Todos aqueles que conviveram intimamente com os Conans de Schwarzenegger nos anos 80 ficaram aterrados com a ideia de um remake. Não só por se tratar de um remake de um filme que fez de nós mais homens, mas por ser pura e simplesmente um remake. Convenhamos, não haverá maior abominação neste planeta do que um remake. E se um remake a um filme de merda já é condenável, um remake a um clássico da nossa juventude é como uma violação em grupo num daqueles dias em que hemorroidal não está no seu melhor estado. Não é que os Conans originais sejam grande especialidade, mas são os nossos Conans, bolas! Aqueles que nos mostraram as mamas da Sandahl Bergman, da Olivia d’Abo ou da Grace Jones. Mas nenhum desses pares de mamas se revelaria maior que o de Schwarzenegger, numa fase em que o seu corpo tinha mais hormonas de cavalos do que grande parte do cavalos da altura.
Mas pronto. Lá calámos e consentimos silenciosamente nesse remake, como vaquinhas submissas esperando ver incontornável filme. Porque a natureza humana é mesmo assim, é por isso que paramos para ver os acidentes na estrada, por isso é que gostamos de ler a necrologia, por isso é que ficamos com uma ligeira ereção quando uma celebridade cai em desgraça ou quando vemos uma tourada esperamos sempre que um toureiro se foda.
O trailer tinha algumas virtudes. A versão Red Band, pelo menos. Sangue a baldes. Ainda que sangue CGI, mas mesmo assim é melhor que sangue nenhum. É a isto que estamos reduzidos, conformados com uma imitação de uma imitação de sangue. Há coisas piores, é verdade, mas entrar nessa lógica de raciocínio será ceder um pouco mais à negridão dos tempos, do eterno sofrimento na voz do povo, do fado e dessa miséria toda.
Conan é na realidade o filme que se esperava. Insípido, vazio, morto por dentro. Um filme que cedeu ao facilitismo dos clichés, que se rendeu à preguiça do CGI e à vulgarização da bofetada politicamente correta, sem danos colaterais. Faltam anões maléficos, evil warlords sexualmente pérfidos, heroínas debochadas, carnificina gratuita e a um pouco da velhinha ultra-violência nonsense.
Há uma cena em especial que me revira de tal modo as tripas que me faz lembrar o camarão que comi na passagem de ano de 91/92. A cena em que Conan batalha ferozmente guerreiros de areia. Que vergonha é esta? Pessoas de areia? A sério? Como se justifica uma coisa destas? Não seria mais lógico um exército de capangas sanguinários, a transbordar de ódio visceral e o mais vil desrespeito pela condição humana? Não, uns saltitões de areia que parecem umas cabras do mato alimentadas a LSD. Sinceramente Hollywood! Eu sei a explicação para isso, mas é uma explicação de indescritível vergonha. Eles metem esta bonecada em CGI, estes animais, guerreiros de areia, monstros, etc, para que possa haver violência dentro dos limites daquilo que eles consideram decência. Para não dar ideias aos jovens, dizem eles, para que não se possam identificar com a violência. Para que as suas pobres mentes não os arrastem para mais um morticínio no liceu e a consequente guerra de tribunais e moralidades mediáticas em torno das violências na TV, cinema e videojogos. “Nós não temos culpa!”, diriam os produtores de Conan em defesa da honra “No nosso filme só se chacinam criaturas descaracterizadas de qualquer humanidade para proteger as nossas crianças das atribulações do destino”. Mas isto para dizer aquilo que tenho dito ultimamente: a estupidificação, a unidimensionalidade narrativa (porque não existe nenhuma artifício lírico que descreva de modo vívido zero dimensões), a ausência de verosimilidade sexual, remoção de elementos gráficos na violência, o humor linear e flácido para não irritar nenhuma faixa etária, social, religiosa, política, etc são apenas estratégias para agradar a gregos e troianos, tentando abranger todas os públicos para com isso encaixar mais dolares. É certo que encaixam bastante, ainda por cima com o atrocidade do 3D (que não abordarei agora), é certo que levam lá muito incauto parolo que dá mais atenção às pipocas que ao filme. Mas na realidade quantas dessas pessoas passam a ter este filme na sua lista de clássicos, naquelas memórias agradáveis que se mantêm até à morte, que relembram o filme com um sorriso de bem estar? Esse valor sei qual é. É zero!
E com isto vos desejo um bom ano e que, pelo menos, mantenham a dignidade humana durante o ano de 2012. So say we all!
Nem tive vontade de escrever algo sobre este filme no meu estaminé! Fraco.
So say we all. Acho que de todos os da marvel dos últimos tempos este conseguiu ser o pior. De bom, fica só esta crónica e o seu magnífico final a evocar a Battlestar Galactica, a antítese do remake, aquele caso raro em que o remake é melhor que o original (e no caso da Galactica, it’s not even close)