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Hot Tub Time Machine (2010)

Fazer um filme de viagens no tempo é mais complicado do que pode parecer à primeira vista. A maior parte do argumento é fácil. Alguém do presente vai para o passado e vive tropelias relacionadas com o anacronismo inerente à própria situação ou vice versa. O mais complicado é mecanismo narrativo que impulsiona essa mudança. Tem que ser o mais realista possível, tendo em conta que ainda não há viagens no tempo. Um exemplo é Back To The Future. 1, 21 Gigawatts de energia e um capacitador de fluxo serviram para vender a viagem aos cinéfilos. Há também a maneira preguiçosa de mandar a lógica às urtigas e usar o objecto que está mais à mão, porque isso de ciências e físicas é extremamente aborrecido. Neste caso foi um jacuzzi, podia ser um garrafão de 5 litros de vinho tinto, um garfo ou meio leitão da Bairrada. E sim, eu também gostei da cena da gajas das mamas que mostro aqui na imagem.

Posto de parte esta incómodo menor que são os princípios físicos da viagem no tempo, eis que os nossos personagens são transportados para os anos 80, para uma altura em que viveram o pico da sua juventude. E eis mais um problema com que detectado ultimamente: os anos 80 nos filmes e na cultura popular… Em primeiro lugar deixem-me que vos diga que vivi os anos 80. Tinha entre 7 e 17 anos nessa década, perdi a minha virgindade, comprei vinil e gravei cassetes. Não tinha um Walkman porque era caro. Tinha uma imitação com um som reles. Tinha um ZX Spectrum e um pressão de ar com a qual matava animais de pequeno porte.  Comprei aquele que é até à data o melhor album de todos os tempos (Master of Puppets) e participei numa queimada de discos de Rod Stewart e Julio Iglesias. Bem, estão a perceber onde quero chegar com isto.

O problema dos anos 80 nos filmes recentes é que tendem a condensar todos os icons dessa década em pequenas fracções de filme. Por exemplo, neste Hot Tub Time Machine há uma cena quando eles chegam ao passado e entram num bar em que durante 5 minutos se condensam todos as imagens iconográficas dos anos 80, todos os clichés e tudo aquilo que se convencionou associar aos 80s. Muitas dessas coisas eram exclusivas dos videoclips, mas com o esquecer dos tempos foram sendo coladas à própria realidade. Daí para a frente deixei de percepcionar o filme como uma obra de ficção plausível, ainda que cómica e ainda que tenha uma viagem no tempo, e percebi que se tratava de um sketch do Saturday Night Live. Um sketch longo, com 100 minutos, em que todos os momentos são criados para parodiar a situação em que os personagens se encontram em vez de se concentrar no filme como um todo.

Será, portanto, um filme de memória de peixe, feito para ser apresentado em aviões ou em locais em que as pessoas vão fazendo mais coisas e não se possam dedicar em exclusivo a ver o filme. Um stoner movie para os stoners do princípio dos anos 90, aqueles que ficaram eternamente presos nos tempos de Wayne’s World, Bill and Ted. Atenção que esses são filmes que gosto e que admiro, mas têm que ser contextualizados à época em que saíram.

Posta de parte a hipótese de uma narrativa minimamente interessante resta-nos esperar que o humor tenha realmente piada, como é o seu significado no dicionário. Não, sem piada. Poderia ter se alguém tivesse o bom senso de o ter tornado menos previsível. Porque previsibilidade temos nós. E em barda. Os personagens que se odeiam e no final tornam-se grandes amigos, o monte de merda detestável que se redime, o sermão moralmente aceite do ponto de vista judaico-cristão no final e os romances a martelo para não desmoralizar as gajas.

De notar a presença sempre irritante dos Poison e dos Motley Crue, bandas que me invadem os pesadelos ainda hoje. Um bem haja para o par de mamas da cena que vos mostro em cima. Fossem elas duplicadas em formato almofada e a esta hora estava eu numa loja de atoalhados de cartão de crédito na mão a gritar voz alta “Dê-me três!…”.

4 Comments

  1. Andreia Mandim

    Li atentamente :)…ainda não vi o filme, mas parece-me que tens razão. Já vi o trailer há algum tempo e já aí achei péssima a ideia e muito forçada e cliché.
    continuação de bom trabalho!;)

  2. Pedro Pereira

    Malditos anos 80. Que musica detestável! Que roupas!
    Arghhh!

  3. Dora

    Já fiz um post sobre este filme. Nem o consegui ver todo.
    Primeiro filme que me acontece com o Cusack.

  4. Cristiano Contreiras

    Este não conhecia…mas, só pelo Cusack já vale…parabéns pela proposta, estilo e contexto do blog!

    te linkei ao meu!

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