Desde o dia em que vi pela primeira vez um daqueles macacos que dizia “Habla comigo, quiero ser como tu!” que me apercebi que os espanhóis são muito diferentes de nós. Enquanto que nuestros hermanos não desperdiçam ideias, aqui em Portugal as ideias não saem da mesa da esplanada, onde são inteligentemente apresentadas entre tremoços e minis, mas depois morrem. O cinema de terror deles está também entre o melhor do mundo e atrevo-me mesmo a dizer que este El Orfanato é o melhor desta década passada.
Espanha é já aqui ao lado, mas no espectro cinematográfico mundial encontra-se no outro extremo. Nós somos frequências de rádio AM e eles são raios Gama. Mas não gosto dos caramelos deles. Nem do torrão de Alicante, nem sequer dos chocolates que sempre me pareceram meio falsificados. Uma honrosa excepção: os Conguitos… A charcutaria deles é superior, acreditem ou não. Exemplos? O Chouriço Ibérico ou o presunto de vitela. Hey, eu odeio o Corte Inglês com mais força que ninguém, mas quem pode ignorar uma cinematografia que tem estes realizadores: Pedro Almodóvar, Guillermo del Toro, Álex de la Iglesia, Alejandro Amenábar, Jaume Balagueró ou Santiago Segura? Só para nomear aqueles que acho verdadeiramente geniais.
El Orfanato roda em volta de uma das temáticas mais assustadoras do cinema de terror, as crianças. Passado num orfanato encerrado, confronta os fantasmas de brutalidades passadas com o desaparecimento de uma criança na actualidade. Envolvido numa das atmosferas mais aterradoras que já vi, lado a lado com o exorcista, El Orfanato vive de um argumento riquíssimo em detalhe e sumarento em conteúdo.
Na realidade estamos mal habituados ao cinema americano. Nos filmes de fantasmas temos a cena inicial, meia dúzia de morte à laia de enche-chouriças e o final aborrecido e terrivelmente previsível. Às vezes temos um twist, mas costuma ser merdoso e despropositado. Aqui não existem tempos de narrativa morta, é sempre full-on.
A cinematografia é densa, negra e tipicamente espanhola. Uma fotografia exemplar, planos geniais e o uso de camara como personagem a acompanhar lentamente a acção, a contar a sua própria versão da história. Tecnicamente é um prodígio.
Outra coisa que gosto no cinema espanhol no geral, são as actrizes. Tudo bem que não sabem falar sem ser aos gritos por causa daquela chatice de não terem as vogais fechadas. Mas há uma sensualidade nas actrizes espanholas, que curiosamente não tem projecção nas espanholas “de rua”. Mas é mais ou menos como nos morangos com açúcar. Se porventura puserem os pés num liceu a sério, parece que lá passou uma epidemia de acne, a percentagem de balofas está muito acima do aceitável e há por lá cabelo que nunca viu pente…
Só posso dizer que concordo absolutamente! um dos meus filmes de terror favoritos. Tugas, ponham os olhos nisto!
Só para corrigir um pormenor que escapou. O Guillermo del Toro é mexicano e não espanhol como foi rederido. De resto, o post está 5 estrelas.
Tenho de ver este filme…
Pois, tens razão. Falha minha essa do Guillermo. A minha vasta equipa de revisores irá ser severamente punida à força de chibatada!
Em defesa do redactor, devo dizer que não sendo espanhol, Guillermo del Toro, está intimamente legado com o cinema vizinho. Pelo menos o “El Espinazo del Diablo” e o “El Laberinto del Fauno” são produções espanholas.
Penso que os espanhóis assimilaram muito do know-how trazido pelas equipas italianas que nos anos 60/70 para ali foram produzir os seus westerns. E a partir daí foi sempre a evoluir, seja no drama, terror ou até porno!
Eu adoro o cinema espanhol, e como ávido coleccionador de westerns-spaghetti, outra coisa não seria de esperar!
E quem se pode esquecer daquela obra prima que foi o “Dia da besta”? 🙂
Realmente os espanhois no que toca a cinema estão no melhor que se faz pelo mundo! E as espanholas também são bastante jeitosas óó 😀
“El dia de la Bestia”. Que filmão. Aí está algo que tem que ser relembrado brevemente.
A propósito de tão mui nobre referência a “El día de la Bestia” fui novamente rever essa pérola. Epa, que coisinha fenomenal. Sabe bem do princípio ao fim. Buenísimo.
“Que lo aproveche, padre.”