Um dia os irmãos Coen ofereceram ao George Clooney um saco de arroz. Um arrozinho do mesmo que eles usam, de qualidade, do melhor que se come por aí. Ofereceram-no cru, note-se. Deram-lhe umas receitas de como o cozinhar bem e o Clooney lá foi todo contente para casa com aquele saquinho de arroz. Chegado ao lar, tira uma panela da gaveta e mete-se a cozinhar. Com falta de experiência no ramo do cozinhar arroz, Clooney enche a panela de arroz até ao topo. Além disso mete-lhe todos os condimentos que tem na prateleira das especiarias, só para dar mais sabor e para agradar a todos. Quando a água começa a ferver, o arroz começa a subir e a sair da panela. Clooney, aflito, ajusta a temperatura, remove algum arroz para outra panela. Bom, no final fica com um arroz meio merdoso e com sabor demasiado intenso e sem identidade, com a cozinha numa lástima e com um sms dos irmãos Coen a dizer que para a próxima só lhes mandam dois ovos para estrelar.
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As minhas expetativas iam a zero no que a Lady Bird concerne. O filme Francis Ha, escrito pela realizadora Greta Gerwig, está-me ainda entalado nas goelas como uma casca de milho da farsolice. Aquela treta do mumblecore que assolou o planeta há 5 anos e a sua celebração do desconforto social ainda me afeta hoje. Isto de confundir doenças mentais com coolness é algo a que nunca me habituarei. E ali estava eu, preparado para ver Lady Bird sem saber nada do filme além da sua abominável genealogia.
O efeito Mandela é um chavão usado muito na Internet para definir aquelas situações em que nos lembramos erradamente de coisas que nunca existiram, como se existissem num universo paralelo. Foi assim baptizado porque se associava a pessoas que se lembravam vividamente que Nelson Mandela teria morrido na prisão. A mim aconteceu em duas situações recentemente e sempre relacionadas com cinema. A primeira foi ao ler o livro Ready Player One. O nosso protagonista citou a expressão “Oh my God it’s full of stars” dizendo tratar-se de uma frase do filme 2010. Ora, que raio! Tinha quase a certeza que era do 2001. A frase que o Dr. Dave Bowman diz ao entrar no campo estrelado como novo humano no final do filme. Curiosamente aparece no livro, que também li. Aparece depois em maior proeminência no 2010, livro e filme. Ah caraças, andei a citar mal toda a minha vida.
Há duas coisas na vida às quais damos importância desnecessária. Temas que nos remoem o cérebro por dentro, que nos tiram o sono, que nos encharcam as noites de suor e nos fazem ponderar a existência com a pergunta obrigatória “Valerá a pena continuar?”. A primeira destas corrosivas ideias tem a ver com os filhos. Na gravidez, nos primeiros anos, na escola, no crescimento para adultos, em todas as fases nos questionamos constantemente acerca da sua saúde física, mental e social. De facto é só isso que queremos, um filho normal. Um malandrim que cometa as mesmas malandrices da média dos malandrins da sua idade. Não queremos desvios. E o certo é que os nossos filhos terão sempre uma peculiar varada na mona que nos faz sempre olhar para o âmago da nossa essência e concluir que de certeza é da parte da família da mãe. Ou seja, não vale a pena pensar se o nosso filho será normal, nunca é. E isso é bom. A segunda questão dilacerante que pode fazer implodir a própria sociedade e à qual a resposta é sempre não é “Desde que deixou de ser vocalista dos Muse, fará o Adam Scott* algum filme de jeito?”
Uma das conversas que tive recentemente com o meu filho revelou-se um pesadelo paternal. Na sequência de um conjunto cirúrgico de elaboradas perguntas cheguei à catastrófica conclusão que o miúdo não tem interesse por ficção científica. “Como é que isto é possível?”, pensei. Quer dizer, parece-me humanamente impossível alguém não gostar de ficção científica, esse género nobre das artes narrativas. Star Wars? Nada. Star Trek? Quê? Desenhos animados nos canais de putos com temas de ficção científica? Nenhuma. Temática sci-fi no Netflix? Nem lhe toca. Nessa noite adormeci em posição fetal banhado em lágrimas. O pontapé furioso com o dedo mindinho descalço num canto bicudo na cómoda não ajudou a aliviar a dor. “Então é isto que tanto falam, na desilusão de um pai que criou um filho para nada.”. Chorei no ombro da minha esposa. “Tenho quase a certeza que não é nada disso.” Respondeu-me ela. “Eu também não gosto de ficção científica.” Incrédulo, gritei num tom agudo e pueril. Senti uma das chávenas da coleção Space 1999 a rachar com a frequência. “O… quê???? E os filmes que vimos?”, perguntei furioso. “Menti. Fingi. Pronto, está dito!”
“Onde estavas aquando da chegada dos extra-terrestres?” será a pergunta mais feita pelos terráqueos naquele intervalo de 3 semanas que separa a chegada dos nossos amigos do espaço sideral e a obliteração total da vida na Terra. E como nos preparamos para isto? Será possível executar essa preparação sem parecer um tolinho da conspiração? É na continuação deste simulacro conceptual que Denis Villeneuve assenta o seu exercício imaginado materializado em filme semi-blockbuster de época baixa Arrival.
Para continuar este ciclo de amor e romance, nada melhor que Timecop. Um filme rude e mal limado, é certo. Abrutalhado, como se fosse pedido ao mais hábil relojoeiro suíço para fazer um relógio fino usando apenas um maço de madeira, molas de colchão do ferro velho e 239 rublos do Turquemenistão. É no entanto um filme cujo combustível é o amor, a procura pelo doce aconchego do quente afecto, o regaço de uma mulher amada, um beijo molhado, uma cama suada. Só que à força do bofetão.
L’amour, toujours l’amour. Um homem tem que fazer ocasionais sacrifícios por amor. Não estou a falar em deixar a esposa pisar-nos escroto com sapatos de salto alto, manter o sorriso parvo ao levar com um strapon no cu ou ter acompanhá-la nas compras. Falo em pequenas cedências, as pequenas coisas nos fazem sair da bolha de conforto. Esta semana iniciei um pequeno ciclo com a esposa, numa altura mais descansada em que as crianças passam uns dias com os avós. Um ciclo de comédias românticas, vejam lá! Resolvi dar-lhe o nome “Mete-se Agosto”. E para começar fomos raspar o fundo dos contentores bolorentos do Netflix e repescámos uma pérola poeirente esquecida pelos tempos de seu título “ Life as We Know It” de 2010.
Há cerca de duas dezenas de anos saiu uma NewsWeek cuja capa é hoje motivo de chacota em todo lado que se fala de cinema. Dizia “M. Night Shyamanigans: Next Spielberg”. É verdade, procurem no google. Hoje isto pode soar a exagero, mas na altura tinha algum fundamento. M. Night Shimantics tinha acabado de realizar Sixth Sense e meio mundo tremia orgasmicamente perante aquele fim. Uau, carago, U-A-U! Este homem estava preparado para tomar o planeta de assalto. Ainda realizou Unbreakable com algum fulgor e começou a perder gás com Signs. Toda a gente queria gostar daquele filme, mas era merda. Já o gajo vivia do twist. “Ai ó pá, o twist”. Depois saiu Village e por esta altura já toda a gente se preocupava mais em procurar o caralho do twist do que ver o filme com atenção. Aliás, Midnight Shynanigans é provavelmente o assassino do twist narrativo em cinema. Já parece mal dizer twist, parece uma artimanha manhosa como dream sequence ou deus ex-machina. Mas não é, o twist tem arte e se procurarem há belas lista de frondosos filmes com twist. Agora chamam-lhe “reveal” para não se confundirem com a escumalha dos twist. Ora, a carreira do nosso amigo indian-american haveria de ver dias terríveis. The Lady in the Water, The Happening, The Last Airbender e After Earth arrastaram-no para a lista dos “realizadores putéfia“, os chamados tarefeiros. Bem pagos, grandes orçamento, o habitual freakshow ambulante que é a promoção de blockbusters. Porém o nosso amiguinho castanho-claro acabava as noites a chorar em posição fetal. “Valha-me Shiva e Ganesha. Tanto talento desperdiçado, meus deuses!” pensava. E com razão. O controlo artístico era-lhe completamente removido. Muito glamour, é verdade. Mas os filmes eram hediondos e o seu rabo latejava constantemente pela sodomia corporativa de que padecia diariamente.
– O senhor, por acaso, sabe quem eu sou?
– Paiziiinho!
– Não, não. Sou um drama familiar em formato de telefilme. Coincidentemente passa-se em pleno apocalipse zombie e protagonizado por Arnold Schwarzenegger.
– Eh lá! Isso é que deve ser matar, esquartejar, decapitar, sangue a jorrar, tripas arrastadas pelas ruas, prédios em chamas, exércitos a bazucar hordes de milhares de zombies pelos ares, a destruição de uma cidade grande americana no terceiro acto, motosseras a…
– Erm… Sim… Não! Não é bem assim. É mais silêncio, contemplação, sofrimento interno, escuridão…
– Escuridão como em “trevas”, a negridão dos tempos, o desespero de se ser mastigado vivo por uma matilha de mortos vivos enquanto se lhes arranca metade do torço a tiro de caçadeira de canos serrados?
– Não. Mais em falhas de electricidade e problemas na infraestrutura de distribuição de alta/média tensão.
– Oh diabo! E vai ser o Arnie a conseguir reconstruir rapidamente toda essa destruição graças à sua capacidade física de super-humano e a uma experiência avançada que não se aprende nos livros para grande humilhação dos jovens superiores hierárquicos que pensavam estar perante um velho caquético que no final lhes salva o dia?
– Não, a infraestrutura mantém-se inalterada durante toda a duração do filme.
-Nem mamas?
– Nada…
Há uns meses comecei a ver Into The Void de Gaspar Noé. Não sendo muito acessível é, sem dúvida, um grande realizador. O filme estava-se a compor, boa introdução e buildup, muito bonito, muito bem realizado. Etéreo, colorido, modernaço. Planos gloriosos, cenas compostinhas, representação cinema 2.0 com o típico toque de hiper-realidade, abundância de belas mamas, coisas que enriquecem sempre a experiência cinematográfica. Ora, rapidamente este filme resvala para a mais deprimente miséria infligida a duas crianças num flashback se torna a coluna vertebral de todo o filme. Não é um mero momento de passagem, o Noé usa-o como cavalo de batalha, espanca-nos com o conceito. Quis o acaso do momento que esse casalito de irmãos que sofre as mais nefastas bofetadas do destino tivesse a mesma idade dos meus dois filhos mais velhos. “Foda-se, não aguento esta merda!”, pensei. “Que peso aterrador, difícil de respirar…”. Imediatamente carreguei no STOP, só que estas coisas não desaparecem assim. Até a minha mulher me perguntou que cara de carneiro mal morto era aquela e eu respondi prontamente “Nada, continuo viril com um talhante prussiano.” Durante dias aquelas visões atormentaram-me. Olhava para os miúdos a brincar e pensava nas pobres crianças do filme. Acabou por desaparecer com o tempo mas o certo é que há filme difíceis de ver quando temos filhos. Filhos que sabemos existir e que amamos. Não me estou a referir a bastardos que ficaram no ultramar ou daquela galdéria a quem demos 80 contos em 1986 para ela ir fazer um aborto e ela guardou o dinheiro para comprar uma televisão a cores, teve o puto e apareceu 18 anos depois a pedir dinheiro para a faculdade quando o puto afinal até era repositor de stocks no Minipreço e nunca tinha passado da terceira classe.
Ontem foi dia do Pai e eu tive o privilégio de almoçar com o meu. Um almoço normal sem sentimentalismos sazonais. Não foi marcado pela solenidade do dia, foi fruto das tropelias do destino. Falámos de futebol (em termos leigos para eu perceber), de saúde, de cinema e das séries que ele agora vê. Falámos dos netos, da família, dos cães, dos gatos, do preço do frango ser exorbitantemente baixo ao ponto de se dever desconfiar da qualidade para consumo público, dos morangos que plantou só porque os netos gostam de os apanhar e comer “au naturel”. Já não moro com ele há quase 20 anos, não estou longe, mas é cada vez mais complicado apanhar assim um momento. Já não é o mesmo tipo de pai que era nos anos 80, é agora um orgulhoso avô. O meu pai nunca deixou a família para passar a noite com os amigos, nunca se negou a ler-me legendas de filmes completos antes de eu saber ler, contra a vontade da minha mãe atrasou-me várias vezes a hora de deitar para que pudesse ver o The Incredible Shrinking Man, o King Kong ou o Tarantula de 1955. O meu pai ofereceu-me uma metralhadora de aspecto realista que era a inveja dos putos todos da rua. Levava-me ao cinema itinerante lá do lugarejo todos os domingos, religiosamente. “Olha que ele é novo demais”, dizia a minha mãe. “Não lhe há-de fazer mal nenhum!”, respondia ele sem nenhum pedo-psicólogo a infernizar as ondas hertzianas para o contrariar. Acompanhava-me e aos meus amigos nas futeboladas e deixava-me marcar-lhe golos quando estava à baliza. Foi o meu primeiro grande amigo, o original Bro. Ainda o é, mesmo com as azáfama das nossas vidas. Não somos lamechas nem falamos de paneleirices. Só coisas de homem. Ferramentas, técnicas recentes que vieram revolucionar a tradicional matança do porco e da noite de natal em que nos baldámos à missa do galo para ver o Predator 2. Vê-lo a ser assim com os meus filhos faz-me parar o tempo mentalmente para apreciar aqueles momentos. Mesmo que tenha que disfarçar a emoção quando a minha mulher me pergunta porque estou ali parado a olhar para ontem se há ainda tanta louça para por na máquina. Tem as melhores ferramentas e aparece sempre que há alguma tarefa mais bricolática para fazer, mesmo sem eu pedir.
Por esta altura poderiam dizer-me que o próximo filme do Wes Anderson se iria chamar “Dermatite Seborreica – O filme” que eu ia ver sem pestanejar. Poderiam dar-me um bilhete tirado directamente do intestino de uma vaca, ainda fumegante e húmido que eu pegava nele para ir ver o filme. Carago, até podia ser a adaptação do clássico de Eurico A. Cebolo “o Falo Perdido”. Eu ia… Mas eu não estava realmente preparado para que o próximo filme de Wes Anderson fosse uma animação para a família.
Imaginem um Frankenstein moderno a construir uma gaja. Faz-lhe um corpo escultural, maminhas torneadinhas e rabiosque que desafia a gravidade. Sempre a trabalhar com tempo e dedicação. Uma jeitosa de proporções épicas, com coeficiente de “levanta pau” a rondar os 98%. E depois mete-lhe uma cabeça de cavalo à pressa, colada com fita cola para despachar o trabalho. A sensação final seria mais ou menos a mesma deste filme.
Long time ago in a galaxy far, far away at 7AM.
Boa tarde. A efeméride idiota que hoje se celebra é o “Fim de Semana Zombie”. Como tal vamos abordar a temática zombie em várias frentes, começando pelo cinema, onde falaremos animadamente do pouco convencional Fido, filme de zombies que é uma crítica à escravatura e à exploração ilegal de emigrantes, além de ser uma engraçada fonte de simbologia sanguinária e carnificina em geral. Depois disso será abordada a temática zombie na banda desenhada e na música com o qualidade a que vos habituei… Nenhuma! E não, não falarei do “Zombie” dos Cranberries porque não sou uma pessoa emocional e não estou a atravessar nenhum ciclo mestrual…
Fica aqui um retrato de família pintado numa feira medieval em Hrasskis, no sector Farlax. Foi numa das raras ocasiões que Chewbacca teve de passar 15 dias de férias com a família. Nos quadros atrás da família está a única foto conhecida do casamento de Chewbacca. Consta que num arrufo familiar o sogro de Chewbacca terá queimado todas as fotos do casamento antes de se imular em chamas como forma de protesto contra a presença de Han Solo num concerto de Tony Carreira.
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