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Whiplash (2014)

Whiplash-Scream

Nos meus tempos de jovem descomprometido e de ir para onde o vento sopra fui baterista e tive algumas bandas, não necessariamente por esta ordem. Eram tempos de grande azáfama, nos anos 90 centenas de pequenos bares e clubes competiam entre si para ter bandas ao vivo que era isso que a malta gostava. Viver um centésimo do que se vivia na latejante noite de Seattle. Eu não era do tipo rockstar, pelo contrário. Era aquele baterista soturno e cabeludo que servia de técnico de som, transporta caixas e tratava de minimizar os estragos porque as condições nunca eram as prometidas. Isto enquanto o vocalista aproveitava a carrinha vazia para brincar ao esconde o martelo com duas noviças inebriadas facilmente impressionáveis. Entretanto abandonei por razões profissionais, mas o que vivi marcou-me para sempre. O músico que quer ter carreira é uma pessoa obcecada. Alguém que quer chegar ao topo da sua área. Mesmo o facto de saber de antemão que nunca o conseguirá não o irá demover de tentar. Os músicos mais empenhados tornam-se assim em ermitas num estado de quase permanente autismo. A música é a única coisa. É o caminho, a vida e o amor. Melhorar, ser melhor, ser o melhor, progresso diário. Anos depois de abandonar a arte percebi que podes largar a bateria mas a bateria nunca te larga a ti. Um baterista, ou um baixista e percussionista, vive em ritmo. Tudo tem um ritmo e é a ele que obedece. Procura padrões, está em estado de permanente batuque, seja com lápis, dedos, pés, seja em reuniões com a administração, funerais, em conversas que deviam estar a prestar atenção. É uma maldição.

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Big Trouble in Little China (1986)


Big Trouble in Little China

O filme de aventuras tem sido um género bastante maltratado nos últimos tempos. Vítima da complacência intelectual que não arrisca narrativas mais ousadas para os projectos mainstream, os filmes de aventuras dos últimos dez anos apostam tudo nos efeitos especiais, perseguições automóveis e nas explosões deixando de parte a intriga e suspense narrativo. O medo atrás de cada porta, o desconhecido, a mais completa imprevisibilidade. São os elementos eliminados em troca do conforto do template narrativo e dos efeitos especiais higienizados digitalmente. Mas tempos houve, meus pequenos amigos, tempos houve em que o filme de aventuras era o rei das salas, o catalizador de sonhos adolescentes, o que nos fazia suportar a horribilidade dos tempos. Falo-vos hoje do maior entre os maiores, Jack Burton e os seus grandes problemas em Chinatown.

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Safety Not Guaranteed (2012)

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Em Outubro de 1997 um jornalista do Backwoods Home Magazine foi incumbido pelo seu chefe de encher os classificados com anúncios inventados para ocupar o espaço que estava em branco. O homem, John Silveira, inventou dois anúncios, que seriam suficientes para o efeito. Um dos anúncios era de natureza sentimental, “homem sério procura mulher para relação duradoura, [dados genéricos]…” e a outra dizia o que está na foto que ilustra este formidável artigo: “Procura-se: Alguém para viajar para o passado comigo, isto não é uma brincadeira. (…) Tem que trazer as suas próprias armas, não se garante segurança, só fiz isto uma vez.”  No dia seguinte recebeu quatro cartaz de resposta ao anúncio sentimental, uma delas de um homem. Ao anúncio da viagem do tempo recebeu centenas. E a partir daí continuou a receber diariamente cartas até aos dias de hoje. Milhares e milhares de respostas de pessoas para viajar no tempo, a maior parte delas com propostas sérias de quem tem esperança de emendar as suas agruras com um passeio ao passado. História verdadeira que pode ser facilmente confirmada online, até pelo próprio autor do anúncio aqui.

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A Very Harold & Kumar 3D Christmas (2011)

Imensas discussões têm incendiado a Internet acerca de qual será a versão masculina do filme de gaja. Será o filme de acção? O porno? O bromance? A comédia escatológica? O disaster movie? Na minha opinião, nenhum destes. A versão masculina do filme de gaja é, indiscutivelmente, o stoner movie. Porque é que as mulheres adoram comédias românticas? Porque projetam todas as fantasias e sonhos que nunca verão concretizados, porque as ajuda a acreditar num futuro melhor, um futuro onde não apanhem de cinto, não sejam trocadas pela mamalhuda que trabalha com o namorado ou num futuro em os seus companheiros não lhes forcem dedos no anus. O stoner movie é o pináculo da fantasia masculina. Uma vida livre de compromissos e aborrecimentos mundanos, onde cada um cede apenas aos seus instintos mais básicos sem se preocupar com dinheiro, problemas conjugais e familiares, saúde ou pormenores legais. Seja sexo e drogas ou Playstation e Coca-Cola, sejam mulheres, homens ou cavalos, seja escalar os Himalaias ou passar fins de semana no sofá a ver estática com preguiça de levantar o rabo para mudar de canal. É o sexo masculino primordial.

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O Anel de Noivado

trioodemira

1991, Agosto em Monte Gordo. Tinha acabado de recuperar a consciência daquilo que vim mais tarde a saber ser um black out de 21 horas. Parecia ser uma festa de Verão e milhares de respeitosas donas de casa vibravam libidinosamente ao som de uma banda em palco. Demorei algum tempo a perceber o que se passava, o som enrolado em flanger e um forte sabor a laca Fiero que parecia escorrer em bica pelo esófago não ajudavam a melhorar a percepção. Cedo percebi que os Trio Odemira tocavam Anel de Noivado e fui apanhado desprotegido no meio das suas harmonias hipnóticas e na execução perfeita de uma música que já na altura era um velho clássico. “Inundada no seu pranto. O seu vestido vai molhando, Ao chorar de amor por mim”, cantavam imperturbáveis pelos gritos histéricos, desmaios e apelos ao deboche adúltero. “Faz-me um filho”, gritava uma octogenária semi-nua estranhamente atraente que parecia acariciar-se ao meu lado. Não sei se foi do álcool, das drogas ou de uma cataplana de peixe que não me caiu nada bem, mas senti um capacete de eletricidade estática a massajar-me as têmporas, como tentáculos de ondas alfa e impulsos de telequinese,  e os edifícios pareciam ondular ao ritmo dengoso dos baladeiros alentejanos. Anos mais tarde, depois de ter visto recusada uma proposta de tese de final de curso sobre os Trio Odemira e das terapias de eletrochoque se terem revelado inúteis para apagar esta memória parasita, aprendi a viver com ela e hoje vou partilhar convosco o potencial cinematográfico de tão melosa balada.

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High Fidelity (2000)

Existe uma fase das nossas vidas em que, definitivamente, High Fidelity é o filme preferido. Aquela fase em que jogamos as últimas cartadas no jogo da sedução, quando queremos acumular o record do mundo da poligamia ao mesmo tempo em que nos queixamos que não encontramos o verdadeiro amor. É um fase de depressão moderada, curada à custa de coito ininterrupto, drogas leves e o ocasional coma alcoólico. Não percebemos o que realmente queremos e estragamos tudo com o típico egoísmo pré-trintão. E é aqui que entra High Fidelity, o manual de instruções para o jovem e celibatário  trintão, o caminho para a bonanza depois da tempestade. Um filme do tempo em que oferecer um CD gravado com capa a cores contava como prenda a sério.

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The Adventures of Buckaroo Banzai Across the 8th Dimension (1984)

O género cinematográfico “alienígena escaganifobético” não é um exclusivo dos últimos anos. Cada época, cada cinematografia ou onda tendencial tem os seus exemplares. The Adventures of Buckaroo Banzai Across the 8th Dimension é um delírio dos anos 80, uma obra de tão genial bizarria que não podemos evitar fazer constantemente a pergunta “Como é que alguém autorizou tal coisa?”. Rock star, neurocirurgião, físico quântico, herói da banda desenhada e aventureiro. Apresento-vos Buckaroo Banzai, herói nipo-americano capaz de salvar o planeta Terra das garras dos demoníacos seres da oitava dimensão, todos chamados John.

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Get Him to the Greek (2010)

Nos anos 80 o humor era dominado pelos irmãos Zucker e pelos seus alucinados filmes propulsionados a Leslie Nielsen, lenda da comédia que há pouco nos abandonou. Nos anos 90 os irmãos Farrelly dominavam o mercado com filmes desvairados com excesso de fluidos corporais para o gosto de toda a gente. Nos dias que correm o humor mainstream americano parece ser dominado comercialmente pelas comédias Apatow, uma espécie de Saturday Night Live 2.0 que vive  do excesso de explicações para situações banais da condição humana, de  desconforto circunstancial e da aproveitação abusiva de substâncias alteradoras de consciência. Comum a todas estas épocas estão os artifícios narrativos desonestos e excessivamente reciclados, o problema é que eu estou a ficar velho demais para achar piada a um badocha drogado a enfiar uma bola de cocaína no cu depois de se ter vomitado para cima do seu próprio casaco.

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The Rocker (2008)

A nostalgia dos anos 80 não é um exclusivo nacional, como se pode facilmente perceber pelo conteúdos de entretenimento com que somos bombardeados ultimamente. Se inicialmente era o simples revivalismo, sem justificação, hoje em dia começam a aparecer estratégias ardilosas para nos enfiarem aqueles malvados anos casa adentro. Daí a razão de existir de Rocker, um filme de Jack Black  sem Jack Black. Durante 90 minutos Hair Metal e Glam Rock misturam-se com pop rock Hanna Montana, adultos convivem com adolescentes a roçar o limiar da legalidade, e música horrível cruza-se com… bem, com mais música horrível. The Final Countdown dos Europe também está lá presente, mas desde que os Europe foram cabeças de cartaz no Festival do Marisco 2010 de Olhão pode-se dizer que não há lugar onde os Europe não estejam.

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Cop Out (2010)

Fosse este filme realizado por um monte de merda qualquer e eu teria escarrado e mijado por ele abaixo e seguiria a minha vida imune ao seu inerte sentido de humor e à sua estéril contribuição para a historia da 7ª arte.  Acontece que o realizador deste filme não é um monte de merda qualquer. É um monte de merda especial que já realizou alguns dos meus filmes preferidos, criou alguns personagens que venero e já foi ele próprio um icon da cultura junkie/geek vestindo a longa gabardina de Silent Bob. Estou a falar, obviamente, de Kevin Smith, esse gordalhufo que sabemos capaz de produzir genialidade, e que no entanto parece andar perdido num inferno de tarefeiro hollywoodiano a fazer um filme, que à sombra do conceito das “homenagens”, é na realidade um exemplo de unidimensionalidade amorfa que lhe pode valer o prémio “Era atar-te os tomates à traseira do comboio das 9 e dizer-te adeus com um lenço branco”.

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Hot Tub Time Machine (2010)

Fazer um filme de viagens no tempo é mais complicado do que pode parecer à primeira vista. A maior parte do argumento é fácil. Alguém do presente vai para o passado e vive tropelias relacionadas com o anacronismo inerente à própria situação ou vice versa. O mais complicado é mecanismo narrativo que impulsiona essa mudança. Tem que ser o mais realista possível, tendo em conta que ainda não há viagens no tempo. Um exemplo é Back To The Future. 1, 21 Gigawatts de energia e um capacitador de fluxo serviram para vender a viagem aos cinéfilos. Há também a maneira preguiçosa de mandar a lógica às urtigas e usar o objecto que está mais à mão, porque isso de ciências e físicas é extremamente aborrecido. Neste caso foi um jacuzzi, podia ser um garrafão de 5 litros de vinho tinto, um garfo ou meio leitão da Bairrada. E sim, eu também gostei da cena da gajas das mamas que mostro aqui na imagem.

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The Exorcist (1973)

Corria o ano de 1987. Meados de Julho. Já havia passado mais de um mês de férias grandes e a euforia lentamente se transformava num quase imperceptível tédio. Suave, mas a ganhar força. Eram 4 da manhã e eu, o meu amigo Zé  e o meu primo João regressávamos de um baile de uma aldeia vizinha, onde fomos na esperança de ver pelo menos uma cover de Judas Priest ou Ramones. Recusamos várias danças e o balanço da noite resumiu-se a dois apalpões e a promessa de um aquecimento de pescoço lá mais para o final da semana. Chegados a casa decidimos meter um VHS alugado no dia anterior. O exorcista… Duas horas depois três teenagers apavorados jaziam imóveis num sofá, sem pestanejar, quase sem respirar, a esperar pela luz do dia. Só com os primeiros raios de sol ganhámos força nas pernas e o sangue voltou a fluir com naturalidade. Até ao dia de hoje continua a ser uma das experiências mais aterrorizantes da minha vida.

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Let The Right One In (2008)

Longe vão os tempos em que a única coisa que apreciávamos da Suécia eram as gémeas Inga e Helga todas embezuntadas com óleo de coco a lutarem entre si por atenção masculina usando para o efeito um inexistente par de cuecas e os seus viçosos e anti-gravitacionais seios. Eles também produzem um cinema de muito boa qualidade, pautado pela bela cinematografia semi-descolorada e a curtíssima profundidade de campo. Let The Right One In é o filme que impede que Thirst (de Chan-wook Park) seja o melhor filme de vampiros que vi nos últimos 10 anos…

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Anvil! The Story of Anvil (2008)

Arrancar dos esgotos do esquecimento velhas glórias injustiçadas pelas falácias do destino e mugir a vaca emocional que habita dentro de nós não é nada de novo. Já foi feito em filmes de Stallone ou Eastwood ou muito recentemente em “The Wrestler”. Mas agora assumidamente em formato Documentário vemos a velha glória do Speed Metal do início dos anos 80 a tentar a sua sorte neste mundo cruel da música moderna.  E se há muita nostalgia e humor também há drama suficiente derreter a carapaça mais dura do metaleiro mais hardcore.

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Taking Woodstock (2009)

Biografias ligeiramente modificadas para encaixarem em modelos pré-definidos de cinema ou “baseado em eventos verdadeiros” são coisas que aprecio. Eu não quero saber como foi a triste realidade, quero as coisas apimentadas para encaixarem nas minhas expectativas, nos meus preconceitos, naquilo que eu imagino ser a realidade ficcionada das regras de uma narrativa saudável. Tristezas bastam as minhas e as desgraças que tenho que aturar diariamente perante a possibilidade de mandar tudo para, e passo a citar, “o caralho que os foda”, porque depois faltam-me fundos para manter a minha habitação na minha posse, para alimentar a minha família e para comprar parvoíces de que não preciso e de que já me estou a arrepender antes de comprar, mas que mesmo assim não consigo evitar.

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Teen Wolf (1985)

A aproveitar a onda de sucesso, Michael J. Fox arrecadou tudo que conseguiu amealhar. Uma trilogia sucesso e um sitcom apreciada a nível planetário que durou 7 anos é mais que suficiente para escrever o nome entre as estrelas de modo permanente. Mas Fox pisou a bola nesta idiotice teenager que pode muito provavelmente ser a pior comédia juvenil que alguma vez viu a luz do dia. Um jovem descobre um dia que é lobisomem, o que é uma chatice na adolescência. Já não basta a insegurança, a erecção permanente, as manchas nos lençóis e o acne, tinha agora também de aparecer este aborrecido licantropismo.

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The Men Who Stare at Goats (2009)

“Homens que matam cabras só com o olhar”. É este, meus amigos, o título português de “The Men Who Stare at Goats”. Não concordo com a tradução, mas provavelmente foi a única frase de que se conseguiram lembrar que tivesse a palavra “Homens” e a palavra “Cabras” que não invocasse de imediato um imaginário de zoofilia ou um exército de pastores a arrombarem traseiros caprinos à força de vara carnuda. Ainda bem que não tenho nada a ver com isso porque, sinceramente, também não me vem à cabeça nenhuma tradução que não seja igualmente merdosa.

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Sunshine (2007)

Há aproximadamente um ano atrás decidi ver o Sunshine de Danny Boyle. Sentei-me no sofá de telecomando em riste e carreguei no play. Passados 5 minutos aconcheguei-me lateralmente naquela que me pareceu ser uma posição mais confortável. Mas não era! Se me deixasse descair levemente e permitisse que a cabeça pudesse encaixar na parte lateral do sofá seria melhor. Agora sim, deitado, confortável. Aos 10 minutos de filme senti um quentinho reconfortante. Passados uns segundos estava eu a passear com uns cordeiros fofinhos numa estrada de arco-íris por meio de umas nuvens quando ouço uma enorme explosão e uma música estranha. Acordo assustado. Estavam a passar os créditos finais. Merda!

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