A grande novidade do Nalgas Film Festival 2022 foi a inclusão de um grande convidado. Depois de meses de negociação, trocas avultadas de géneros, gado caprino e dinheiro vivo enrolado em elásticos, logística complexa para evitar que a sua multinacional encerrasse ao sábado, o Sr. Joaquim anuiu em comparecer como convidado de honra. À porta, alto e espadaúdo, pimpão, calças vestidas, fazia a recepção cerimonial dizendo aos convidados “bem vindos a casa”. Esta imagem de tamanho real foi criado pela Carla Rodrigues, a mãe do Sr. Joaquim, com as suas maravilhosas mãos de ouro que enaltecem o património das Nalgas. Também ela, a Carlucha, esteve presente no evento com estatuto de Nalga Dourada. Acabou por levar o Sr. Joaquim para casa ao final da noite, deixando o seu namorado, o Pedro, a dormir no sofá. Ninguém pode julgar porque todos nós faríamos o mesmo perante o apelo animal e a atração selvagem que emana hormonalmente pelos poros do Sr. Joaquim.
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Continua a grande dificuldade dos argumentistas do cinema moderno se adaptarem a novas tecnologias. A necessidade de manter os conceitos do cinema tradicional, para não alienar a clientela, e associar-lhe toda a parafernália de tecnologias atuais nas suas tramas é a tarefa mais dolorosa para argumentistas. É muito comum estarmos a ver um filme em que se ignoram completamente facetas tecnológicas da vida atual. A escrita foca-se numa linha de fuga muito concreta para evitar distrações. A malta de humanidades, que escreve os filmes, não sabe usar as tecnologias que tem, quanto mais compreender a complexidade mastodôntica que lhes dá forma dentro das paredes, na atmosfera, no espaço, debaixo das cidades, em centros de dados e dos seus domadores que operam nas sombras. Mas isso não os impede de tentar, com resultados mistos. Se o casual utilizador de telemóvel para ver fotos da ex-namorada em bikini no whatsapp consegue engolir as instruções narrativas, o geek de gama média rebola os olhos para cima e sai imediatamente do transe da suspensão da descrença.
Continue readingHá dois artifícios narrativos de que não sou grande fã, o found footage e os esquemas manhosos que agora se vêem em todos os filmes de terror para retirar o telemóvel do filme. Da primeira apenas não gosto do formato, que após alguns filmes se torna repetitivo e os 90 minutos de duração parecem 180. Mesmo com todo o contorcionismo e mortais empranchados que se injetam nesse molde, é uma agonia para chegar ao fim, parece que as almofadas do sofá se vão transformando lentamente em xisto pontiagudo. Em relação ao artefato de remover o telefone da narrativa, é uma incapacidade dos argumentistas de se adaptarem aos tempos. Claro que é muito mais difícil resolver os aborrecimentos de ser perseguido por uma família de mortos vivos abusadores sexuais canibais mutantes quando não temos telemóvel. Mas ainda mais difícil seria se não tivéssemos energia elétrica, automóveis, antibióticos, capacidade de locomoção bípede ou utilização do córtex cerebral primário. Ou que ainda não tivéssemos saído da água e fossemos amibas perseguidas por Mosasauros. Falei sobre isso aqui (Artigo: Telemóvel, o terror dos filmes de terror.).
Continue readingHá cerca de um ano este blog que vos escreve ganhou a categoria “melhor artigo de cinema” dos célebres TCN Blogs Awards com um texto que se entitulava “E o Netflix português? (o estado da nação)“. Entretanto, com a aproximação da implementação nacional desta plataforma, as minhas expectativas foram baixando. O mercado português não tem espaço para uma plataforma destas, uma vez que não acarreta poupanças, ao contrário do que acontece nos seus mercados de origem. Além disso, os downloads alternativos no videoclube do povo estão demasiado enraizados na nossa cultura para começar a pagar por hábitos que são, até à data, tendencialmente grátis. Ora, eis-me aqui com uma conta aberta e uma experiência curta mas intensa da plataforma. Valerá a pena despender uns 10 euros mensais extra no Netflix?
Coimbra, 1987. Tudo se resume sempre ao início, à génese das coisas. A um senhor a quem chamávamos “senhor”, de seu verdadeiro nome Dinis, que teve a visão de criar um videoclube e realizar as mais selvagens fantasias de adolescente dos anos 80: poder aceder livremente a pornografia e ver filmes sem sair de casa. Nesse templo de peregrinação semanal conhecemos Max, o louco, numa trilogia de luxo da qual idolatrávamos o segundo tomo como se de uma referência religiosa se tratasse. Lord Humongous era o nosso Satanás e o Road Warrior o Jesus redentor. Os santos e os mártires pereciam à fúria dos demónios das areias nas suas infernais bestas motorizadas. O discurso “There has been too much violence. Too much pain. (…) Just walk away.” rodava 3 ou 4 vezes ao fim de semana numa cópia que fazíamos de vídeo para vídeo, juntando esforços com um vizinho com o intuito de partilhar esta joia. Uma operação tão complexa como activar ogivas nuclear, com os dois responsáveis pelo equipamento a rodar a chave em simultâneo. As nossas bicicletas tinham espigões laterais e nos nossos corpos ostentavam-se as mazelas de acrobacias falhadas. A nossa religião era Max, o louco, e os clones italianos de baixo orçamento eram a nossa perdição. Todos consumidos, todos copiados, todos partilhados. Como representantes da religião de Max, a decepar, mutilar, incinerar e decapitar por esses wastelands fora. “Just walk away” é a voz que ainda oiço a meio da noite, ensopado em suores dos mais nefastos pesadelos. Como senti a falta do cinema do Max de Miller neste anos que passaram. A nossa relação não acabou bem, o último com a Tina Turner foi um embuste, uma colagem de interesses que não resultou como pretendido. Não é um filme desprezível. Também não chega aos calcanhares do Road Warrior.
Não sou contra a tendência dos grandes estúdios enveredarem pelo caminho do Grindhouse e filmes em homenagem à gloriosa série B que fez de nós homens (ou mulheres ou híbridos extraterrestres). Fazem-no com bons orçamentos permitindo a realizadores antes vetados à poupança extrema alargarem os seus limites a algumas das mais explícitas e realistas carnificinas alguma vez vistas. O problema é que esta vaga de série B mainstream veio matar a verdadeira série B, retirando-lho grande parte do escasso mercado que ainda tinha. De repente os pueris cinéfilos das nossas praças acham que Machete, Death Proof e Planet Terror são o “real deal”. Acham que os vampiros, lobisomens e zombies são assunto para blockbuster e para o Brad Pitt humedecer quanto vagináceo trintão e quarentão por aí haja. Com este misto de boa vontade com o mais fétido mercenarismo comercial, as produções de série B que fizeram de países inteiros notáveis fontes da cinéfilia do culto do morticínio começam a desaparecer no nosso panorama. Onde antes haviam vagas de géneros exploitation capazes de encher duas salas de prateleiras com capas VHS amareladas, hoje lá vão saindo um ou outro ocasionalmente. Os Asilum e os SyFy não contam, porque são fruto da mesma desonesta exploração comercial que os blockbusters de zombies. Só que em vez de fazerem um filme, fazem 2500 com o mesmo orçamento. Opções…
Há medida que me sinto mais desiludido com o cinema que nos chega às salas e ao subsequente monopólio de uma única empresa de distribuição que nos impõe a sua estratégia de marketing (ao invés de bom cinema), vou deixando de ver cinema mainstream contemporâneo. Mas de tempos a tempos, como qualquer outro humanóide, apanho o autocarro das sugestões das revistas e dos blogs populistas e vejo um filme destes. O problema é que cada vez que vemos um filme mau um gatinho morre ao ser sodomizado por um cavalo e se não for tomada uma decisão de acabar com este flagelo do cinema mercenário, o único sítio onde vamos ter gatinhos será nos powerpoints que nos mandam as nossas tias e aquelas amigas que ainda não descobriram a satisfação do African King (pilhas incluídas).
Com o aparecimento da Internet e dos multiplexes nos anos 90, os rituais quase espirituais de uma ida ao cinema começaram a desaparecer. Ir ao cinema deixa de ser um acontecimento especial, a representação de um estilo de vida, deixa de ter magia e de doses de ansiedade por antecipação capazes de anestesiar um cavalo. Até os rituais de acasalamento da adolescência / juventude sofreram um severo retrocesso com a banalização da sétima arte. Antigamente um jovem tinha que convidar a miúda para um filme assustador para ela se agarrar durante o filme e sentir necessidade de protecção no final para que se pudesse proceder à posterior afundamento do salpicão. Hoje em dia levam as gajas para as discotecas, já semi-nuas (contaminadas de devassidão e predispostas ao mais vil gangbang), dão-lhe pastilhas de ecstasy e rebentam-lhes o cabaço sem grande entusiasmo nos seus quartinhos luxuosos de estudante. Por vezes inconscientes e outras vezes em coito interrompido devido a um “Olha, uma mensagem no Facebook da gaja que eu gosto mesmo”.
No final do Verão de 2012 fiz uns reparos infelizes acerca da falta de qualidade de Dredd 3D baseados apenas no meu preconceito cinéfilo, sem sequer ver o filme ou o trailer (imaginem a heresia). Tendo como amostra todos os remakes e reboots do último par de anos, parti do princípio lógico que seria mais um esgoto a céu aberto para perder tempo e provocar incontroláveis diarreias fulminantes. Devido a esta minha imprudente atitude e grosseira intempestividade não apoiei o filme que mais precisou da minha ajuda. Aliás, da nossa ajuda na sua hora mais negra. Porque não o fomos ver ao cinema, porque não alimentámos a blogosfera com a sua magnificência, porque não o adoramos como o salvador do cinema de acção de ultra-violência que tanto amamos, porque fomos fracos e deixámos que a cruel contabilidade do movie making americano lhe cortasse todas as perspectivas evolutivas enquanto potencial saga cinematográfica. Pelas minhas falhas e persistente imaturidade peço desculpas e rogo à vossa caridade enquanto pessoas de bem que só querem ver chacina sanguinária e violência sem limites na pacatês do vosso lar e na sala de cinema dos vossos dealers de cinefilia que saiam para a rua, gritem, espalhem a palavra de Dredd. Escrevam cartas ao vosso vereador, ao FMI, despeçam-se, deixem de se barbear (ou rapar os genitais) e corram o mundo usando sempre a mesma roupa interior a bater de porta em porta a perguntar “Sabe quem é a lei?”. Façam-no antes sequer de ler o resto deste artigo que deverá ser tão desinteressante como todos os outros. Voem, minhas pombas, espalhem a lei, promovam o juíz a ver se nos fazem uma continuação (sequela em portinglês).
Em Outubro de 1997 um jornalista do Backwoods Home Magazine foi incumbido pelo seu chefe de encher os classificados com anúncios inventados para ocupar o espaço que estava em branco. O homem, John Silveira, inventou dois anúncios, que seriam suficientes para o efeito. Um dos anúncios era de natureza sentimental, “homem sério procura mulher para relação duradoura, [dados genéricos]…” e a outra dizia o que está na foto que ilustra este formidável artigo: “Procura-se: Alguém para viajar para o passado comigo, isto não é uma brincadeira. (…) Tem que trazer as suas próprias armas, não se garante segurança, só fiz isto uma vez.” No dia seguinte recebeu quatro cartaz de resposta ao anúncio sentimental, uma delas de um homem. Ao anúncio da viagem do tempo recebeu centenas. E a partir daí continuou a receber diariamente cartas até aos dias de hoje. Milhares e milhares de respostas de pessoas para viajar no tempo, a maior parte delas com propostas sérias de quem tem esperança de emendar as suas agruras com um passeio ao passado. História verdadeira que pode ser facilmente confirmada online, até pelo próprio autor do anúncio aqui.
Todos os dias são dia de deboche no Cinemaxunga, mas às quintas as coisas saem completamente fora de controle. É o efeito cientificamente reconhecido e comprovado conhecido como o pré-pré-fim de semana (pré2-fim de semana). E é dentro desse ébrio espírito festivaleiro que vos falo hoje do monstro vagina de Starship Troopers do mestre Paul Verhoeven.
“Faço minetes grátis”, escreveu ele no formulário do jornal que permitia pequenas mensagens na secção “Contactos”. Com a cabeça ligeiramente inclinada e a mordiscar a língua que pendia entre os lábios descaída para a esquerda, a confirmar subconscientemente a sua intenção, continuou “Sem pedir nada em troca. Garanto confidencialidade. Só meto dedo no rabo a pedido. Atreve-te a ser feliz!”. Sorriu ao entregar o papel à funcionária que franziu um esgar de encapsulada repugnância de quem se incomoda com o devassidão da mensagem misturado com a repulsa natural do próprio ser humano de prestar serviços não remunerados. No dia seguinte ligou-me. Chorava copiosamente e não se percebia bem o que dizia. Parei de mastigar os Cheetos que me serviam de pequeno almoço para tentar compreender aquela amálgama de má dicção com soluços e angústia. “Não publicaram, filhos da puta, [reticências] não publicaram o meu anúncio”. Plenamente confiante que estava a prestar um serviço útil e que a sociedade que pretendia servir lhe recusou violentamente os préstimos, suicidou-se meia hora mais tarde por asfixia auto-erótica vestindo apenas umas cuecas da irmã. Um desgosto para a família, uma vez que o mesmo jornal onde entregou o formulário para a secção “Contactos” publicou a foto na capa com o título “Jovem seropositivo homosexual com historial de drogas duras suicida-se em ritual satânico de zoofilia”. O anúncio dos minetes grátis foi publicado na mesma edição do jornal.
Há meia dúzia de anos atrás quando a Eon Productions pegou novamente em James Bond decidiu, por alguma razão, que iria definitivamente cortar com os filmes anteriores por serem demasiado imaturos e plebeus para os standards do ultra-realismo de que padece o cinema moderno. Decidiu fazer-se um reboot de modo a reenquadrar Bond nos standards cinematográficos actuais (a 2006), adaptando a primeira aventura do herói. “Uau”, reagiu o mundo, “Agora sim, sem fantochadas. Sóbrio, como eu gosto do meu Bond!”. Dois anos depois Quantum of Solace continua a saga, limpando o rabo às suas origens extravagantes de Bond. negando sequer a existência de Roger Moore de poncho prestes a entrar em órbita com dezenas de jovens virgens num plano de repovoar o planeta ou os satélites de destruição maciça de Ernst Blofeld e do seu gatinho persa Mr. Tiddles.
Não vou fazer a crítica a este filme, uma vez que se trata de um típico filme de gaja com uma pequena percentagem de Appatow, um imenso potencial para o deboche que depois nunca atravessa a linha do moralismo cristão, da máxima “não cobices a mulher do próprio” e a insuportável (e aparentemente inevitável) desfecho “love will conquer all”. Longe de mim querer questionar a horribilidade deste filme. O que aqui me traz hoje é a implicação das mamas CGI que as actrizes usaram neste filme, como alternativa à típica topless scene.
Uma das maiores ameaças à nossa felicidade é quando alguém nos quer desvalorizar as ilusões. Pequenas coisas que mantemos à tona da consciência sem forçar o raciocínio sobre as razões da sua existência, pois sabemos que se podem tornar tóxicas ou desinteressantes levando à desintegração de algumas das memórias de sensações que nos fizeram felizes. Isto acontece frequentemente a nós, os chorões dos anos 80, que encontramos em cada memória de infância uma caixinha de surpresas, que pode ser uma confirmação de algo realmente significante ou o constatar que andámos quase 30 anos a idolatrar uma bela poia de merda fumegante.
Facto: a puberdade é a fase mais dolorosa do crescimento. Quando as crianças começam a ter sensações estranhas, a relação com o corpo é de amor/ódio, tufos de pêlo populam áreas de de pele outrora caracterizada pela frondosa suavidade, o apocalipse dos pessegueiros (esgalhados)… É nesta fase que se forma a nossa personalidade e é uma fase que nunca corre bem. A razão de sermos adultos disfuncionais, descompensados e de humores irregulares nasce, em parte, pela falta de equilíbrio nessa fase crucial do crescimento. Mas não se preocupem porque somos todos assim, imperfeitos, incompletos. Há, no entanto, quem não se safe e se deixe engolir pelo ciclone hormonal e emocional do fast forward evolucional pre-teen. É nestes mares da extrema disfunção e desequilíbrio em todas as frentes que navega Excision, o freakshow do ano.
Um dos assuntos que mais largura de banda queima na Internet é “Qual a melhor trilogia?”. Defensores das várias facções batalham-se 24 horas por dias, desde os tempos das BBS e os modems de 9600 bauds, esgrimindo argumentos e tirando partido da sua melhor retórica para defender aquela que é, do seu ponto de vista, a melhor trilogia cinematográfica. Note-se que trilogia nos dias de hoje não é necessariamente um conjunto de 3 filmes, mas uma molhada deles que pode ir dos 2 aos 56. No entanto ninguém fala daquilo que é realmente importante que é saber qual a pior trilogia de sempre. Tendo em conta a subjectividade inerente a este tema, escolhi como pior trilogia de sempre o Crocodile Dundee. Para a semana pode mudar, mas esta semana odeio de modo figadal o Paul Hogan e as suas tropelias de parolo australiano em solo americano.
Nos anos 80 não havia Internet para as pessoas se rirem de patetices, então recorria-se a cassetes de anedotas que eram passadas de amigo em amigo numa rede social analógica de partilha. Eram cassetes sem dono, aventureiras com vida própria que numa semana estavam em casa do filho do padeiro e noutra estavam entaladas numa pilha de Playboys daquele puto esquisito que só vestia camisolas tricotadas pela mãe. As mais famosas eram de uma enigmática figura chamada Canty (O Cantinflas Português), numa homenagem de qualidade duvidosa ao célebre actor mexicano de comédia Cantinflas. Uma das anedotas de que me lembro melhor era do formato “Joãozinho” em que a professora faz perguntas e os alunos respondem. Neste caso a pergunta era “O que viram ontem na televisão?”. Os meninos responderam normalmente e no final o Joãozinho respondeu “Nós não temos televisão, mas o meu pai vai para o meio da sala dar peidos e a gente bate palmas e ri-se…”. Na altura não me ri porque nem sequer percebi o conceito de alguém juntar um grupo de pessoas em seu redor para os entreter com flatulência. Fastforward quase 30 anos para os dias de hoje e começo a compreender que dar peidos para uma pequena audiência familiar já não parece tão ridículo como antes e que poderá ser uma melhor alternativa de entretenimento do que 70% da programação de cinema/TV da actualidade.
Fui apanhado de surpresa pela dinâmica de V/H/S. Julgava tratar-se de um filme normal, com uma estrutura narrativa principal, um ou dois arcos secundários, etc. Na realidade V/H/S tem como conceito o encapsulamento de várias curtas metragens num contexto que evoca o mítico formato VHS. O fio condutor é um grupo de jovens que invade uma casa em busca de uma fita rara que lhes irá valer uma valente massa. Quando entram descobrem um cadáver num sofá a olhar para várias TVs que estão a transmitir estática. Por deficiência na descrição da sua missão, começam a ver as cassetes que lá estão até descobrirem se alguma encaixa na descrição “fita rara de incalculável valor de mercado”. Inicialmente ainda pensei que se tratasse do original Tomás Taveira (a cores), mas aquilo com que somos brindados é um dos maiores espectáculos de gore dos últimos tempos.
Em meados dos anos 90 usava as funcionalidades da recente Internet para alargar os meus horizontes cinéfilos. Finalmente estava livre das revistas pagas e fortemente parciais, os críticos mega-estelares com elevada auto-estima da imprensa nacional ou o Top Video na RTP1. Não havia ainda redes sociais, mas havia email e sites mono-página com gifs animados que rodavam a dizer “new” e “hot”. A IMDB dava os primeiros passos e ainda não tinha sido comprada pela Amazon. Um dos meus penfriends por email era um jovem sueco que partilhava comigo o gosto pelo cinema fantástico, terror e sci-fi. Trocávamos filmes em VHS. Eu preferia trocar filmes com suecos e holandeses porque eles também não dobravam os filmes, tinham legendas como nós. Eu mandava-lhe um anexos chamado movies.txt e ele devolvia com os que tinha e os que queria. Um dia esse meu amigo sueco (que não lembro o nome nem tenho o contacto) enviou-me um extra, um filme sueco falado em Inglês chamado Evil Ed. Ele insistiu por orgulho patriota que lhe desse prioridade e assim fiz. E foi assim que vi e revi Evil Ed, um tesouro sueco .
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