Franceses, não se pode viver com eles, não se pode viver sem eles, não se pode amarra-los a uma pedra e manda-los para o fundo do mar mediterrânico. Apesar de pretensiosos e pouco afáveis, são exímios em queimar carros, comercializar improváveis queijos e fazer filmes com alguma substância. O que não é o caso deste filme que vos trago hoje, que apesar de vir de um talentoso Mathieu Kassovitz e financiado pelo poderio Hollywoodiano, acabou por morrer na praia. Sem honra nem glória. Como um malabarista de motosserras atacado por Alzheimer fulminante.
Para que nos possamos já entender de início, Mathieu Kassovitz é o actor que faz do namoradito de Amelie Poulin e também o realizador da obra prima La Haine, do mediocre Les Rivières Pourpres e do decepcionante Gothika, onde não passou de um tarefeiro de questionável qualidade artística. E com este currículo que, não sendo brutalmente assombroso, não deixa ninguém indiferente apresentamos aquele que é um promessa do cinema francês há quase 20 anos e a sua incapacidade de descolar se deve ao facto de se ter despenhado ali entre Rivieres Pourpres e Gothika. Quando estas quedas acontecem em baixa altitude ninguém nota, o problema quando ocorre na sob as luzes da ribalta.
Vin Diesel volta à ficção científica na habitual postura de semi-deus invencível com coração mole (quando se conhece melhor). Encarregue de uma missão hercúlea (lá está, semi-deus), Diesel terá que transportar uma rapariga da Rússia para a América. Numa sociedade distópica onde o absurdo e bizarro se juntam frequentemente ao selvagem e primal sem nunca perder o futurismo (material, filosófico e existencial) tudo parece acontecer para depois não desenvolver em nada de especial interesse.
Babylon A.D. poderia ser um filme decente não tivesse sido encurtado à força pelos estúdios para caber no formato mais popularucho dos 89 minutinhos (com créditos finais). Não se sabe se foi a falta de mestria e capacidade de síntese de Kassovitz ou a habitual ganância corporativa que substitui frequentemente qualidade técnica e artística pela explosão em câmara lenta de edifícios que se fragmentam inexplicavelmente em unidades quase microscópicas. Mas o certo é que dá a ideia de estar a cumprir pena e, sobretudo, a arrastar-se no tempo. E assim acontece…
“Como um malabarista de motosserras atacado por Alzheimer fulminante”. Absolutamente magnífico!
deste filme lembro-me que gostei da fotografia lá mais para o inicio do filme, depois não sei, adormeci…