Nos anos 80 o humor era dominado pelos irmãos Zucker e pelos seus alucinados filmes propulsionados a Leslie Nielsen, lenda da comédia que há pouco nos abandonou. Nos anos 90 os irmãos Farrelly dominavam o mercado com filmes desvairados com excesso de fluidos corporais para o gosto de toda a gente. Nos dias que correm o humor mainstream americano parece ser dominado comercialmente pelas comédias Apatow, uma espécie de Saturday Night Live 2.0 que vive do excesso de explicações para situações banais da condição humana, de desconforto circunstancial e da aproveitação abusiva de substâncias alteradoras de consciência. Comum a todas estas épocas estão os artifícios narrativos desonestos e excessivamente reciclados, o problema é que eu estou a ficar velho demais para achar piada a um badocha drogado a enfiar uma bola de cocaína no cu depois de se ter vomitado para cima do seu próprio casaco.
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Correio dos leitores: Querido cinemaxunga, há uns tempos o meu marido pediu para lhe meter o dedo no ânus enquanto fazíamos amor e ele disse nunca ter tido um orgasmo tão intenso como nesse dia. Passados um dias pediu-me para ser mais audaz e uma coisa levou a outra e a semana passada os vizinhos chamaram a policia e levaram-nos o casal de contorcionistas vietnamitas especializados em casais, um anão malabarista, um touro mecânico de marca Virix com as extensões Falix 2 e GigaFalus, um conjunto de buttplugs com crina de cavalo em forma de monumentos nacionais e um pé de borracha com meia perna (modelo realista Cristiano Ronaldo com 3 modos de vibração). Tivemos que passar a noite na prisão, coisa que não nos teria incomodado não fosse uma corrente de ar incómoda e persistente. Percebemos na altura que deviamos ter comprado os fatos em cabedal e em vez de PVC que deixa passar o frio. Tivesse trazido a chave das algemas e poderia ter ajudado o meu marido que se viu impedido de protestar devido a um bocal de bola asfixiante (com ventilação assistida, obrigatório pelas leis da UE) e coleira com trela que os polícias insistiram que mantivesse para as fotos. A minha dúvida é: vale a pena ir ver o Scott Pilgrim ao cinema? Ou devo esperar por um dengoso domingo à tarde na TVI?
Por muito amante do cinema que se seja, há sempre que ponderar o que se assoma perante nós. Quando um filme se insere num determinado template percebemos claramente o rumo que os acontecimentos vão tomar. Temos duas opções. O filme é bom e queremos ter o prazer de o ver todo ou dá para perceber que vai ser o mais degradante espectáculo que alguma vez vomitado por um ecran. Apesar do tempo perdido parecer relativamente inócuo à altura em que o gastámos estupidamente, um dia vamos estar a sobrevoar o Atlântico e o piloto avisa que o avião se vai despenhar em chamas numa zona infestada de tubarões e pensamos em tudo o que podíamos ter feito e não fizemos e no tempo de perdemos em idiotices. E esse filme que falei anteriormente vai martelar a nossa consciência até ao limite máximo da exaustão, até que a última tíbia seja deglutida pelo sistema digestivo de um jovem tubarão branco com ambições de liderança.
Cada vez mais o mundo se leva a sério. Demasiado a sério! É um sinal dos tempos. Ninguém gosta de ser menosprezado, existe uma tendência de dar valor demais coisas que realmente não o têm. Olhem o cinema actual, por exemplo! Mais do que filmes que se levam demasiado a sério (e logo aí perderem toda a piada), temos exércitos de pessoas que os levam a sério só porque o marketing ditou que assim tinha que ser, e depois têm medo de parecer menos inteligentes, eloquentes ou enciclopédicos que os seus compinchas. Mas felizmente que essa tendência não é globalizante. Filmes como Piranha, Machete ou este muy british Severance vêm demonstrar que o cinema divertido, descomprometido e de qualidade não está morto, ao contrário dos seus personagens que aparentam alguma dificuldade em manter a sua integridade física, seja por perigo de degolação, mutilação, perfuração severa ou traumatismos múltiplos provocados por objecto contundente, condição normalmente conhecido por “facada no lombo”.
Um homem montado num burro entra numa aldeia do sul de Espanha. Estamos em finais de Maio de 1765 e é de noite. Sobe ao palco na praça da povoação e começa a discursar. “No futuro as mulheres terão os mesmos direitos que os homens. Num casal haverá partilha das tarefas domésticas. E as mulheres terão mais poder dentro de casa que os seus maridos.” O silêncio abate-se sobre o povo incrédulo. De repente uma pessoa começa a rir-se lá atrás, depois outra, depois um pequeno grupo do lado direito e de repente toda a aldeia rebola num riso contagiante. O homem no palco, irado, abre uma mala brilhante e retira um estranho paralelepípedo que aponta para um lençol branco. Imagens de demónios saem projectadas no tecido e o silêncio volta a abater-se sobre a aldeia. Um cão ladra ao fundo e uma criança chora, desamparada por uma mãe hipnotizada pelas imagem que saem numa luz de dentro de uma caixa do Demónio. O homem no palco sorri orgulhoso enquanto rolam os créditos iniciais de Date Night, uma obra do futuro que haveria de estrear em 2010, caso não houvesse nenhuma anomalia no contínuo espaço-temporal. Passados 15 minutos o homem e o seu burro estavam amarrados a uma trave de castanheiro , em cima de uma pilha de lenha com o objecto projector de demónios enfiado no cu. Dois lenhadores com cheiro a javali fermentado aproximam um archote da pilha e um coro entoa em latim uma ladaínha monocórdica. Antes de perecer para sempre nas chamas purificadores o homem pergunta “Porquê? Isto é ciência, é óptica. Não ofende o Senhor!”. Um sacerdote aproxima-se dele e sussura-lhe ao ouvido”Já tínhamos visto. Em VHS!“
Hoje falamos de cinema francês. Não daqueles antigos filmes francófonos, das gajas de mamas pequenas em tronco nu, no Louvre de cigarro na mão, a recitar Baudelaire e a fazer mamadas. Hoje falamos num daqueles filmes franceses que são um misto de comédia de situação com drama existencial, que vive de uma aparente promiscuidade e no final parece acabar em lição de moral, mas uma cena extra transforma a mensagem na mais aterradora badalhoquice. Estão a perceber? Claro que não. Afinal quem é que lê críticas de filmes franceses?
A nostalgia dos anos 80 não é um exclusivo nacional, como se pode facilmente perceber pelo conteúdos de entretenimento com que somos bombardeados ultimamente. Se inicialmente era o simples revivalismo, sem justificação, hoje em dia começam a aparecer estratégias ardilosas para nos enfiarem aqueles malvados anos casa adentro. Daí a razão de existir de Rocker, um filme de Jack Black sem Jack Black. Durante 90 minutos Hair Metal e Glam Rock misturam-se com pop rock Hanna Montana, adultos convivem com adolescentes a roçar o limiar da legalidade, e música horrível cruza-se com… bem, com mais música horrível. The Final Countdown dos Europe também está lá presente, mas desde que os Europe foram cabeças de cartaz no Festival do Marisco 2010 de Olhão pode-se dizer que não há lugar onde os Europe não estejam.
Fosse este filme realizado por um monte de merda qualquer e eu teria escarrado e mijado por ele abaixo e seguiria a minha vida imune ao seu inerte sentido de humor e à sua estéril contribuição para a historia da 7ª arte. Acontece que o realizador deste filme não é um monte de merda qualquer. É um monte de merda especial que já realizou alguns dos meus filmes preferidos, criou alguns personagens que venero e já foi ele próprio um icon da cultura junkie/geek vestindo a longa gabardina de Silent Bob. Estou a falar, obviamente, de Kevin Smith, esse gordalhufo que sabemos capaz de produzir genialidade, e que no entanto parece andar perdido num inferno de tarefeiro hollywoodiano a fazer um filme, que à sombra do conceito das “homenagens”, é na realidade um exemplo de unidimensionalidade amorfa que lhe pode valer o prémio “Era atar-te os tomates à traseira do comboio das 9 e dizer-te adeus com um lenço branco”.
Fazer um filme de viagens no tempo é mais complicado do que pode parecer à primeira vista. A maior parte do argumento é fácil. Alguém do presente vai para o passado e vive tropelias relacionadas com o anacronismo inerente à própria situação ou vice versa. O mais complicado é mecanismo narrativo que impulsiona essa mudança. Tem que ser o mais realista possível, tendo em conta que ainda não há viagens no tempo. Um exemplo é Back To The Future. 1, 21 Gigawatts de energia e um capacitador de fluxo serviram para vender a viagem aos cinéfilos. Há também a maneira preguiçosa de mandar a lógica às urtigas e usar o objecto que está mais à mão, porque isso de ciências e físicas é extremamente aborrecido. Neste caso foi um jacuzzi, podia ser um garrafão de 5 litros de vinho tinto, um garfo ou meio leitão da Bairrada. E sim, eu também gostei da cena da gajas das mamas que mostro aqui na imagem.
Não há para um homem nada mais aterrador do que uma ameaça à integridade dos seus testículos. É como um piano invisível permanentemente suspenso sobre a cabeça que nos pode aniquilar a masculinidade numa fracção de segundo. Sejam entalados numa porta, mordidos por uma amante furiosa ou por falta de controlo das suas capacidades recém adquiridas dominatrix, um acidente de pesca ou resultado de uma aposta numa corrida de galgos. O certo é que nenhum homem pode dar os seus tomates como garantidos. Extract é provavelmente o único filme que vi em que o assunto de uma perda testicular é tratado com a dignidade que merece. Infelizmente este poderá ser o seu único ponto positivo, o que não é lá grande tópico para lhe enobrecer o currículo.
Todos nós temos que lidar com a existência de filmes no nosso plano dimensional que só por si justificamo fim da liberdade de expressão. Tudo bem, desde que não sejamos importunados por eles. Mas isso era antes. Antes de haver 1382 canais de TV e video on demands e infernais quantidades de conteúdo semelhante a uma lixeira a céu aberto que ejacula milhares de horas de programação de inenarrável fedor para dentro dos nossos lares sem pedir permissão. Elaborei uma lista de 5 desses filmes que toda a gente adora, mas que nos fazem secretamente sentir a gonorreia de mil leprosos a cada vez que os apanhamos num zapping.
5. Pretty Woman (1990)
Um principe encantado dos tempos modernos enamora-se por uma prostituta de rua depois de ter pago uma fortuna para não lhe tocar sequer. Nem uma mamada ou um dedinho curioso… Nada. Quando penso em putas de rua, daquelas que atacam à noite nas avenidas escuras das grandes cidades só me vem à cabeça o seguinte: herpes, gonorreia, sida, cocaína, heroína, toxicodependência, alcoolismo, dentes todos podres, hálito a cadáveres em decomposição desde 1996 e mais três tipos de Sida (daquela que corrói o latex). Daí a dificuldade que tenho em assimilar aquele argumento.
Se para muitos ela é apenas uma actriz de semblante equídeo com a elegância de uma vaca trucidada três vezes no mesmo dia por comboios diferentes, para outros ela é a musa dos vampiros de Twilight. Feia, escancarada e com o carisma de uma pá de valar, é certo, mas capaz de atrair público com dificuldade de compreender enredos com complexidade superior aos Irmãos Koala. Esta galdéria drogada fortemente viciada em pílulas do dia seguinte e relaxantes musculares também faz outros filmes que não sejam da saga Twilight. Ironia das ironias, acabamos por ter em Adventureland um filme não muito mau, o típico indie teen existencialista, que não sendo original também não provoca o vómito compulsivo.
É triste, tão triste que a cada vez que a industria televisiva (e cinematográfica) queira fazer um produto diferente para as massas recorra a clichés americanos para encher uma hora de puro lixo, criando um produto que em nada se identifica com a realidade portuguesa e que mais parece aquelas brincadeiras que os putos fazem quando compram câmaras de filmar, só que com melhores meios e menos criatividade. Aqui temos um produto que nos fala de um serial killer (rir!) e de uma detective toda MILF que anda agachada em edificios abandonados de arma em riste e faz piruetas de carro em perseguições a canalhada criminosa em fuga. E no final de tudo, depois de muitos minutos de risadas involuntárias eis que compreendemos que estamos no mesmo ponto onde estávamos há 30 anos atrás. Apesar dos meios, da tecnologia e do talento, porque há talento em Portugal, levamos com um versão reciclada, recauchutada, mais colorida da Vila Faia original, só que desta vez há menos pessoas de bigode.
A canibalização do sucesso alheio não é um fenómeno recente. Desde que os irmãos Lumière filmaram a criadagem a sair da fábrica que muita criadagem foi filmada a sair de algures. Nos anos 80, o sucesso de Gremlins catapultou para o grande e pequeno ecrã uma interminável lista de clones e ripoffs que viviam do encanto do Gizmo original e do seu bando de adoráveis demoniozinhos. O mais popular foi este Ghoulies, uma versão mais hardcore, levando o conceito mais adiante. Envelheceu mal, e ver este filme hoje é como olhar para uma foto close-up recente de Rod Stewart acabado de acordar num hotel tailandês depois de uma noite de cocaína, viagra e desfibrilhação.
Existe neste momento um tipo de cinema americano de difícil catalogação. Não é um cinema de valores colossais a roçar o PIB de alguns países europeus, mas também não é aquele cinema independente de Sundance dos anos 90, a borbulhar de originalidade, frescura e bizarria. É um meio termo que vive de nomes sonantes em papéis improváveis, de cameos, de orçamentos compostinhos e em que toda a gente parece ser dotada de uma capacidade de argumentar supra-humana e os diálogos apesar de engraçadotes, cheiram a falsete. Não é um cinema mau, mas começa a ser distractivo, injusto e desequilibrado. Salva-se o spoof porno: Up In The Ass!
Quando eu tinha 6 anos queria ser bombeiro. Com 1o anos queria ser astronauta, mas de um império maléfico. Mas aos 16 anos a minha ambição desmedida de gerir uma casa de putas consumia-me por dentro. As coisas correram noutra direcção e acabei por ter uma profissão banal, apesar de também haver putas na minha linha de trabalho. Choro frequentemente antes de adormecer a pensar no meu sonho perdido. Mas agora que vi Noite Escura de João Canijo percebo que administrar um bordel não é tão glamoroso como pode parecer à primeira vista.
Chegou finalmente aos cinemas a tão aguardada adaptação de Kick-Ass. Os leitores assíduos deste blog e aqueles que não sendo assíduos sabem usar um formulário de pesquisa perceberão que há muito que se fala por aqui em Kick-Ass. E o resultado é o que se esperava: um hino à ultraviolência feelgood com um agradável dose de humor negro bem equilibrada fazendo jus à velha máxima “I have come here to chew bubblegum and kick ass…and I’m all out of bubblegum.”
Apesar de haver no cinema imensos hábeis artesãos, técnicos competentes, contadores de histórias natos e visionários subversivos, o certo é que génios há poucos. Na realidade eu só me lembro de um colectivo de génios que revolucionaram as imaginações mundiais há mais de 40 anos, fazendo algo que ainda hoje é desafiador e incompreendido. Monty Python, os criadores da cómédia que efectivamente tem piada, alteraram por completo o paradigma do humor. O efeito ainda hoje nos brinda com a ocasional obra de arte pelas mãos daquele que é considerado o Monty Python invisível: Terry Gilliam. Continue reading
Megan Fox é um totem pós-moderno do culto da “sexualidade que está para vir”, tipicamente idolatrada por teenagers virgens que aquecem o pescoço em sua honra. É verdade que é bonita e sensual, mas para aqueles lados são todas bonitas e sensuais. Só que esta é sonsa, má actriz. O chamado monólito unidimensional. O que não se compreende é a frequência com que é usada como arma de arremesso a cada vez que se quer chamar às salas pubescentes no pináculo da crise hormonal cujo único medo é que a masturbação cause efectivamente cegueira.
Mentira, o conceito que sustenta os pilares das sociedades desde o nascer dos tempos, o conceito que permite que a frágil estrutura de moralidade e bons costumes não desabe sobre si mesma, engolindo para sempre o mundo na noite eterna da miséria humana. Quem não tem nada a esconder ou diz não saber mentir é, só por si, um mentiroso profissional. Mas como seria um mundo sem mentira, um mundo onde a honestidade é a standard cruel sob a qual as pessoas carregam o seu enfadonho quotidiano? Um mundo sem imaginação, sem ficção e sem a mais pálida centelha de engenho? Ricky Gervais disfarça a sua obra multidimensional de comédia romântica, tão querida pelo grande público, o mesmo tempo que enraba todos os valores morais, políticos e religiosos da civilização ocidental no mesmo processo.
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