Desde 24 de Junho de 2003

Tenet (2020)

Mais um almoço sozinho, mais uma lata de atum. Enquanto o gato lambe as gotas de óleo de girassol que respingam da lata de atum marca branca do Lidl por entre os seus dedos tensos, um homem enfurecido olha pela janela. Lata vazia, dedos esbranquiçados da tensão. O som do ronronar é interrompido por um suspiro furioso e asmático deste senhor em fúria. Já a semana não tinha começado bem, quando a alfândega lhe confiscou o conjunto de espadas Kill Bill que tinha encomendado de Singapura, agora começam a chegar críticas negativas a Tenet. “Quem é que esta gente pensa que é?”, pensou. “De certeza que é bom, quem o viu e é boa gente gostou. De resto são haters. Os mesmos que criticaram o Dunkirk e o Inception. Sempre os mesmos. O Dunkirk ainda não vi, mas não passa deste mês. O Tenet vejo amanhã, já tenho bilhete.

4 da tarde. Adia o banho para amanhã, passa desodorizante nos sovacos. “Estas meias não estão sujas, ainda dão”. Mete-se no Metro em direção à sede do Partido Popular onde arrisca uma candidatura pelo círculo de Lisboa. Não conseguia deixar de matutar nas palavras daquele crítico “Valerá a pena investir 300 milhões num filme baseado nos rabiscos num guardanapo de um bêbedo que acabou de descobrir as maravilhas dos palindromos num video do youtube? E depois snifou uma linha de coca e achou que palindromos de tempo seria um conceito fácil de vender a um exercito de acólitos que não questiona?

17h, lambe o creme do Palmier recheado dos dedos gordos enquanto repara que agora as palhinhas dos pacotes de leite com chocolate são de papel, “Que giro. Vou mandar uma mensagem à Clara a dizer isto. Ainda pode ser que responda. Ela gosta de cães e tem aquele autocolante do IRA no carro”. Mas logo volta a obcecar com a língua viperina daquele crítico “Os diálogos são de guionista amador que só sabe replicar o que vê nos outros filmes, pueris e levam-se demasiado a sério ao ponto de parecer uma paródia. Nolan tem os meios, sabe visualizar e fazer chegar à tela a visão. Tiros e bombas, perseguições e rotações em torno de vários eixos das 4 dimensões. Mas sem uma história que lhes dê sentido é apenas entulho visual, rebuçados para o olhar. Não se percebe nada porque o filme é confuso. Não é complexo nem complicado, é mal escrito, propositadamente deixado confuso por complexo de deus.

19h, acaba a sagrada Coca-Cola do final de tarde. “Não me venham com merdas de que Coca-Cola Zero sabe igual à outra que não é verdade.” Consultava o telemóvel para constatar mais uma vez a falta de mensagens da Clara. E matutou novamente naquela review que o enlouquecia. “Então mas o mestre Nolan não disse para nos preocuparmos em entender o filme e apenas em sentir? E vem este suposto crítico que nem sequer escreve para jornal nenhum nem nunca fez nenhum filme dizer que o Nolan não sabe escrever guiões nem nunca soube e que inicialmente essa inaptidão gerou alguma confusão a que alguns cinéfilos interpretaram como genialidade, por estar mal explicado.”

21h, Big Mac em menu grande e Wrap à parte. “Este filme veio para salvar o cinema”, pensou, “como Jesus Cristo veio para nos libertar dos pecados. Questionar a sua genialidade é embarcar em ser Hater por opção. E aquele vacão a dizer que é o Stanley Kubrick dos Fast and Furious… Sinceramente… Ela sabe lá o que é um Fast and Furious? Nunca viu nenhum, de certeza. Um inculto que nem sequer os clássicos essenciais vê. Gostei muito do Seis, tomara lá esse Kubrick fazer assim filmes. Em vez daquelas bostas paradas com gajas de mamas pequenas a fumar. Se fosse um filme a preto e branco de cinco horas dos anos 40 do Carqueijão Soviético aposto que estes críticos lhe lambiam as bolas por baixo.”

1 Comment

  1. Jaoa

    Porra, mas que coisa tao fantástica. Muitos parabéns pela criatividade

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