Desde 24 de Junho de 2003

(500) Days of Summer (2009)

O narrador avisa logo à cabeça que esta não é uma história de amor e a cena inicial garante que daqui não se esperam finais felizes. Mas esta não é uma história original, porque qualquer um de nós, menino ou menina, com vida sentimental e sexual dentro dos parâmetros daquilo que é considerado normal, já passou por esta situação uma vez na vida. Quantos de nós não arranjaram já aquilo que pensaram ser a alma gémea, e de repente essa alma gémeo no meio de uma relação que parecia ser normal dá um discurso em que diz não ser capaz de amar, que não é suficiente boa para nós e que merecemos melhor, não se encontra preparada para amar ou assumir compromissos e nos abandona deixando o nosso coração feito em estilhaços. E depois, passados uns dias, descobrimos que afinal a vaca já namora com outro gajo e até tem planos para se casar. Ou quando diz que precisa de tempo para se reavaliar e definir a sua vida com calma e sem parceiro e passada uma semana descobre-se que teve que ir lá a casa uma equipa de desencarceramento dos bombeiros municipais para lhe tirar uma equipa de rubgy que lhe ficou entalada nos entrefolhos numa posição sexual arrojada mas tecnicamente mal executada. Não, a mim nunca aconteceu!…

O filme é precedido por imenso hype mediático e por uma quase unânime aclamação crítica,o que torna complicado o efeito de agradável surpresa que às vezes tenho com alguns filmes. Mas ainda assim acaba por corresponder às expectativas. É uma história de amor completa ao contrário das histórias de amor normalmente vendidas por Hollywood e que são cortadas no ponto alto da relação de modo a que pareça que existe perfeição. É como uma maratona olímpica transmitida pela RTP que quando o atleta português chega ao primeiro lugar, ao km 4, a emissão é cortada e toda a malta festeja. Quando na realidade ao km 4.01 acaba por ser ultrapassado por um pack de quenianos de 20kg com motores a jacto no cu.

É um filme com um visual audacioso, esquematizado e fortemente influenciado pela nova escola de webdesign, muito ao estilo das imagens vectoriais e flash. Sequências a preto e branco em formato 4:3 intercalam o filme quando os personagens falam na primeira pessoa. Achei uma imitação da estilização de Amelie Poulain de Jeunet, ao tentar criar uma maneira pouco enfadonha de ilustrar as caracterizações. Como anteriormente mencionei, há um narrador. E são estranhos estes filmes com narrador em que a sua presença não é coesa. Como se fosse um artifício preguiçoso para a falta de qualidade do argumentista. É muito forte a sua presença no fim, mas depois aparece, desaparece, reaparece em momentos desnecessários e deixa em branco momentos que poderiam ter alguma ajuda à narração. De maneira geral só tolero a presença de narradores no Fight Club.

Não aprecio muito Zooey Deschanel e o seu ar sonso. Apesar de ser figura quase obrigatória do actual cinema independente, não suporto a sua representação monotonal e de fazer sempre um personagem tipicamente indy da mocinha excêntrica pouco ligada ao mundo real que todos querem papar. Às vezes não basta pendurar a carreira todas nuns imensos olhos azuis e esperar conquistar as plateias como conquistou o produtor. Isto, claro, partindo do principio que o seu casting não envolveu o omnipresente broche hollywoodiano.

E falando como estou a falar até parece que odiei o filme, mas não. Isto são apenas efeitos secundários do hype. É na realidade um bom filme, bastante acima da média. Mesmo dentro do estilo independente americano é superior. Só o facto de trazer para a ribalta um tema tão difícil como é o “amar e não ser amado” de maneira tão frontal, cruel e também divertida já é uma proeza que o tempo irá honrar. Apesar de me ter irritado o fim, como se o público tivesse que levar para casa um docinho para não adormecerem a chorar ao som das negras harmonias de Joy Divison.

E que esta década nos traga, no mínimo, melhor cinema.

3 Comments

  1. Leinad

    Que coincidencia. Por acaso o meu assistente Bitcomet acabou de me “comprar” este filme nao faz mais de 20 minutos, e espero vê-lo ainda hoje.
    É como tu dizes, o hype estraga a eventual surpresa que um filme destes deveria provocar em nós, mas ainda assim espero tambem uma experiencia agradavel. Logo verei…

    (eu por acaso gosto bastante da Zooey Deschanel, embora seja de facto daquelas actrizes que basicamente representam sempre a mesma personagem em todos os filmes. Mas o fetiche que nos leva a fantasiar com pinar uma lolita atrasada mental fala mais alto! Embora esta já nao tenha idade de lolita nem seja atrasada mental…mas tem ares de ambas as coisas)

  2. Joana

    A banda sonora também está muito boa. E concordo ficas com uma vontade enorme de ouvir Joy Division … isso para mim foi o efeito daquelas t-shirts que o Joseph Gordon-Levitt ía desfilando ao longo do filme.

    cumps. 0/

  3. Edgar

    Concordo em absoluto com a crítica, principalmente com o primeiro parágrafo!!

    Essas gajas são todas umas vacas!

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