Imaginação, essa característica da mente humana tão em desuso. Para que se possa contar com a previsibilidade de um mundo uniformemente cinzentão é preciso que todas as pessoas sejam desde cedo refreadas de qualquer centelha de pensamento abstracto ou sentido de humor. Actualmente as nossas crianças mais imaginativas são brindadas com o título de “hiperactivos” e uma visita ao psicólogo. Spike Jonze, esse mestre do subconsciente, faz-nos um retrato fiel do que é ser criança, do que é encontrar conforto fora da realidade, do que é compreender o incompreensível.
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Ideia para filme arraçado de BD: Um arqueólogo encontra um túmulo perto do Vale dos Reis, Egipto. Ao entrar na câmara proibida encontra duas maldições: a do Escaravelho de Mármore preto e outra que não consegue decifrar. Anos mais tarde começa a aperceber-se que está a ficar com poderes. Transforma-se no Homem-Escaravelho, capaz de criar e enviar quantidades incríveis de excrementos acomodada sob a forma de bolas. De dia é o mais notável arqueólogo do planeta, de noite combate o crime atirando gigantescas bolas de merda paralisantes ou explosivas. O seu esconderijo é na pirâmide de Gizé, onde tem um exército de 200.000 hamsters a produzir energia eléctrica e toneladas de fezes para os seus gadgets…
Já antes ouvira falar de Spongebob, mas confesso que nunca vi nada desta famosa série de TV. Tive a oportunidade de pegar no DVD da versão “big screen movie” e li o argumento. Mas quem consegue resistir a um filme onde o vilão maléfico é um pedaço de plancton que quer conquistar o mundo (à laia de mr. Ernst Stavro Blofeld)? E onde se promete surrealismo que faria Dali enrolar os bigodes de vergonha? E que ainda por cima tem David Hasselhoff a dar uma perninha que faz lembrar aquele reclame do Ice Tea com o José Cid? Eu concerteza que não… Alguma vez viram alguém conduzir uma sandwich? Eu já…
Apesar do teu lugar garantido na imortalidade dos tempos, apesar de continuares junto de nós pela tua obra, a tua falta será sentida. Mas se por acaso voltares, trás 2 kilos de laranjas, meia dúzia de ovos e 250 gramas de chourição Ibérico da mercearia do senhor Amilcar. O chourição é Gran Doblon, sem picante e pede à senhora para tirar a gordura.
Apesar desta crise artística e criativa que afecta o cinema português desde 1895, é errado dizer que tudo o que cá se faz não passa de um nefasto agoiro, capaz de meter medo ao susto. Há obras ocasionais que fazem levantar o sobrolho. Vi este Odete sem esperança, sem um único pingo de expectativa, preparado para a mais abominável obra alguma vez concebida por um ser humano, capaz de provocar farto vómito a alguém que esteja há duas semanas em greve de fome. E em parte até acertei. É retorcido e disforme. Bizarro e animalesco. Doentinho. Mas no bom sentido.
Desenganem-se aqueles que pensam que o filmezinho de acção brainless em que toda a lógica é retorcida de modo a que a narrativa possa ser reencaminhada para um sem fim de lutas e proezas físicas de duvidosa credibilidade é um exclusivo do cinema de Hollywood. Todos os países têm os seus “filmes de porrada e explosões” para entreter esta grande comunidade de barrascos que habita entre nós. Assumir que se fez um filme brainless é nobre, mas querer fazer passar uma obra monolítica por um épico intemporal injectando mitologia nonsense é uma armadilha narrativa em que os russos caem sempre. Efeito secundário: transforma-se um “murro e balázio neles” numa comédia involuntária capaz de criar um Ed Wood instantâneo.
Por esta altura poderiam dizer-me que o próximo filme do Wes Anderson se iria chamar “Dermatite Seborreica – O filme” que eu ia ver sem pestanejar. Poderiam dar-me um bilhete tirado directamente do intestino de uma vaca, ainda fumegante e húmido que eu pegava nele para ir ver o filme. Carago, até podia ser a adaptação do clássico de Eurico A. Cebolo “o Falo Perdido”. Eu ia… Mas eu não estava realmente preparado para que o próximo filme de Wes Anderson fosse uma animação para a família.
Inspirado que fui por um email do Dermot, trago-vos a minha lista de filmes de baixo orçamento. Incompleta, como todas as listas que se prezem, mas honesta. São 10 filmes que souberam gerir a ausência de capital para ainda assim criarem obras de relevo. Alguns nem de limões precisam para fazer limonada. Às vezes tão simples como ser astuto na escrita ou manusear a câmara de maneira pouco ortodoxa, outras vezes usar a cozinha da mamã para criar efeitos especiais de qualidade surpreendente. E sem mais demoras, vamos para o número 10.
10 – Eraserhead (1976) – David Lynch
Filmado a preto e branco, minimalista e sob uma desconfortável e constante banda sonora industrial, é uma verdadeira orgia de surrealismo. David Lynch fez a festa com meia dúzia de tostões e os cinéfilos mundiais à procura de novas sensações e conceitos adoraram. Vi este filme em Coimbra, no tempo das salas de cinema majestosas acompanhado por 7 pessoas que no final do filme eram só 3. Foi a primeira vez que vi um homem assumir a paternidade de um frango assado. E talvez tenha sido também a última.
Tu, leitor genérico, és uma pessoa equilibrada, relativamente satisfeito com a tua qualidade de vida. Um bocadinho de ansiedade de status, o que é perfeitamente normal numa pessoa com alguma ambição. Vida sentimental e familiar agradável, uma amante ninfomaníaca nalguns casos. Uma vida que não sendo de êxtase permanente, está num nível aceitável daquilo a que convencionamos chamar “felicidade”. Mas um dia vira-se à porta de tua casa um camião de anti-depressivos, beta bloqueadores e ansiolíticos. Como podes dar uso a este valioso tesouro se o teu cérebro está bem equilibrado? Se ao menos fosses uma pessoa deprimida não vias esta oferta como uma inutilidade. O que pode provocar uma depressão instantânea tão imensamente poderosa que necessite de um camião de fármacos? Na minha opinião, este filme…
Apesar deste meu aspecto de cepo unidimensional com sérias limitações intelectuais e culturais, sou um estudioso amador da Segunda Guerra Mundial. O suficiente, por exemplo, para ter ido à Normandia ver com os meus próprios olhos ou para me ter sentido terrivelmente emocionado ao ler a mensagem de homenagem aos 60 milhões de mortos que está debaixo do Arco do Triunfo em Paris. Documentários, livros, museus… Tudo o que consigo encontrar. Não morri de afectos pelo “Saving Private Ryan”, porque a narrativa não acompanha o visual. No entanto adorei a introdução. Band Of Brothers é uma das minhas séries preferidas. Esta semana estreou The Pacific, que conta a parte da Guerra que tendemos a ignorar na Europa, entre os Império do Japão e os Estados Unidos por todo o oceano Pacífico.
Cinema Português, esse imenso buraco negro da boa vontade. Sempre que nos aproximamos de um filme nacional com a esperança de finalmente haver uma obra cinematográfica capaz de orgulhar a nação, a nossa boa vontade é sugada por um vórtice de tão colossal vazio que nem a própria gravidade escapa, transformando a esperança em fúria. Raiva suficiente para incendiar uma sala de cinema, demolir a sede do ICAM ou enforcar um produtor. Mais ou menos como ser agarrado pelos tomates, despido, e ser arrastado por um campo de urtigas e silvado selvagem a caminho de um alguidar de metanol.
Portugal, 1983. Fartos bigodes, cabelos tratados com Olex e volumosas permanentes invadem a moderna cidade de Lisboa. Os anos 70 em Portugal tiveram lugar nos anos 80, até porque na década de 70 o pessoal andava ocupado com revoluções, manifestações e liberdade recém conquistada. Milhares de pessoas aglomeravam-se nas bilheteiras de cinema para terem lugar numa sessão de “Garganta Funda”. Mais ou menos como arranjar um bilhete para os U2 em 2010. Os Sigue Sigue Sputnik estavam para rebentar a qualquer altura. Portugal delirava com a sua primeira novela, Vila Faia e toda uma nova geração de actores fervilhava de actividade e exposição mediática.
Domingo à tarde. Almoço de família. Depois das 17 sobremesas finalmente chegamos ao sofá. As crianças brincam e gritam ao nosso redor. Umas torturam animais de estimação, outras incendeiam os cortinados. Da cozinha ouvem-se os gritos de protesto “Vocês são uma merda! Em vez de nos ajudarem a arrumar, vão directos para o sofá.” A TV bloqueada na SIC. O controlo remoto longe do alcance dos braços. Enquanto termino a minha água com gás na esperança de uma digestão pacífica, lá está ela. Como nos tem habituado aos domingos à tarde, Cameron Diaz em cuecas…
Longe vão os tempos em que a única coisa que apreciávamos da Suécia eram as gémeas Inga e Helga todas embezuntadas com óleo de coco a lutarem entre si por atenção masculina usando para o efeito um inexistente par de cuecas e os seus viçosos e anti-gravitacionais seios. Eles também produzem um cinema de muito boa qualidade, pautado pela bela cinematografia semi-descolorada e a curtíssima profundidade de campo. Let The Right One In é o filme que impede que Thirst (de Chan-wook Park) seja o melhor filme de vampiros que vi nos últimos 10 anos…
O “Grande Manual do Marketing Desonesto do Cinema Americano” fala-nos de dois tipos de filmes que não precisam de argumento. Mais ainda, são dois géneros cinematográficos em que o argumento só vem empatar. Um deles é o filme mainstream com uma (ou mais) cenas de sexo explícito. Brown Bunny, Shortbus, Idiotern, Baise Moi, Ken Park, só para citar alguns exemplos. O que nos fica destes filmes? Berlaitada! O outro género cujo assombro é tal que dispensa completamente argumento: Ninjas!
Tendo eu sido um visitante das sessões de curtas metragens que decorreram nos Caminhos do Cinema Português em Coimbra, venho aqui com mais um magazine de ajuda a novos cineastas. Como podes tu então, jovem petiz, fazer uma curta metragem para passar num festival?
Nos anos 80 havia uma produtora , que por si só, produziu mais toneladas de filmes xunga do que qualquer outra na história. E não falo de xunga foleiro e que se esquece facilmente, falo de xunga inesquecível e cujo humor involuntário nos acompanha através dos tempos, qual memória recalcada que aparece sempre em momentos incómodos, como reuniões do conselho de administração ou funerais de pessoas que até nem conhecíamos muito bem. Essa produtora / distribuidora era a Golan/Globus, normalmente em associação com a Cannon Film Distributors.
E já que nos encontramos numa maré de viagens no tempo, falo-vos também de Los Cronocrimenes, um filme espanhol independente de parcos meios, mas de infinita criatividade. Um exemplo de tenacidade e sucesso para os brochistas portugueses do ICAM-dependentes, que em vez de andarem aí a carpir lamúrias como um bom bando de putinhas que são, podiam criar um argumento que se adapte ao magros fundos que o governo lhes atira.
Os britânicos encaram a ficção científica de um modo diferente do resto do mundo. Mais leve, airosa, frequentemente bem humorada mas sem com isso tirar a devida profundidade aos temas. Aliás, comparando com a ficção científica americana que é sisuda, cinzenta e monocórdica, a britânica é frequentemente mais complexa e apoiada em factos científicos, por mais estratosféricos e improváveis que possam ser. FAQ About Time Travel conta-nos a história de três amigos (dois nerds de scifi e um anti-nerd sci-fi) que se vêem numa embrulhada épica quando uma anomalia do fluxo temporal na casa de banho do pub que frequentam os envia aleatoriamente para várias épocas.
Então ouvi a última criatura: as trombetas de marfim anunciavam o fim do existência. Vinha com um cavalo de um plasma muito denso produzido por cisão termonuclear, o nome do cavaleiro era MORTE e o séquito do inferno seguia atrás (de mota). Os anjos ditavam aos mortais a origem do fim. Dos seus ouvidos escorria sangue e o efeito Doppler deixou de existir, como que num prenúncio do final do mundo racional. Antes do universo implodir numa massa disforme de sangue e tripas, projectaram um filme de vampiros para adolescentes, o sinal do fim dos tempos. Quando toda a esperança morria, enquanto as labaredas da humanidade lentamente se extinguiam, quando as mães choravam os filhos perdidos para as novelas de vampiros e os filmes da Disney eis que apareceu o novo filme de Chan-wook Park, resgatando mais uma vez a humanidade da sua mais que merecida extinção. So say we all!
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