“Onde estavas aquando da chegada dos extra-terrestres?” será a pergunta mais feita pelos terráqueos naquele intervalo de 3 semanas que separa a chegada dos nossos amigos do espaço sideral e a obliteração total da vida na Terra. E como nos preparamos para isto? Será possível executar essa preparação sem parecer um tolinho da conspiração? É na continuação deste simulacro conceptual que Denis Villeneuve assenta o seu exercício imaginado materializado em filme semi-blockbuster de época baixa Arrival.
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Para continuar este ciclo de amor e romance, nada melhor que Timecop. Um filme rude e mal limado, é certo. Abrutalhado, como se fosse pedido ao mais hábil relojoeiro suíço para fazer um relógio fino usando apenas um maço de madeira, molas de colchão do ferro velho e 239 rublos do Turquemenistão. É no entanto um filme cujo combustível é o amor, a procura pelo doce aconchego do quente afecto, o regaço de uma mulher amada, um beijo molhado, uma cama suada. Só que à força do bofetão.
O assunto que aqui me traz é de grave transtorno. Uma negra tristeza que me percorre o sistema nervoso, suores frios nocturnos, a perda de esperança num mundo melhor. Faz semanas que vos quero falar disto, mas parece que se me forma uma bola na garganta que antecede um terrível camadão de nervos. O último Terminator não é grande coisa. É mau, uma obra que não mereceu a atenção merecida aquando da feitura. Uma facada no nosso imaginário e na nossa infância. Não é só o facto de ter trazido spoilers no trailer, é também a situação que retrata esse spoiler ser de um atraso mental que lhes valeria um taxa de IRS de 0% por invalidez total. John Connor é um Terminator, aliás, é o pior dos terminators. Mas como? Quando? Porquê? Que raios… Como é que isto foi acontecer? Não interessa. Pior que isto é o casting, que é terrível. É medonho. Andaram com uma espátula a raspar a zurrapa de Hollywood para nos matar os personagens que tanto amamos. Arnie, o nosso paizinho, é quem cola este acidente de comboio de filme. Faz o que pode, injecta-lhe amor e carinho, aquela quente sensação de um lar, e nas entrelinhas pede-nos desculpa porque gastámos dinheiro naquilo. Há que descobrir o culpado deste desastre e na minha opinião é o casting. Vamos lá analisar estas respas de bosta que encarregaram de protagonizar o nosso tão amado franchise.
A tecnologia avança de modo vertiginoso, descontrolada, eufórica… Uma corrida desenfreada que já dura desde que DaVinci alinhou umas rodas dentadas debaixo de uma pele de cabra. Vivemos num tempo de imprevisibilidade tecnológica, milhões de engenheiros e cientistas a trabalhar, coordenar esforços, em busca do santo graal tecnológico: um robot com entrefolhos correctamente anatómicos que se possa foder. Será a empresa que o criar que poderá controlar o planeta, mudar regimes, criar estratégias globais. Quem entre nós não apreciaria ter um parceiro sexual topo de gama que tivesse um botão de off e esperasse o sono do amado para actualizar o firmware na pacatez da noite? Depois de engomar camisas e lavar as bancas da cozinha. E é por aqui que a nossa psique colectiva alinha o progresso da humanidade.
“Faço minetes grátis”, escreveu ele no formulário do jornal que permitia pequenas mensagens na secção “Contactos”. Com a cabeça ligeiramente inclinada e a mordiscar a língua que pendia entre os lábios descaída para a esquerda, a confirmar subconscientemente a sua intenção, continuou “Sem pedir nada em troca. Garanto confidencialidade. Só meto dedo no rabo a pedido. Atreve-te a ser feliz!”. Sorriu ao entregar o papel à funcionária que franziu um esgar de encapsulada repugnância de quem se incomoda com o devassidão da mensagem misturado com a repulsa natural do próprio ser humano de prestar serviços não remunerados. No dia seguinte ligou-me. Chorava copiosamente e não se percebia bem o que dizia. Parei de mastigar os Cheetos que me serviam de pequeno almoço para tentar compreender aquela amálgama de má dicção com soluços e angústia. “Não publicaram, filhos da puta, [reticências] não publicaram o meu anúncio”. Plenamente confiante que estava a prestar um serviço útil e que a sociedade que pretendia servir lhe recusou violentamente os préstimos, suicidou-se meia hora mais tarde por asfixia auto-erótica vestindo apenas umas cuecas da irmã. Um desgosto para a família, uma vez que o mesmo jornal onde entregou o formulário para a secção “Contactos” publicou a foto na capa com o título “Jovem seropositivo homosexual com historial de drogas duras suicida-se em ritual satânico de zoofilia”. O anúncio dos minetes grátis foi publicado na mesma edição do jornal.
Jazia inerte no meu repositório para “utilizações futuras” quando o repesquei pela enésima vez. Desta feita aguentei os longos créditos iniciais que apesar de belos e necessários para definir o ambiente de arranque de Splice, são extensos demais para um filme que se quer despretensioso em linha com o low profile do seu talentoso realizador, um tal de Vincenzo Natali que viveu em glória aquando da estreia de Cube e em contida efusividade pelo trabalho original e competente em Nothing. Não sendo propriamente o Special One da realização, não é um badameco qualquer que ande lamber rabos à industria como tarefeiro a ganhar à peça e a obedecer aos mercenários hollywoodianos que nos tentam iludir constantemente com operações de marketing de duas horas disfarçadas de cinema.
No final da sessão do Captain America mal consegui conter o vomito até chegar à casa de banho do cinema. Enquanto cabritava restos do almoço em convulsões tão poderosas que poderiam deslocar facilmente uma omoplata a um iniciante das artes do gregório, um amigo que foi comigo ao cinema colocou a sua mão no meu ombro e disse bondosamente “Oh Pedro, há mais filmes no mundo. Não gostaste deste podes sempre ver outro.” Ergui a cabeça, racionalizei no que ele tinha acabado de dizer, levantei-me e dei-lhe uma cabeçada no nariz. Antes de ele ter tempo de bater com as costas no chão, já o meu pé o esperava e assim foi de pontapé em pontapé até à outra ponta dos sanitários quando a sua cabeça foi violentamente impedida de prosseguir por uma parede de mármore. Enquanto lhe desfigurava a cara inconsciente numa sucessão de uppercuts, sussurava-lhe aos ouvidos as palavras “Quem te disse que me podias acompanhar para a casa de banho dos homens? E quem te disse que me podias tocar?” Horas mais tarde, quando acabava de o enterrar num monte ali para os lados do Pinhal de Marrocos, pensei “O Cabrão tinha razão. Posso ir ver outro filme e salvar o dia”. Fui novamente para bilheteira, comprei um bilhete para o “Super 8”, respondi com um “E se fosses levar no cu?” à pergunta “Vai querer pipocas também?” e entrei sala adentro na esperança de um mundo melhor, um mundo onde a paz finalmente reinará, onde as nossas crianças possam jogar Carmageddon sem precisarem de mentir acerca da sua idade real, onde uma fibra sintética à base de polímeros de carbono possa substituir a exploração inumana de alpacas na américa do sul para a produção de lã e a prática sexual conhecida como minibus (dois à frente, cinco atrás) deixe finalmente de ser tabu.
Numa altura em que o marketing corporativo dos grandes estúdios de cinema faz lobby constante para passar a ideia de que a qualidade de um filme se mede pelo orçamento e box office, já poucas são as pessoas que se aventuram por obras de orçamento reduzido temendo que a equação hollywoodiana da relação/qualidade tenha alguma veracidade. Mas o certo é que não tem. A capacidade de encantar o cinéfilo com um bela narrativa nada tem a ver com o orçamento e os meios envolvidos. E uma prova desta afirmação é o fabuloso filme The Man From Earth, um filme que ficção científica que conta a mais cativante história de sempre. É passado numa sala e consiste num amigo que conta a sua história de vida aos seus amigos. Só diálogos e imaginação para criar a “greatest story ever told”.
Depois do Apocalipse provocado por uma invasão de térmitas gigantes consumidoras de madeira e viciadas em cabeças humanas, o planeta está transformado num espaço desolado. Os humanos estão divididos em dois grupos, os escravos vestidos com fatos de pirata da Babou ligeiramente modificados para parecerem pedintes e os capangas das térmitas vestidos com barbas postiças do Deborla e camisas excessivamente brilhantes como os fatos de cowboy que os chineses vendem no Carnaval. Mas um esperança cai dos céus, um grupo de astronautas que esteve ausente durante 40 anos e que, desafiando todas as leis da física, lógica, química e canónica, vão lutar pela supremacia da raça humana. Um telefilme do canal Syfy. Poderia ser a pior pedaço de matéria morta alguma vez cuspida e escarrada para as nossas televisões, não fosse um simples factor que faz subir uma produção de esgoto a céu aberto a fantástico guilty pleasure: Bruce fuckin’ Campbell.
O mundo estava em paz, o Verão escaldante convidava a um mergulho refrescante no mar e ao uso de uns binóculos para micar rabo viçoso. Alguns trabalhavam, outros descansavam. Crianças corriam na relva verde dos parques públicos enquanto cães saltavam a apanhar Frisbees. De repente tudo mudou… O mundo parou, estremeceu, ficou embasbacado sem saber como reagir. Uma força avassaladora tomara de tudo. Parecia controlar os nossos gostos, as nossas necessidades e a nossa capacidade de simular estados emocionais. O inconfundível poder do hype tapou-nos o raciocínio como um manto de cegueira. Tinha saído o trailer de Battle: Los Angeles na Internet e toda a gente queria entrar em criogenia e ser acordada no dia da estreia.
Franceses, não se pode viver com eles, não se pode viver sem eles, não se pode amarra-los a uma pedra e manda-los para o fundo do mar mediterrânico. Apesar de pretensiosos e pouco afáveis, são exímios em queimar carros, comercializar improváveis queijos e fazer filmes com alguma substância. O que não é o caso deste filme que vos trago hoje, que apesar de vir de um talentoso Mathieu Kassovitz e financiado pelo poderio Hollywoodiano, acabou por morrer na praia. Sem honra nem glória. Como um malabarista de motosserras atacado por Alzheimer fulminante.
O género cinematográfico “alienígena escaganifobético” não é um exclusivo dos últimos anos. Cada época, cada cinematografia ou onda tendencial tem os seus exemplares. The Adventures of Buckaroo Banzai Across the 8th Dimension é um delírio dos anos 80, uma obra de tão genial bizarria que não podemos evitar fazer constantemente a pergunta “Como é que alguém autorizou tal coisa?”. Rock star, neurocirurgião, físico quântico, herói da banda desenhada e aventureiro. Apresento-vos Buckaroo Banzai, herói nipo-americano capaz de salvar o planeta Terra das garras dos demoníacos seres da oitava dimensão, todos chamados John.
Nos dias que correm é comum algum amigo info-nabo nos dizer “Ai, ai, o meu computador anda doido!…“. Mas apesar de tudo, essa epidemia de insanidade informática que parece afectar apenas talegos é uma metáfora para “Sou burro mas nunca me apercebi e andei a mexer onde não devia. Agora fodi o meu computador e ando à procura de algum amigo informático que possa perder várias noites do seu precioso tempo livre para o arranjar. De borla…” Existe no entanto uma pessoa que se pode queixar literalmente da loucura do seu computador: David Bowman, o único sobrevivente do ataque provocado pela insanidade de HAL 9000. Mas porque é que HAL se revelou um autêntico psicopata, matando o colega de Bowman, Dr. Frank Poole, juntamente com os três astronautas em hibernação na Discovery?
Uma das minhas mais remotas memórias de serões televisivos é deste magnífico filme de Jack Arnold, mais concretamente da cena em que um homem minúsculo combate ferozmente uma aranha peluda. Lembro-me de o ter visto no “Segundo Canal” e ainda não sabia ler, tinha que ser o meu pai a explicar-me o que diziam as legendas. Ora feitas as contas, foi ainda nos anos 70… Eram noites frias de inverno sem aquecimento central e televisão a preto e branco sem controlo remoto. Era um tempo anterior ao tempo em que a simples ideia de aparar pêlos púbicos parecia um conceito de ficção científica.
Vamos lá meter a conversa em dia. Acabei finalmente a segunda época de Fringe. Mais sumo, mais mitologia, mas ainda assim muito enchimento de chouriço. Quase que se perdoa tanta palha com este universo tão detalhadamente rendilhado. Perdão, multiverso! A segunda época acabou com um episódio duplo ficção científica pura e dura com um pouco de tudo, acção, mistério, romance e um cliffhanger de fazer roer as unhas durante meses. Mas no melhor pano cai a nódoa e o final à Scooby Doo não me excitou especialmente, tendo em conta que os mesmo artificio narrativo já tinha sido utilizado no início desta época com resultados pouco animadores. [Spoilers ahead]
Torci inicialmente o nariz a Fringe apenas porque a sequência inicial do episódio piloto me fez lembrar a eterna e infindável agonia que é o Lost. Isso e também porque me pareceu demasiado X-Files. Tinha muita série para ver, não me apeteceu o esforço de aturar a curva de aprendizagem inicial de qualquer série que não seja totalmente simplória. Há cerca de um mês voltei a dar-lhe uma segunda oportunidade. Glorioso HD (pois claro) e estou agora no episódio 18 da primeira série, por isso cuidadinho com os spoilers nos comentários. Não é de todo uma série perfeita, tendo provavelmente mais pontos negativos do que positivos, mas analisemos então com um pouco mais de detalhe nas linhas que se seguem.
Por muito que tentem comprar o título de que vos trago hoje não o vão conseguir. Porque este filme é um Fanedit. Um montagem alternativa de uma obra, feita por um fã de maneira a corresponder melhor às suas expectativas, e às de milhares outros fãs que por alguma razão não se sentem totalmente confortáveis com as versões originais. Exordium é um filme de condensa a primeira época de X-Files em pouco mais de duas horas, concentrando-se apenas na mitologia que serve de fio condutor a X-Files e deixando de fora os casos próprios de cada episódio. Continue reading
Há 10 anos que a NASA apenas faz voos espaciais com robots, desde que a Space Shuttle Venture desapareceu sem deixar rasto. Mas 10 anos depois a Venture aterra no Centro Espacial Kennedy, trazendo apenas a bordo um dos sete astronautas originais. Este astronauta, chefe de missão, fala uma língua estranha quando é abordado por militares. Além disso a nave vem protegida com uma sistema de pele biológico e um motor orgânico de uma tecnologia incompreendida pelos técnicos da NASA. Mas a trama adensa-se quando é descoberta areia de Marte nas rodas da Venture. Terá ido até Marte? Ou Marte foi apenas uma das múltipas paragens?
A ficção científica, fora do âmbito do blockbuster, está a atravessar uma época especialmente vigorosa. Com os efeitos especiais cada vez mais acessíveis ao técnicos de orçamentos menores, estamos perante um admirável mundo novo de possibilidades. Em Moon temos o exemplo de como fazer um filme em que os efeitos especiais e os cenários servem apenas para contar uma história e não tiram o protagonismo nem o impacto à narrativa. Poderia ser o 2001 da nossa geração, não fosse ter aparecido numa altura em que o cinema é praticamente descartável e o tempo de vida útil de um filme é apenas um conjunto de breves minutos no intervalo de tempo que antecede os créditos iniciais do próximo. Documentemos irmãos, antes que me esqueça do que ia dizer.
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