Há cerca de duas dezenas de anos saiu uma NewsWeek cuja capa é hoje motivo de chacota em todo lado que se fala de cinema. Dizia “M. Night Shyamanigans: Next Spielberg”. É verdade, procurem no google. Hoje isto pode soar a exagero, mas na altura tinha algum fundamento. M. Night Shimantics tinha acabado de realizar Sixth Sense e meio mundo tremia orgasmicamente perante aquele fim. Uau, carago, U-A-U! Este homem estava preparado para tomar o planeta de assalto. Ainda realizou Unbreakable com algum fulgor e começou a perder gás com Signs. Toda a gente queria gostar daquele filme, mas era merda. Já o gajo vivia do twist. “Ai ó pá, o twist”. Depois saiu Village e por esta altura já toda a gente se preocupava mais em procurar o caralho do twist do que ver o filme com atenção. Aliás, Midnight Shynanigans é provavelmente o assassino do twist narrativo em cinema. Já parece mal dizer twist, parece uma artimanha manhosa como dream sequence ou deus ex-machina. Mas não é, o twist tem arte e se procurarem há belas lista de frondosos filmes com twist. Agora chamam-lhe “reveal” para não se confundirem com a escumalha dos twist. Ora, a carreira do nosso amigo indian-american haveria de ver dias terríveis. The Lady in the Water, The Happening, The Last Airbender e After Earth arrastaram-no para a lista dos “realizadores putéfia“, os chamados tarefeiros. Bem pagos, grandes orçamento, o habitual freakshow ambulante que é a promoção de blockbusters. Porém o nosso amiguinho castanho-claro acabava as noites a chorar em posição fetal. “Valha-me Shiva e Ganesha. Tanto talento desperdiçado, meus deuses!” pensava. E com razão. O controlo artístico era-lhe completamente removido. Muito glamour, é verdade. Mas os filmes eram hediondos e o seu rabo latejava constantemente pela sodomia corporativa de que padecia diariamente.
M. Night Chiamané decidiu entregar-se de corpo e alma a um projecto que pudesse chamar seu. Criou este The Visit de raiz, como um filho biológico. Não daqueles que se tem porque a gaja ficou com o dinheiro do aborto para comprar uma televisão e depilar-se a laser. Um filho que se cria desde o nascimento, que se molda pelo nosso amor e sofrimento. Um pequeno legado que deixamos no planeta. Com controlo completo, pago com as suas finanças, N. Might Shyamalan reentra no cinema para recuperar aquele velho título de novo Spielberg.
The Visit conta-nos a história de um casal de irmãos que vai conhecer os seus avós maternos pela primeira vez, depois de uma separação de 15 anos. Mergulhado em drama familiar tipicamente Spielberguiano, o filme vai desenvolvendo entre o “coming of age movie” e o drama familiar até entrar no terror. O meu primeiro torce-narizes aparece logo no início com o estilo “found footage”. Não é bem, bem, bem found footage puro, mas é uma variante clonada. Não é que seja mau, eu é que já não tenho paciência. Assim que um filme arranca em found footage, faz-se imediatamente cercar por um sem fim de limitações que nos fazem adivinhar quase toda a estrutura. Aguentei porque… porque não? Estava a ser interessante.
E de facto The Visit é um filme interessante, pelo menos é o melhor de Nightindale M. Syamlavitch desde Unbreakable. Chorem o que quiserem porque gostaram de The Village e Signs, mas isso não os torna bons filmes. As performances aqui são inesperadamente sólidas, os miúdos aguentam bem o filme sozinhos, o equilíbrio é interessante, balanceado entre o terror e o humor. O ambiente em geral é convidativo para um belo serão de cinema. Não precisa de efeitos especiais para acelerar o batimento cardíaco.
Há também uma bela atenção ao detalhe e o guião é um tricotado muito apertado. O que é insinuado no início faz sentido no meio, as características dos personagens são chamados à frente, coerentes, pequenos detalhes fazem sorrir a quem não esteja de smartphone em riste. Os pormenores mais arrepiantes são bem ritmados e o avançar aos soluços mantém-nos de nervos à flor da pele.
[poderá aparecer o eventual SPOILER daqui para baixo]
O problema no filme está na maneira como gere a tramoia nos dois primeiros actos para conduzir à tal revelação no início do terceiro acto. O twist. É forçado, ignorando as mais básicas leis e convenções do relacionamento humana para nos encaminhar àquela tal situação que ninguém estaria à espera. Ou devo antes dizer, aquela situação que toda a gente cheirava a quilómetros porque, bem… porque é M. Night Shynyballs. A partir desse momento em que o filme vira sobre si, tudo muda. Qual Poseidon narrativo. E muda para mal, quando deveria mudar para “O MAL”. Havia aqui abertura para épica perversão demoníaca nunca aproveitada. A solução de continuidade escolhida pelo realizador é, na minha opinião, pouco apropriada para dar fim a esta obra. Resumindo, dois actos a forçar, último acto a estragar.
Ainda assim é um bom regresso à forma. Um regresso ao seu público natural e aos sucessos. Da ninharia que investiu no filme, tem feito o milagre da multiplicação adivinhando-se futuros filmes nestes moldes mais aconchegantes para todos aqueles que, como eu, gosta de sinceridade acima de tudo.
(estou a brincar. a sinceridade nunca levou ninguém a lado nenhum. pelo menos a um lado que seja decente e não uma fossa de miséria e decadência humana. "ah, mas mantém a integridade", dizem vocês. que se foda a integridade. tenho um primo chamado Vitor que se entregou à polícia por causa da integridade e está agora preso enquanto um ex-vizinho mora na casa que ele pagou a usar a o massajador de pés que o Vitor comprou a prestações e a foder-lhe a esposa todos os dias).
Pelo menos levará o prémio de avó com melhores nádegas de sempre. Isto dito por um gajo que não se excita com velhas. Quem é que se excita com velhas? Malta doente, é o que é…
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