As minhas expetativas iam a zero no que a Lady Bird concerne. O filme Francis Ha, escrito pela realizadora Greta Gerwig, está-me ainda entalado nas goelas como uma casca de milho da farsolice. Aquela treta do mumblecore que assolou o planeta há 5 anos e a sua celebração do desconforto social ainda me afeta hoje. Isto de confundir doenças mentais com coolness é algo a que nunca me habituarei. E ali estava eu, preparado para ver Lady Bird sem saber nada do filme além da sua abominável genealogia.
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O hype é a unidade que os cinéfilos usam para quantificar a expectativa que antecede um filme. Bem, na realidade hype pode ser traduzido directamente por expectativa, mas por vezes precisamos de reservar uma conjunto de buzzwords para dar um extra-flair aos textos. Que em parolês significa “embelezar”. O hype também não é claramente quantificável, uma vez que vem em apenas três versões: muito, pouco ou nenhum. Ao hype damos frequentemente carga negativa porque nos estraga sempre a experiência. “Porque diziam que era bom e afinal fica a ligeiros milímetros de ser uma bela merda“. Porque se não for excelente é mau em sob condições de forte hype. Há o hype criado apenas pelo marketing eficaz da máquina publicitária do próprio filme e do seu exército de lacaios disfarçados de especialistas de imprensa e powerusers das redes sociais e há o hype das críticas hiperbolarizadas daqueles que viram o filme antes de nós e precisam de se vangloriar. O hype é como o colesterol. Há hype bom e hype mau. Há que saber distinguir para conseguir prever com alguma exactidão o outcome (buzzword para dar flair) da experiência cinematográfica. O mood que irá definir o mindset aquando do screening. Um amigo com quem temos afinidade cinéfila e no qual confiamos nas críticas e que gostou do filme pode ser interpretado como hype bom. Um parágrafo patrocinado pelas pensos higiénicos Bedhum na revista “Ana mais Atrevida” é hype mau. Uma publicação online ou um blogger independente pode ser hype bom. A esposa do homem do talho que foi esteve a passar a ferro e ouviu dizer o Goucha que um filme seria bom, é hype mau. E assim sucessivamente. Vem esta pequena introdução justificar o facto deste filme ter chegado atrasado ao meu ecrã e se fez copiosamente anteceder por um fluxo de hype capaz de evocar as mais poderosas metáforas menstruais .
Por cada filme de zombies fraquinho que é lançado, Lucio Fulci mata um gatinho do outro lado da tumba. Os filmes de terror que saem actualmente são praticamente todos maus. Os de zombies ainda pior. As causas já foram por várias vezes aqui expostas. A mais recente é esta invasão teenager à procura de emoção, as caldeiradas hormonais, as imaturidades emocionais de quem não tem um crédito à habitação para pagar ou de quem nunca teve que abandonar o idealismo pela lógica da sobrevivência. Warm Bodies pretende ser o outro lado dos filmes de Zombies, mas é na realidade uma mal disfarçada tentativa de sacar euros à conta de um Twilight com zombies coladinho ao cheirinho de Romeu e Julieta, porque quando se copia de uma obra de Public Domain não é plágio é adaptação livre.
A verdadeira arte do realizador é criar uma realidade diferente da nossa, uma realidade que tem características que permitem que os artifícios narrativos funcionem de modo fluente, que se criem condições para que coisas que possamos achar impossíveis se desenrolem sem problemas. Mais do que criar estas características é levar o cinéfilo a acreditar nisso de modo gradual, sem desconfianças, sem queixumes. Carpenter cria aqui um mundo que aparentemente não possui escadas para andares superiores, escapatórias para peões nas estradas ou a incapacidade humana de mudar de direção em campo aberto. Podia ser horrível, mas um carro com aquele estilo e personalidade absolve-o de todos os pecados e faz-nos sorrir de benevolência mesmo perante o mais impiedoso serial killer.
Quem viveu ativamente os anos 80 e sobreviveu trouxe consigo um cabaz de memórias bem avantajado. Umas boas, outras más, outras simplesmente nefastas. Com o tempo, a idade e a decadência natural do cérebro, algumas memórias vão ficando para trás e apenas um núcleo duro se mantém, como todos os filmes que consideramos clássicos. Ocasionalmente caem fora das nossas memórias alguns itens que o nosso subconsciente, erradamente, julga ser carga extra, inutilidades. Better Off Dead é um dos teen movies mais fabulosos dos anos 80 que parecem ter-se esfumado da memória colectiva dos 80s, injustamente afundado nas areias do tempo. Quer se goste ou não, o certo é que ninguém fica indiferente a um John Cusack imberbe a ser humilhado em público usando um kit de orelhas e nariz de porco.
Os anos 80 foram uma época muito conturbada para aqueles que, como eu, viveram lá parte importante da sua adolescência. Tão conturbada que eu só me senti preparado para enfrentar os anos 80 mais ou menos a meio dos anos 90, ali naquela altura em que Kobain se suicidou e a música passou a ser merdosa em todas as frentes e géneros. Todas as tentativas até essa altura para assassinar Bon Jovi falharam, incluindo aquelas que envolviam viagens no tempo. Isto explica o estado vegetativo/zombie do conceito clássico do Rock e todas aquelas cantorias pop que se ouvem actualmente na rádio onde não se consegue identificar um único instrumento musical ou outro qualquer som que não se parece com uma variação multitonal de um enxame de abelhas dentro de um latão de zinco.
Chegou finalmente aos cinemas a tão aguardada adaptação de Kick-Ass. Os leitores assíduos deste blog e aqueles que não sendo assíduos sabem usar um formulário de pesquisa perceberão que há muito que se fala por aqui em Kick-Ass. E o resultado é o que se esperava: um hino à ultraviolência feelgood com um agradável dose de humor negro bem equilibrada fazendo jus à velha máxima “I have come here to chew bubblegum and kick ass…and I’m all out of bubblegum.”
Megan Fox é um totem pós-moderno do culto da “sexualidade que está para vir”, tipicamente idolatrada por teenagers virgens que aquecem o pescoço em sua honra. É verdade que é bonita e sensual, mas para aqueles lados são todas bonitas e sensuais. Só que esta é sonsa, má actriz. O chamado monólito unidimensional. O que não se compreende é a frequência com que é usada como arma de arremesso a cada vez que se quer chamar às salas pubescentes no pináculo da crise hormonal cujo único medo é que a masturbação cause efectivamente cegueira.
A aproveitar a onda de sucesso, Michael J. Fox arrecadou tudo que conseguiu amealhar. Uma trilogia sucesso e um sitcom apreciada a nível planetário que durou 7 anos é mais que suficiente para escrever o nome entre as estrelas de modo permanente. Mas Fox pisou a bola nesta idiotice teenager que pode muito provavelmente ser a pior comédia juvenil que alguma vez viu a luz do dia. Um jovem descobre um dia que é lobisomem, o que é uma chatice na adolescência. Já não basta a insegurança, a erecção permanente, as manchas nos lençóis e o acne, tinha agora também de aparecer este aborrecido licantropismo.
Às vezes tentamos arduamente ver um filme bom e a desilusão apodera-se de nós levando-nos a gritar para os céus em desespero com os braços levantados. “Nããããõoooo! Porque é que todos os filmes que vejo são merdosos?“. Mas estas coisas do cinema são como o amor ou o fluxo mestrual: quando menos se espera lá está ele. E feliz foi o tropeção que dei neste filme, que apesar de não ser obra prima é uma maneira agradável de passar 90 minutos.
O comédia teenager de liceu já existia muito antes de American Pie. As “carcaças velhadas” da minha geração lembrarão concerteza a saga Porkies ou mesmo o injustamente esquecido Loose Screws. Apesar de serem exemplos de filmografia a martelo, são marcos de crescimento para quem viveu a adolescência ao seu ritmo. American Pie veio trazer para o mainstream a comédia sexual teenager, que começa frequentemente rebelde e acaba dentro dos limites do politicamente correcto, a roçar o puritanismo evangélico da sagrada preservação da virgindade. Mas até agora este tipo de filme sempre esteve contido dentro do brainless teen movie de elevada escatologia e comédia de “bater com a cabeça porta” ou o habitual peidinho despropositado. Até agora, disse eu.
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