A minha rotina de standup: Um jovem agricultor, um serralheiro mecânico e um decorador de interiores entram num bar. Pergunta o serralheiro “O que é que sexo anal e comer a sopa têm em comum em Fermentelos?”.Uma criança de 5 anos que se encontrava a lavar pratos pergunta “O que é sopa?”. Todos riem e o agricultor diz “Vá diz lá! O que têm em comum?”. Responde o serralheiro “São ambos obrigatórios antes de ir para a cama”. Todos voltam a rir muito e o decorador diz indignado “Sou de Fermentelos e não sei se concorde”. E pergunta o puto que estava a lavar pratos “Então porque é que não te consegues sentar?”. As freiras desatam a rir e os miúdos do orfanato batiam palmas se as algemas o permitissem. Um alce vestido inteiramente de cabedal deixando apenas o anus exposto faz o barulho de um peido com a boca e as gargalhadas são tão ensurdecedoras que até os surdos aprisionados na cave as ouvem.
Hoje em dia há duas coisas que toda a gente tem, um tio no Facebook que nos provoca extremo embaraço e uma conta de Netflix. E tal como o tio, também a conta poderá não ser nossa, foi um familiar que a arranjou. E esse espírito de Netflix tem materializado no mundo real o mais vil dos conceitos, o binge watching que já aqui uma vez falei.
Fazer binge de uma série é como “fazer amor” bêbedo com uma gaiata que conhecemos numa discoteca de verão e nunca mais voltámos a ver, ficamos com uma vaga ideia do que fizemos mas não nos lembramos do detalhe. Ver uma série ao longo dos anos, com longos períodos de inactividade pelo meio e com a maior parte dos episódios decepcionantes e/ou deprimentes é como estar casado, uma transposição realista da rotina conjugal. No entanto ninguém se esquece destas séries, mesmo quando bate o Alzheimer e a única coisa que fica no consciente é essa série que vimos durante anos, a decepcionante rotina matrimonial e uma receita de bacalhau à Gomes de Sá que acabámos por nem fazer.
Para mim o Netflix tem sido quase só especiais de Standup. A própria plataforma já me avisa sempre a cada vez que sai um especial novo. Vejo todos, apesar de por vezes fazer um pouco de frete.
Mas há uma coisa que me faz pagar o Netflix, os especiais do Dave Chappelle. Só isso vale o preço da subscrição. A superior capacidade de criar narrativas, o timing cirúrgico, o ritmo perfeito, a discussão de temas relevantes e sensação de impunidade que parece existir por poder abordar os assuntos fracturantes sem se deter perante este novo puritanismo vingativo facebookiano que pende sobre nós. Não é SJW friendly, é só o que vos digo.
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