BvS-d

Fez agora 3 anos que escrevi um texto entitulado “Porque deixei de ver filmes de super-heróis“ em que expliquei a razão que me levaria, à altura, abandonar o género blockbuster de heróis de borracha negra e licra nadega adentro. A razão principal, para que não tem paciência para chafurdar na minha psicanálise, era o facto indiscutível de que eu não me enquadrar no público alvo. “Não és tu, sou eu!”. Acontece que o destino haveria de se encarregar de me chutar os tomates poucos dias depois, quando o meu filho me pediu para ver os Avengers. Mais que isso, queria que lhe explicasse toda a história que está para trás, uma vez que uma criança de 5 anos não tem tempo para backstories. Quando o miúdo recuperou a consciência das duas bofetadas que lhe administrei em fúria não justificada e perfeitamente gratuita, lá comecei calmamente a explicar-lhe o pouco que sabia. Postura confiante, voz firme e o cérebro sob efeito de um blister inteiro de calmantes. Bem sei, não se faz e será a minha sina passar a fase vegetal da minha terceira idade num lar a cheirar a urina e solidão.

O tempo passa e estamos em 2016. Recusei ir com ele ver o Batman V Superman ao cinema por birra. O raio do miúdo não quis acompanhar o seu pai ao Star Wars porque não gosta. Nunca se dignou a ver mais de 2 minutos de um filme e não gosta, pfff… O que mais me chateia nisto é que agora nunca lhe poderei dizer que o Force Awakens é uma merda, porque terei sempre que fingir que fui sozinho com muito orgulho e ele nem sabe o que perdeu. À semelhança dos pais que fumam às escondidas dos filhos, também terei que passar uma vida de negação a fingir que Star Wars da terceira trilogia é uma obra essencial para a saudável geekidão do jovem milenial.

Fomos ao Sr. Joaquim e alugámos a edição especial do Batman V Superman. Tivemos que separar em duas partes, porque crianças não se deitam à meia noite e pais de família não estão em casa de dia. Partir um filme destes em duas partes acaba por ajudar à experiência porque primeiro despachamos logo a parte má. E depois no segundo dia já só temos que ver a parte muito má. A coisa mais positiva a apontar a este filme é que não é tão mau como o Man of Steel. Por outro lado todos os filmes são melhores que o Man of Steel, mesmo o Pretty Woman e o Jaws, the Revenge. Bolas, até o Superman IV, The Quest for Piss é melhor.

BvS é um filme disconexo, uma sucessão de cenas que não encaixam. Sente-se frio e sem alma, vazio de conteúdo, como uma esposa troféu que tem uma vida de luxo e ao adormecer só pensa em suicidar-se por ter acabado de chupar novamente uma pila frouxa. A edição não é suficientemente competente para fazer uma obra com coesão, as cenas nem parecem todas do mesmo filme. Se calhar nem são. Dá a sensação que a DC tinha 6 filmes merdosos da sua primeira fase do Universo CInematográfico, percebeu que era terrível e que nem para mostrar naquele canal só para cães servia. Fizeram um mashup num único filme e cagaram na continuidade, coesão e integridade estrututal (e narrativa). Aquela cena do Robin (será?) que é um sonho em que ele diz morreu virgem e o batman acorda em pânico porque não é bem verdade. Ele é que não se lembrava de onde vinham aquelas dores no rabo devido às drogas que o Batman lhe metia na Coca-Cola.

Talvez porque a DC queira acelerar o passo com o seu Universozinho Cinemático ou pura inépcia de Zack Snyder, esse farsolas. É como quando dás dinheiro a um adolescente para comprar livros para a escola e o passe do autocarro e o gajo torra o dinheiro todo em ganza e revistas porno. Não me vou alongar no Snyder, esse farsolas, porque já o fiz muitas vezes e duvido que haja alguém entre vocês capaz de honestamente dizer o inverso.

A narrativa é infantil. Dou apenas como exemplo três coisinhas que se interligam. O plano de Lex Luthor é aquele habitual super complicado plano que vive das coincidências e da capacidade de prever o futuro para funcionar, no esquema Blomfeld exageradamente complexo e rebuscado em meios e detalhe. A razão pela qual os heróis se chateiam, que é truque do vilão, é também infantil. “Isso não se faz, vais apanhar tautau. Quem pensas que és? Tens que ser controlado! Ai ai, vamos lá ver vamos lá ver…”, dizem os dois. E, para finalizar, a maneira como se tornam amigos. O superhomem chora e diz o nome da mãezinha. E o outro tem uma mãezinha com o mesmo nome. Quase todas as pessoas da minha idade têm mães chamadas Maria. A próxima vez que estiver a apanhar no focinho porque me esqueci de pagar a quotas do União de Coimbra posso sempre tentar dizer “Maria, Maria…”. Se não funcionar continuo a inventar nomes. A minha mãe nem sequer se chama Maria. Mas bom, se o Snyder acha que chega, é porque chega.

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Fiquei surpreendido com o Batfleck. Eu não suporto o Ben Affleck, é ódio visceral. Às vezes explica-se porque tem um mau papel outras vezes é mesmo aquela focinheiro que me dá vontade de comprar um saco de boxe. Não esperava ver um Batman tão desiquilibrado e agressivo. Aquela insanidade e violência descontrolada excitou-me um pouco. Porque pela primeira vez o Batman cumpria o seu papel na perfeição. E que soube sempre manter a gaita nas calças, longe das câmaras, o que vai contra a natureza de Ben Affleck. A Supermulher é interessante, belas carnes, boa pose, carinha laroca, pouco roupinha, nota-se que está habituada ao frio. No entanto completamente fora de contexto, assim como aquele email a explicar que existem mais super pessoas que super poderes. Hey, e aquele Aquaman? Era capaz de jurar que também lá vi o CagalhãoDeCãoMan, num plano de 3 frames, agarrado à sola de sapato do Bruce Wayne.

E com isto chegamos ao fim, para mais um festival do pixel. A única coisa que aliviava a dor era aquele violoncelo eléctrico no tema musical da Wonder Woman. O Lex Luthor desnecessariamente insano abanava os braços e ria à Dr. Evil, apesar de haver sempre um cartaz nas mãos de Snyder que dizia “Não és o Joker, calma!”. Toda a sequência da criação da besta má que destroi cidades é também como aqueles livros do professor Pardal em que ele vai á sucata e faz duas máquinas do tempo e um foguete que atravessa a galáxia e regressa antes de jantar. E na próxima história começa tudo do principio ignorando completamente a destruição e as falhas permanentes do contínuo espaço-temporal criado pela brincadeira do Prof. Pardal. Aqui é igual, o Super-Homem morre mas depois na Comic Con apareceu em todos os posters e trailers do League of Justice.

E durante toda a duração do filme tentei ao máximo meter-me na pele de um fanboy ou de uma criança que aceita tudo. O puto não gostou muito do filme, muita coisa lá enfiada em simultâneo, muita pergunta. E eu é que levei com essa sessão de esclarecimentos.

No fim vimos o The Flinstones. Adorou e já o voltou a ver 2 vezes. Yaba Daba Du.

batflins