Rua da Sofia, Coimbra, Primavera de 1987. Num período pós-Natal e pós-Carnaval pouca coisa existe para um jovem de 13 anos se entreter no caminho para a escola. As montras são cinzentonas e aquela loja que vende VHS está sempre a passar o Break Dance 2: Electric Boogaloo. Era interessante no início, chateia à 513ª vez. Nem os vendedores de calendários aparecem com novidades. Rambo? Tenho! Aviões de Combate russos? Tenho!Samantha Fox com as tetas à mostra? Tenho… debaixo da cama para investigação académica… Continuo a andar e eis que a meio da rua Visconde da Luz, numa zona dedicada aos cartazes dos cinemas, um confortável e quente clarão multicolor me atinge em cheio. Como uma explosão de cornucópias alucinogénicas misturada com o riso de mil crianças e um bando de unicórnios a brotar de um arco-íris, envolvido pelo cheiro de um campo de rosas ao triplo nascer do sol de Tatooine ao som de um coro de anjos, lá estava. Daqui a meio ano ia estrear um novo filme de Schwarzenegger: Predador! Caralhos me fodam se não senti uma erecção…
Antes de continuar a escrever este conto de Natal (mas na Primavera) deixem-me que sublinhe que estamos em 1987. O que significa que a Internet era futurologia e as revistas de cinema eram basicamente o Se7e, o Blitz e meia dúzia delas estrangeiras que custavam para cima de um contos de reis. Os jornais portugueses sabiam pouco mais que nós e dedicavam-se mais ao passado. Críticas e reportagens. Não cagávamos dinheiro, só podíamos comprar as revistas quando o rei fazia anos. Rei esse que já não existe desde Outubro de 1910, para o caso de algum puto mais novo com altos índices de ignorância nos estar a ler.
Bom, faltavam então 5 meses para o filme estrear, havia que começar a preparação. Aquela adrenalina provocada pela antecipação que, como todos sabemos, é bem melhor que o evento propriamente dito. Mas eram cinco meses de antecipação o que significava que havia entre os putos (proto) cinéfilos um estado de euforia quase tóxica muito parecida com um estado toxicómano recreativo muito comum na juventude, também conhecido por ganza. Mas não era esse o caso, porque com 13 anos pouco coisa havíamos ainda experimentado, e a lista das prioridades começava pela pinocada, passando pelo cigarrito, sendo que a ganza está ali guardadinha para os 16/18 anos.
Ainda me lembro do dia em que a professora de Geografia me chamou à terra. Era cedo, muito cedo, chuva e cinzento invadiam os céus. Eu imaginava-me a matar vietnamitas com uma enorme metralhadora num ambiente pós-apocalíptico. No meu sonho acordado era imensamente musculado e a fantasia acabava com uma bem torneadinha musa de joelhos a aliviar-me o stress por sucção. Essa musa era obviamente a minha professora de Geografia, que apesar de ser detestável como professora tinha um corpinho escultural responsável pelo inchaço que trazia na gaita provocado por excesso de fricção. Era este tipo de excitação que antecipava um grande filme.
Depois o filme estreou e lá fui com o meu pai, o meu super pai, especialista em cinema desde que em 1967 começou a frequentar as salas ao ritmo de 3 sessões por semana até que a vida de casado, os filhos e o trabalho lhe reduziram esta frequência. Ainda hoje me acompanha em assuntos de cinema, apesar da divergência dos gostos. Ela não gosta de CGI, eu não sou grande fã do Ben-Hur nem dos James Bonds com o Sean Connery. Mas isso são gostos.
O filme foi alucinante. Brutal, tudo aquilo que esperava e muito mais. As vertigens e os suores frios do êxtase cinematográfico obrigaram-me a ficar na cadeira a saborear o filme até ao final dos créditos finais. Esperava tiroteio, violência gratuita e carnificina em barda, mas ainda meteu extra-terrestres, uma consistente (para a época) história de ficção científica e boa banda sonora. Agora só faltava mais uma coisa: a colecção de calendários.
E com esta pequena nota biográfica vos deixo, desejando-vos uma óptima passagem de ano, cheia de sexo, drogas e rock’n roll. O cinema fica para a ressaca do dia 1.
Até 2010! Cinemaxunga logging out..
Eu em 87 tinha 3 anitos. Mas o frenesim com que alguns anos mais tarde via a cassete VHS 3 ou 4 vezes por semana era basicamente o mesmo.
Belo texto!
Bom 2010 para todos.
Em 87 tinha 8 anitos. Não tinha VHS. E só comecei a ir ao cinema no inicio dos anso 90 🙁 Tive que me contentar em descobrir Predador na TV… julgo que do tempo que a TVI ainda passava filmes bons, antes das 3 da manhã, e se não me engano deram o Predador 2 na noite seguinte! Mas o DVD cá está na prateleira…
Sem qualquer tipo de gozo ou ironias envolvidas, para mim Predador é um dos melhores filmes de sempre! Ponto.
Isto é o filme perfeito! O ritmo, a acçao, o heroi, o vilao, os extras…o gajo preto que aparecia em todos os filmes dos anos 80 e depois desapareceu ao longo dos anos 90 (a ultima vez que o vi um crocodilo tinha-lhe comido a mao). Epá é excelente. É aquele filme que um gajo já pode ter visto mais de 20 vezes (e ja o fizemos certamente), mas se o apanharmos, nem que seja a meio, a dar na tv, paramos tudo o que estivermos a fazer e ficamos a ver. Nem que a pizza fique a arder no forno.
Bom 2010.
Amen, irmão Daniel!
Não escapando ao cliche sazonal, boas entradas.
Em 87 tinha 4 anos, era uma criança que só devia ver as merdas que davam no canal 1 e era só bonecada…felizmente, está tudo mais que recalcado..sou agora uma pessoa diferente.
Abraço e 2010 com muito filme, xunga e razoavelzinho também.
Caro CinemaXunga,
Os Óscares de Marketing Cinematográfico, iniciativa que pretende nomear o melhor que se fez em publicidade de Cinema no ano de 2009, estão de regresso ao Keyzer Soze’s Place.
Assim, convido o autor deste blog a expressar a sua opinião em http://sozekeyser.blogspot.com/2010/01/oscares-de-marketing-cinematografico-2.html.
Desde já, apresento o meu profundo agradecimento na sua disponibilidade para participar nesta iniciativa.
Cumprimentos cinéfilos!
Em 87 tinha eu 2 anos caralho!
não sei bem que idade tinha quando vi o predador, sei que foi um dia em que o meu pai levou para casa o nosso 1º vhs junto com mais uns 15filmes
entre esses filmes encontrava-se o predador e o aliens (o 2º)
tanto 1 como o outro… posso disser com toda a certeza, são dos melhores filmes que já vi até hoje
nessa minha altura de chavalito, (devia ter por volta dos 5anos) vi o predador vezes e vezes sem conta, até mais que 1vez por dia.
o Aliens não via tanto porque me borrava todo em algumas cenas (mesmo quando já tinha visto o filme nessa mesma manha)
filmes assim já não se fazem, e os meus filhos, caralhos me fodam se vão crescer a ver a paneleirice de filmes de hoje em dia,
vão ganhar barba rija a crescer com filmes como aqueles que o pai viu quando tinha a idade deles!
Eu ainda andava na primária quando isso saiu, mas vi-o até à exaustão por meio de uma VHS gravada num qualquer canal nacional (provavelmente na SIC). Acção alienígena do melhor que o cinema pariu. Li não sei onde que o Robert Rodriguez vai fazer um remake, sabe-se lá porquê. Gosto do trabalho do rapaz, mas estou um bocado farto de remakes, devia existir uma lei que controlasse essa gente!
“Como uma explosão de cornucópias alucinogénicas misturada com o riso de mil crianças e um bando de unicórnios a brotar de um arco-íris”
Este foi dos melhores textos do cinema xunga, bela forma de terminares a década no blog. escolhes um clássico entre os clássicos, protagonizado por um senhor clássico, e tudo numa bela combinação em que contas um pouco da tua vida (e da de todos nós: no meu caso, a de geografia era terrível mas tive num mesmo ano uma prof de ed.fisica e outra de ed.visual que eram santo deus qualquer coisa).
Não percebo é essa cena de não haver reis em 1987. não era o Soares?
Grande clássico da minha infância. Ver este filme foi ainda mais especial porque era considerado violento demais para a minha idade. Vi-o já na tv e aquilo eram anos em que só havia uma em cada casa, o que queria dizer que tínhamos que convencer os pais a ficar a ver um filme até tarde, em dia de semana, com escola no dia seguinte.. Às vezes passava por convencer o pai, que até gostava de ver umas cenas de batatada na selva, rezando para que já estivesse a dormir quando se percebesse que o vilão era afinal um extra-terrestre carregado de esteróides.. No género de acção e violência despropositada dos 80 foi dos que teve melhor argumento e banda sonora.
a par de Comando, o meu filme favorito do rei Arnold! posso dizer que o vi praticamente todos os dias depois da escola durante o ano de 1991.
“time to let old painless out of the bag…”