Uma família de subúrbio muito feliz. Casa bonita e espaçosa, decorada de modo sóbrio e realista, uma existência idílica quebrada pela morte da mãezinha. “Oh, não! E agora?” Diz o pai aflito que estava tão bem na vidinha dele, afogado em trabalho, confiante nas largas costas da esposa que alombava sozinha todos os afazeres da casa. “Caraças, então, mas agora tenho que tomar conta da… aquela… como se chama? A minha filha e a irmã?” E é neste ponto que começa o filme, afundado na dor da perda e no luto. Luto, esse, que será pela pintelhésima vez personificado numa criatura escondida nas trevas que se alimenta da tristeza de quem não deslarga o osso da inquietação.
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A grande novidade do Nalgas Film Festival 2022 foi a inclusão de um grande convidado. Depois de meses de negociação, trocas avultadas de géneros, gado caprino e dinheiro vivo enrolado em elásticos, logística complexa para evitar que a sua multinacional encerrasse ao sábado, o Sr. Joaquim anuiu em comparecer como convidado de honra. À porta, alto e espadaúdo, pimpão, calças vestidas, fazia a recepção cerimonial dizendo aos convidados “bem vindos a casa”. Esta imagem de tamanho real foi criado pela Carla Rodrigues, a mãe do Sr. Joaquim, com as suas maravilhosas mãos de ouro que enaltecem o património das Nalgas. Também ela, a Carlucha, esteve presente no evento com estatuto de Nalga Dourada. Acabou por levar o Sr. Joaquim para casa ao final da noite, deixando o seu namorado, o Pedro, a dormir no sofá. Ninguém pode julgar porque todos nós faríamos o mesmo perante o apelo animal e a atração selvagem que emana hormonalmente pelos poros do Sr. Joaquim.
Continue readingHá dois artifícios narrativos de que não sou grande fã, o found footage e os esquemas manhosos que agora se vêem em todos os filmes de terror para retirar o telemóvel do filme. Da primeira apenas não gosto do formato, que após alguns filmes se torna repetitivo e os 90 minutos de duração parecem 180. Mesmo com todo o contorcionismo e mortais empranchados que se injetam nesse molde, é uma agonia para chegar ao fim, parece que as almofadas do sofá se vão transformando lentamente em xisto pontiagudo. Em relação ao artefato de remover o telefone da narrativa, é uma incapacidade dos argumentistas de se adaptarem aos tempos. Claro que é muito mais difícil resolver os aborrecimentos de ser perseguido por uma família de mortos vivos abusadores sexuais canibais mutantes quando não temos telemóvel. Mas ainda mais difícil seria se não tivéssemos energia elétrica, automóveis, antibióticos, capacidade de locomoção bípede ou utilização do córtex cerebral primário. Ou que ainda não tivéssemos saído da água e fossemos amibas perseguidas por Mosasauros. Falei sobre isso aqui (Artigo: Telemóvel, o terror dos filmes de terror.).
Continue readingTinha roupa para passar a ferro e acabado de obter acesso a uma conta da Filmin. Embirrei que tinha que a aproveitar. O Sr. Joaquim que tudo fornece nunca me deixa mal, mas ali senti o apelo burguês de consumir um conteúdo pago. Aquele permanente sensação de que é pago e é caro e, logo, melhor. Como os pacóvios que pagam dois ordenados mínimos por um telefone e depois nem sequer lhe instalam apps nem usam demasiado porque têm medo de estragar. E eu, de ferro de engomar na mão, carreguei no play deste Neil Marshall que me piscava o olho sedutor e caprichoso como uma ninfa de Homero, sedento de me ver rebentar os costados nas escarpas rochosas da ilha da morte de onde empinava o rabo.
Continue reading23h58m. Estava na hora. Como sempre nos últimos 30 dias baixei as calças, sentei-me no deprimente banquinho dentro da banheira, peguei no saco de sal, tirei um punhado e esfreguei os testículos durante 5 minutos à meia noite em ponto. “Meto-me em cada uma”, pensei. Sou transportado para o fatídico sábado há um mês atrás. Na sala de espera húmida, nervoso, com uma amiga. Garantia-me que só pagava se resultasse. Era infalível, todos o fazem. Fui chamado e entrei no escuro gabinete iluminado por uma cansada lâmpada de tungsténio que projectava fotões e anos 80. Contei a história à velha senhora, o que queria da vida. E o que queria era específico. Uma mulher que gostasse de ver filmes de terror comigo, que não me julgasse por ver maus filmes. E que mantivesse a opinião, não queria apanhar uma galdéria falsa que passados 3 meses me atiraria à cara que só vejo filmes de merda. A velha senhora sorriu, pegou nuns pós azulados e soprou-os na minha cara. Disse que era um caso muito simples, quase nem precisava de ajuda. Para acelerar as coisas pediu-me para esfregar os tomates com sal todos os dias à meia noite. No último dia, caso fizesse correctamente o ritual, apareceria alguém nestas condições. Eu disse à minha amiga que sou um homem de ciência, nunca me apanhariam em tal esquema ignorante feito para iludir pobres de espírito, que isto é como os maluquinhos que acreditam na terra plana ou extraterrestres e quando cheguei a casa esfreguei os tomates com sal como se não houvesse amanhã.
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Dr. Kuka Veludo fala-nos da sua ideia para um guião de terror, que envolve uma banda de black metal portuguesa nos anos 90. Sangue, medo e sacrifício humano naquele que é já um argumento na mira de todas as grandes produtores mundiais.
Música do Genérico: Servizio fotografico de Bruno Nicolai (1972)
Voz do Genérico: Rita Maldita
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Dr. Veludo explora a fenomenal fase inicial da carreira de Peter Jackson, com principal foco em Bad Taste.
Música do Genérico: Servizio fotografico de Bruno Nicolai (1972)
Voz do Genérico: Rita Maldita
Há duas coisas na vida às quais damos importância desnecessária. Temas que nos remoem o cérebro por dentro, que nos tiram o sono, que nos encharcam as noites de suor e nos fazem ponderar a existência com a pergunta obrigatória “Valerá a pena continuar?”. A primeira destas corrosivas ideias tem a ver com os filhos. Na gravidez, nos primeiros anos, na escola, no crescimento para adultos, em todas as fases nos questionamos constantemente acerca da sua saúde física, mental e social. De facto é só isso que queremos, um filho normal. Um malandrim que cometa as mesmas malandrices da média dos malandrins da sua idade. Não queremos desvios. E o certo é que os nossos filhos terão sempre uma peculiar varada na mona que nos faz sempre olhar para o âmago da nossa essência e concluir que de certeza é da parte da família da mãe. Ou seja, não vale a pena pensar se o nosso filho será normal, nunca é. E isso é bom. A segunda questão dilacerante que pode fazer implodir a própria sociedade e à qual a resposta é sempre não é “Desde que deixou de ser vocalista dos Muse, fará o Adam Scott* algum filme de jeito?”
Não é raro que alguns prodígios de áreas técnicas de Hollywood assumam o leme de projectos pessoais de modo a poderem expandir as suas capacidades, em vez de ficarem à mercê dos realizadores. Não costumam ser projectos rentáveis mas são quase sempre divertidos e memoráveis. Como Dark Crystal de Jim Henson e Frank Oz, Maximum Overdrive de Stephen King e este Pumpkinhead de Stan Winston.
Não há nada pior na vida que um gajo sentir-se um bardamerdas. Um gajo perceber que é um resto de uma bosta de cão agarrado à sola desta gigantesca bota cósmica onde viajamos pelo espaço/tempo. Talvez nem um resto de bosta sejamos, reavaliando a metáfora será mais apropriado dizer que somos um electrão de um átomo de carbono de uma molécula que compõe esse minúsculo pedaço de bosta. Como desejamos ser um pedaço de bosta a sério ou, sonhando muito alto, uma bosta inteira numa sola da bota celestial na qual estamos agarrados a viajar pelo espaço/tempo. Para que a humanidade possa sentir-se melhor existe a ficção e dentro da ficção o cinema. E dentro do cinema aquilo de que vos vou falar a seguir.
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Dr. Kuka Veludo explica porque Hellraiser é um filme superior e fala daquele mito urbano de Hellraiser e o Oscar para melhor filme.
Episódio 01 da sub-série “Terror esse género subvalorizado”
Música do Genérico: Servizio fotografico de Bruno Nicolai (1972)
Voz do Genérico: Rita Maldita
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Dr. Kuka Veludo explica as razões pelas quais o género de terror é um género superior e em como os seus fãs são os melhores cinéfilos.
Episódio zero da sub-série “Terror esse género subvalorizado”
Música do Genérico: Servizio fotografico de Bruno Nicolai (1972)
Voz do Genérico: Rita Maldita
Um dos exemplos que dou com mais frequência para ilustrar o aumento do custo de vida nos últimos 25 anos é a ida ao videoclube. Quando era jovenzito era bastante comum estar em casa à sexta, pedir ao meu pai para me levar ao videoclube para escolher um ou dois filmes. Domingo à noite lá estávamos para o devolver. O custo no orçamento familiar de uma destas operações era muito baixo, praticamente não se contabilizava o preço da gasolina. Estamos a falar de distâncias que podiam ir dos 35 aos 40 Kms, ida e volta. Hoje, se ainda existisse essa sagrada instituição que é o videoclube, o preço seria diferente. Vamos dar aqui um valor de 3.5€ por filme. Num carro normal, prevendo metade desse circuito em cidade, o valor do combustível seria aproximadamente 6 euros. Muita coisa mudou, coisas boas que nos aumenta a qualidade dos visionamentos. O que não existe já é ansiedade boa da antecipação de ir buscar os filmes. Sniff… Adiante, falemos de filmes.
Final de Outono de 1986, Quarta-feira, noite húmida e fria sem chuva. Fui o primeiro miúdo da minha rua a ter um videogravador e não tive que esperar muito para que um amigo seguisse o meu caminho. A partir daí criámos um poder avassalador, desconhecido nas redondezas até à data: copiar filmes do videoclube para os podermos manter até ao final dos tempos na nossa posse. E com isto começou a minha obsessão. Qual curador do MoMA, fui catalogando o produto daquela primitiva pirataria e comecei a fazer trailers dos que mais gostava. Ora, a minha ideia de trailer era meter as melhores partes em segmentos que podiam ir dos 2 aos 5 minutos. Normalmente de filmes hiperviolentos do pós-apocalipse e sempre com decapitações e intestinos expostos. Um dia chegaram à aldeia duas primas de Lisboa de um amigo que pensou que seria boa ideia, para as impressionar, irem a minha casa ver um filme do cinema. “O gajo tem lá filmes que podes escolher e ver o que te apetece. Até podes parar para ir fazer um xixizinho.” As sofisticadas jeitosas da metrópole sentaram-se e eu meti então a minha cassete de trailers para que pudessem escolher. Pensava eu, nos meus modestos inexperientes 14 anos, que os meus gostos eram os mesmos de toda a gente e se eu achava que era bom, todos achavam. Bem, erro fatal. Começaram a passar os clips de 2020 Gladiadores do Texas, Os Salteadores de Atlantis, Os Implacáveis Exterminadores e She A Raínha da Guerra e do Amor. E aquilo era tudo à base de freiras a ser violadas, motards decapitados, setas a atravessar crânios, pessoas trespassados por carros com espigões e muita gente a ser queimada com lança-chamas. Material do género deste post que publiquei há uns anos – The New Barbarians (1983) – Walkthrough. A cassete não chegou ao fim e a última frase que ouvi antes do bater violento e apavorado da porta da rua foi “Credo, que só cá tens cabeças!…”. Todos nos rimos nervosamente em tom jocoso com aquele desconhecimento que os rapazes adolescentes têm acerca das mulheres, e que continuam a ter até ao dia em que lhes ponham uma campa em cima. E perdemos a oportunidade de uma bela tarde de marmelanço e apalpanço, porque elas não queriam realmente ver filmes, queriam um lenho túrgido da província para afagar por cima das calças enquanto ficavam com os queixas dormentes de tanto intenso linguar.
A Empire Pictures foi uma produtora sediada em Roma que produziu alguns dos mais obscuros clássicos de videoclube. São suas produções tornadas culto como Re-Animator,Trancers, Ghoulies, Terrorvision ou From Beyond, mas também são seus os sórdidos Sorority Babes on Slimeball Bowlorama e Assault of the Killer Bimbos. A empresa esteve no activo entre 1983 e 1988 tendo atingo o seu pico em 1985 com êxitos de bilheteira e mercado de aluguer.
Deixo alguns posters dos seus filmes. Independentemente da qualidade cinematográfica, os posters são de uma luxuosa arte que já raramente se vê.
A Universal teve nos anos 30 a primeira vaga de cinema de terror comercial com direito a estrelas, sequelas, prequelas, spinoffs e a tudo a que hoje se designou chamar de “cinematic universe”. Deixo-vos alguns posters para os relançamentos em cópias restauradas que deverão começar a acontecer a partir do final de 2015
Há cerca de duas dezenas de anos saiu uma NewsWeek cuja capa é hoje motivo de chacota em todo lado que se fala de cinema. Dizia “M. Night Shyamanigans: Next Spielberg”. É verdade, procurem no google. Hoje isto pode soar a exagero, mas na altura tinha algum fundamento. M. Night Shimantics tinha acabado de realizar Sixth Sense e meio mundo tremia orgasmicamente perante aquele fim. Uau, carago, U-A-U! Este homem estava preparado para tomar o planeta de assalto. Ainda realizou Unbreakable com algum fulgor e começou a perder gás com Signs. Toda a gente queria gostar daquele filme, mas era merda. Já o gajo vivia do twist. “Ai ó pá, o twist”. Depois saiu Village e por esta altura já toda a gente se preocupava mais em procurar o caralho do twist do que ver o filme com atenção. Aliás, Midnight Shynanigans é provavelmente o assassino do twist narrativo em cinema. Já parece mal dizer twist, parece uma artimanha manhosa como dream sequence ou deus ex-machina. Mas não é, o twist tem arte e se procurarem há belas lista de frondosos filmes com twist. Agora chamam-lhe “reveal” para não se confundirem com a escumalha dos twist. Ora, a carreira do nosso amigo indian-american haveria de ver dias terríveis. The Lady in the Water, The Happening, The Last Airbender e After Earth arrastaram-no para a lista dos “realizadores putéfia“, os chamados tarefeiros. Bem pagos, grandes orçamento, o habitual freakshow ambulante que é a promoção de blockbusters. Porém o nosso amiguinho castanho-claro acabava as noites a chorar em posição fetal. “Valha-me Shiva e Ganesha. Tanto talento desperdiçado, meus deuses!” pensava. E com razão. O controlo artístico era-lhe completamente removido. Muito glamour, é verdade. Mas os filmes eram hediondos e o seu rabo latejava constantemente pela sodomia corporativa de que padecia diariamente.
O making of de uma cena icónica de Ghostbusters em que os técnicos de efeitos especiais aproveitam para acariciar as rijas carnes de Sigourney Weaver. Correu um rumor na Internet de que o gajo que lhe apertou uma mama era o marido dela. Não me parece, no entanto, que aquele meia leca penteado como um vendedor de automóveis fosse capaz de controlar esta toura endiabrada.
Há uns tempos escrevi o post “5 filmes tenebrosos para quem tem filhos” onde apresentei uma pequena amostra daqueles filmes que nos custa a ver a partir do momento em que pequenas e adoráveis criaturas criadas a partir do nosso material genético (opcionalmente) nos tomam conta do quotidiano. Filmes que antes se viam sem problemas mas que agora são difíceis de engolir porque a empatia é umas das características nucleares do que faz de nós humanos. Ora hoje venho falar-vos de algo ainda mais doloroso, filmes onde se matam crianças. Esta situação passava-me completamente ao lado quando não tinha filhos, afinal era mais alguém a morrer no meio de tantos que são apenas personagens de um filme, não é? Pois é! Mas a malta imiscui-se na trama e acaba por levar aquilo a peito, pelo menos enquanto o está a ver e depois de ter filhos é tramado. Para mim são particularmente dolorosos e mais vale um gajo falar das coisas que nos tiram o sono do que absorver tudo e passados uns anos atirar-se para baixo de um comboio ou levar meia procissão à frente com uma Kangoo a 120 km/h na festa da aldeia.
O hype é a unidade que os cinéfilos usam para quantificar a expectativa que antecede um filme. Bem, na realidade hype pode ser traduzido directamente por expectativa, mas por vezes precisamos de reservar uma conjunto de buzzwords para dar um extra-flair aos textos. Que em parolês significa “embelezar”. O hype também não é claramente quantificável, uma vez que vem em apenas três versões: muito, pouco ou nenhum. Ao hype damos frequentemente carga negativa porque nos estraga sempre a experiência. “Porque diziam que era bom e afinal fica a ligeiros milímetros de ser uma bela merda“. Porque se não for excelente é mau em sob condições de forte hype. Há o hype criado apenas pelo marketing eficaz da máquina publicitária do próprio filme e do seu exército de lacaios disfarçados de especialistas de imprensa e powerusers das redes sociais e há o hype das críticas hiperbolarizadas daqueles que viram o filme antes de nós e precisam de se vangloriar. O hype é como o colesterol. Há hype bom e hype mau. Há que saber distinguir para conseguir prever com alguma exactidão o outcome (buzzword para dar flair) da experiência cinematográfica. O mood que irá definir o mindset aquando do screening. Um amigo com quem temos afinidade cinéfila e no qual confiamos nas críticas e que gostou do filme pode ser interpretado como hype bom. Um parágrafo patrocinado pelas pensos higiénicos Bedhum na revista “Ana mais Atrevida” é hype mau. Uma publicação online ou um blogger independente pode ser hype bom. A esposa do homem do talho que foi esteve a passar a ferro e ouviu dizer o Goucha que um filme seria bom, é hype mau. E assim sucessivamente. Vem esta pequena introdução justificar o facto deste filme ter chegado atrasado ao meu ecrã e se fez copiosamente anteceder por um fluxo de hype capaz de evocar as mais poderosas metáforas menstruais .
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