Fantastic Mr. Fox (2009)

Por esta altura poderiam dizer-me que o próximo filme do Wes Anderson se iria chamar “Dermatite Seborreica – O filme” que eu ia ver sem pestanejar. Poderiam dar-me um bilhete tirado directamente do intestino de uma vaca, ainda fumegante e húmido que eu pegava nele para ir ver o filme. Carago, até podia ser a adaptação do clássico de Eurico A. Cebolo “o Falo Perdido”. Eu ia… Mas eu não estava realmente preparado para que o próximo filme de Wes Anderson fosse uma animação para a família.

Já tinha ouvido falar do Fantastic Mr. Fox, já tinha inclusivemente visto o trailer. Mas não associei a Wes Anderson. Foram precisas duas ou três leituras à frase “realizado por Wes Anderson” para perceber que o filme tinha sido mesmo realizado por Wes Anderson. Imediatamente o gráfico da expectativa sobe numa alarmante curva, situação perigosa que não raramente desemboca num desiludido “Pensava que fosse melhor”.

Mas depois de uns testes de respiração e um exercício mental de abstracção é possível assistir ao filme e separar o homem da obra. O certo é que apesar das características inegavelmente natalícias do filme, os elementos tipicamente Andersoneanos mais positivos pululam como orgulhosos mastros porta bandeira. A família disfuncional, as profundas discussões filosóficas acerca dos temas mais superficiais ou o simples mal estar provocado por incómodos silêncios ou situações inapropriadas.

Fantastic Mr. Fox é um filme familiar de qualidade superior que usa um argumento bastante espertalhão que joga com os nossos preconceitos em relação à voz de George Clooney e à sua imagem de chefe de gangue de assaltos refinados, imagem essa que parece estar colado até à eternidade. Mas troca-nos as voltas várias vezes, num constante brotar de agradáveis sorrisos.

A animação stop-motion de 12 frames por segundo é de uma saudável nostalgia que me senti por vezes uma criança. Ao contrário do que muitos dizem, não é um “regresso ao stop motion”, porque todos aqueles que, como eu, têm uma criança com cerca de dois anos (ou mais) apanham doses diárias de hilariante perigosidade de uma coisa chamada “Ovelha Choné”, que tem tanto de bonito como de genial pelos sempre agradáveis estúdios Aardman.

E com esta me vou que se faz tarde.