utopias, drogas, demandas por justiça e a ambição de um futuro brilhante na nossa área de formação e depois quando tudo acaba, “pow!”, na base da nuca. Vamos exercer uma função monótona sub-avaliada e sub-aproveitada e a nossa vida torna-se uma fotocópia a preto e branco em ecomode.
Mais uma vez temos uma Scarlett Johansson fantástica, como sempre. Sempre aquela frescura de eterna juventude que nos faz pensar “Quando é que ela mostrará finalmente as mamas?“. Penelope Cruz ganhou aqui um Oscar com o qual eu não concordo. Se fosse para atribuir Oscars seria a Rebecca Hall, que aqui o papel neurótico, inseguro e verborreico que habitualmente é dado Woody Allen (actor) ou a algum seu alter-ego. Penelope Cruz faz apenas aquilo que as espanholas fazem naturalmente no seu habitat: ser peixeiras.
Mais do que uma crítica, está aí uma excelente análise sobre a vida.
Eu gostei bastante do filme. Tinha algum do sentido de humor do Allen antes da incursão por Inglaterra, onde fez óptimos filmes (vulgo, Matchpoint) mas que literalmente não tinham a mesma graça. Surpreendeu-me.
A cena lésbica teve o efeito inverso. Tinha imaginado uma cena fabulosa, mas depois pareceu-me coisa pequena. Foi pena
Concordo plenamente com este texto, num filme que me pareceu demasiado subvalorizado pela crítica em geral. Fazes também muito bem em salientar a Rebecca Hall, injustamente esquecida quando se refere a este filme como “aquele do Woody Allen com a Cruz, a Johansson e o Bardem ao molho”.
nunca vi… mas a cena lésbica deixou-me intrigado