Estava sentado em casa a pensar em 15 formas diferentes de servir esparguete quando me senti irreversivelmente atraído pelo vórtice de especulação e marketing hardcore em volta da celebrada trilogia do defunto Stieg Larsson. Adquiri o primeiro volume em formato ebook e durante uma semana a pouco debulhei-o como uma pastor alcoolizado numa banca de cassetes piratas. Depois pensei “Ah, que rico livro”. Anestesiado ainda pela força gravitacional do fenómeno, e também porque às vezes não sou muito esperto, embarquei na parte dois desta idiotice, que é ver também o filme e comparar aquilo que todos sabemos ser incomparável. Não digo que tenha ficado desagradado, mas depois de ter sucumbido tão estupidamente ao encanto da publicidade, já não posso dizer claramente que estou em pleno controlo das minhas capacidades.
O livro é o que é. Toda a gente que tem por hábito ler já o leu de certeza. Mas como seria o filme? Cinematográfico como é o livro, certamente toda a gente tem uma ideia pré-concebida daquilo que poderia ser esperado de uma adaptação ao cinema. Uma coisa não podemos esquecer: há uns anos atrás levámos a bombada de marketing do Código DaVinci e foi o que foi em termos literários. Empranhou tudo pelos olhos. “Ai que maravilhoso filme aí vem!”. E depois foi ver o Tom Hanks e a Amelie a passarem 2 horas e tal a cuspir frases idiotas sem grande convicção.
Mas The Girl with the Dragon Tattoo acaba por ser uma boa adaptação. Simplificado e encurtado, como normalmente, mas o ambiente e os personagens é como todos imaginávamos. Uma Suécia fria, com um pé no futuro e outro na tradição viking, o excesso de politicamente correcto a fazer aparecer comportamentos desviantes, a obsessão compulsiva pelos produtos Apple e o sexo casual como parte integrante de uma visita para o chá. Boa qualidade cinematográfica, boa finalização técnica. A fotografia de baixa profundidade de campo encanta-me sempre. Os tons azulados e frios próprios da situação.
Ainda não li o segundo volume nem vi o filme, mas não me apetece. E esperar pela versão americana? Isso é que deve ser um sonho. E se fosse com o Nicholas Cage, então seria a cereja no topo do bolo. Mas como vacas consumistas que somos, e não me venham com “Ai eu não, só os outros”, lá teremos que sucumbir ao poder do marketing, como se fossemos encaminhados cinema dentro em marcha zombie com um dedo invisível forrado a dólares enfiado no cu à laia de ventriloquismo corporativo multinacional.
“sucumbir ao poder do marketing, como se fossemos encaminhados cinema dentro em marcha zombie com um dedo invisível forrado a dólares enfiado no cu à laia de ventriloquismo corporativo multinacional.” Obrigado por mais esta imagem mental cravada no cérebro 😉
Li os três livros quase de rajada (vale muito a pena continuar a ler, porque o 1º é só mesmo o inicio da historia das personagens, e o 3º livro sobretudo é muito bom!) e só bastante mais tarde vi o primeiro filme. Nao desgostei, mas tambem nao me encantou nada. Senti-me bastante indiferente. É verdade que os ambientes (e até algumas personagens) estão muito próximos daquilo que eu tinha imaginado enquanto lia, mas de resto…nao sei. Parece que faltava ali qualquer coisa no filme.
Ainda estou pra ver os outros dois filmes, mas tou como tu, nao me apetece.
trilogia Millennium: 3 bons filmes. Embora o primeiro na minha opinião seja o melhor… é quase sempre assim.
Realmente comparar a adaptação a cinema de obras literárias é um exercício fútil e invariavelmente frustrante, porque por mais fiel que fosse há sempre qualquer coisa diferente em relação ao “filme” que passa na nossa cabeça ao ler o livro. Por exemplo, eu sempre imaginei o Henrik Vanger na pessoa do Max von Sydow, que seria perfeito para a personagem do velho capitão da indústria. Pequenas alterações à parte (Anita Vanger morreu de cancro?), penso que aquilo em que a adaptação mais pecou foi na caracterização do “Super Blomkvist”, não só em termos de firmeza de carácter – só aceitou a proposta de trabalho face à promessa de receber em troca a cabeça do Wennerstrom numa bandeja e não pelo dinheiro, por exemplo – mas sobretudo na sua faceta de penetrador implacável: no filme só pina a Lisbeth, enquanto no livro também o faz com a Erika Berger (que no filme é mera figurante) e com a Cecilia Vanger! Aliás, quando falas de uma espécie de mistura entre chazinho e sexo deves estar a referir-te mais ao livro que ao filme.
Por último, estranho não teres feito nenhuma menção à Noomi Rapace. Acho que a Nina Persson tem sérias hipóteses de cair para segundo lugar na minha lista de suecas preferidas da actualidade. 😉
Devo dizer que durante muito tempo também não me apeteceu ler o 2º livro, o primeiro era muito bom e duvidava que pudesse sair mais alguma coisa de jeito dali. Erro. Quando comecei o 2º só parei de ler quando acabei o 3º e são ambos francamente melhores que o primeiro 😀 Ainda não vi nenhum dos filmes, será difícil que o faça e se algum dia o fizer duvido que seja o David Fincher que vem por aí. É que depois do horripilante Social Network (pronto, a banda sonora é boa), logo a seguir ao Benjamim dos botões para mim Fincher nunca mais