CinemaXunga

Desde 24 de Junho de 2003

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The Black Phone (2022)

Andava aí um filme de terror, que apareceu a voar baixinho por debaixo dos radares, a fazer furor nas salas. Sou daquelas pessoas que dá logo dinheiro a um gajo de aspecto drogado para apanhar o autocarro porque perdeu a carteira ou compra toneladas de produtos em esquemas de pirâmide, mas nisto dos filmes fico muito apreensivo. “Quem são estes agora para me convencerem que o filme é bom? Na volta é malta que acha que Inception é uma matrioska de conceitos, ideias ou situações em vez da criação de algo.” E quando finalmente decidi ir vê-lo ao cinema, depois deste processamento todo,  já tinha saído de sala. Há 4 meses. 

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The Reckoning (2020)

Tinha roupa para passar a ferro e acabado de obter acesso a uma conta da Filmin. Embirrei que tinha que a aproveitar. O Sr. Joaquim que tudo fornece nunca me deixa mal, mas ali senti o apelo burguês de consumir um conteúdo pago. Aquele permanente sensação de que é pago e é caro e, logo, melhor. Como os pacóvios que pagam dois ordenados mínimos por um telefone e depois nem sequer lhe instalam apps nem usam demasiado porque têm medo de estragar. E eu, de ferro de engomar na mão, carreguei no play deste Neil Marshall que me piscava o olho sedutor e caprichoso como uma ninfa de Homero, sedento de me ver rebentar os costados nas escarpas rochosas da ilha da morte de onde empinava o rabo.

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Quando ver filmes de Steven Spielberg?

Ver um filme de Steven Spielberg é como comer cogumelos apanhados por um amigo bêbedo, pode ser uma extraordinária experiência gastronómica ou pode resultar na perda do fígado e subsequente morte. Assim, com o intuito de acabar com este risco à saude pública mundial, a comunidade científica ligou-me em massa no fim de semana. “Pedro”, imploravam chorando, “Consegues fazer os cálculos de modo a que se consiga erradicar a morte por Spielberg do mundo”, dizia o Alfredo da WHO em Nova Iorque.

E eu lá fui pegar nos tubos de ensaio e microscópios. Trabalhei o fim de semana sem dormir, consegui enviar os dados para um rede de super computadores das principais universidades do mundo para serem mastigados, e consegui hoje ter o resultado desse trabalho.

Apresento o gráfico anual de perigosidade de ver filmes de Spielberg. Atenção que o eixo das ordenadas representa a probabilidade de tirar prazer da visualização e o eixo das absissas representa o mês.

Decidi não patentear o estudo, podem usar nos vossos papers.

Pedro Cinemaxunga – PhD, DoP, ATM e BBC

Anon (2018)

Cinema não é apenas os filmes que planeamos, aguardamos e vamos entusiasmados ver em sala. Não são apenas os filmes que compramos ou alugamos no Sr. Joaquim e que assistimos em casa, numa espécie de ritual, o escurinho ideal, aquela almofada preferida e às vezes, em dias de batota, uma tacinha de torresmos. Não são apenas os dates para ver filmes detestáveis que toleramos porque o ambiente é propício ao coito. Cinema por vezes também são aqueles filmes que apanhamos a meio, numa insónia de hotel, que têm tantos atores conhecidos, têm meios de produção generosos e algum talento por detrás que nos perguntamos como nos escaparam. Anon é um exemplo destes últimos e a resposta à pergunta “Como é que me escapou?” é “Porque é o pior filme de sempre”.

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Lista dos primeiros filmes que foram “O Primeiro Filme a usar CGI”

the lawnmower man virtual reality bad movie cgi

Há imensos relatos de filmes que foram os primeiros a usar CGI. Durante os primórdios da tecnologia digital, os estúdios correram para usar este modernismo que lhes permitia usar como arma de arremesso mercantilista este soundbyte gostoso. Todas as pessoas cuja idade aconselhe um toque prostático ou cuja menopausa avance por si adentro como um incêndio em mato seco têm esta experiência. 

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Howl (2015)

Howl (2015) Official Trailer - Vidéo Dailymotion

O cenário é familiar, um grupo heterogéneo de pessoas confinadas num espaço sem saída e sem esperança à mercê de uma sanguinária ameaça. Um a um, coitados, vão perecendo às mãos/garras/facas/ameaça genérica. O herói, improvável, reforma-se de anos de letargia para se revelar o perfeito anti-“ameaça genérica”. A miúda, que sobreviverá seja qual for o reboliço onde a metam, grita em apuros ao mesmo tempo de ostenta a sua permanente hidratação genital pelo herói. Mais do que ser salva e fugir ao cenário dantesco onde se encontra, ela quer ser inseminada, procriar e viver na sagrada comunhão do matrimónio com o herói recém vitalizado. Neste caso são lobisomens e pessoas presas numa carruagem de comboio no meio da mata.

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Willy’s Wonderland (2021) – Radio Cinemaxunga

A última insanidade de Nicolas Cage é uma espécie de John Wick na Rua Sésamo onde demónios assassinos se apoderam do Ferrão e do Popas para serem trucidados pela força demolidora que apenas um autista consegue ter. Não é o filme perfeito, tens os seus problemas técnicos por inaptidão e fracote na representação, mas ainda assim dá uma bela tarde de sábado.

Butt Boy (2019)

Ao fim da primeira semana em encarceramento forçado, todas as tarefas se tornam repetitivas. Todos os dias são cópias de menor qualidade dos dias anteriores, a perder cor, e passam a um ritmo estonteante, contrastando com nossa agora permanente catalepsia. Voltando lentamente a cabeça na direção da janela, os dias passam numa cadência estroboscópica, hipnótica. “Que dia é hoje?”, perguntam os membros do quarteto cordas semi-decomposto que me fala do outro lado da sala. “Sei lá!”respondo. “Terça? Domingo? Junho? 1986?”. E os filmes que vi? Vi mesmo ou imaginei? Vou aqui atravessar-me pela minha memória com quase total garantia de que vi mesmo este filme, que ele existe, e vou falar-vos de Butt Boy. 

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Freaky (2020)

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Seria de esperar que o remake de Freaky Friday fosse igualmente merdoso e cheio de requeijão teenager, mas de facto somos premiados com 10 minutos iniciais que revelam ao que vamos: sangue, tripas, refinado requeijão pós-moderno e Vince Vaughn ofensivamente transexual. Coisas, portanto, maravilhosas!  Um epílogo ao estilo do saudoso Santa’s Slay (2005) com título em português “A Matança de Natal” na chamada “Escola de Títulos Miguel Ferreira das Nalgas”. Uma nova aproximação ao clássico troca corpos que não sendo muito diferente dos outros em estrutura e narrativa, é bem mais divertido e sangrento. 

Décimo melhor do ano

Society (1989)

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Uma das minhas muitas missões de vida consistiu em varrer a filmografia de Brian Yuzna de cabo a rabo devido a um amor profundo pelos dois primeiros ReAnimators, esses soft reboots de Frankenstein e Bride of Frankenstein. Ainda que o primeiro não seja dele. Só o terceiro, que é falso. Uns espanhóis pegaram no franchise e refizeram um Prison Break Reanimator com o Yuzna e o protagonista. A missão não foi totalmente terminada, falta-me Beneath Still Waters e Amphinious 3D que devem ser super bons. Isto tudo para dizer que passei há uns anos pelo Society (1989) e fiquei apaixonadão.

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The Wolf of Snow Hollow (2020)

Por vezes ficamos a fatiar fiambre no Facebook, a pedinchar sugestões para um filmezito antes de ir para a cama, que nos enleamos em tramas supérfluos de listas de celebridades que fazem branqueamento anal ou dos tipos de melão que melhor curam a SIDA. E entretanto passam duas horas e vamos para a cama sem filme. Neste tempo perdido na névoa do “doce fazer nenhum” podíamos ter visto o Wolf of Snow Hollow, o novo filme de Jim Cummings, o jovem hiperativo reativo emocional psicótico realizador/actor/”faz tudo no seu próprio filme” que fez um brilharete com a curta Thunder Road que depois deu a longa Thunder Road.

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Nalgas Film Club – Uma flor que brota no deserto

Anatomy of a Murder (1959)

A meio do apocalipse epidémico  2020, 75% dos elementos do podcast Nas Nalgas do Mandarim viram-se isolados nos seus palacetes. Bloqueados dos prazeres do mundo, da magia do cinema em sala, das lojas de roupas amaricadas que tanto prezam e dos restaurantes que enfeitam tão bem os itens que temos no frigorífico. Ficar em casa também tem as suas vantagens, pouco contacto com humanos que na sua grande maioria são a espuma da ruminância. Menos eu, ali entalado no trabalho de sol a sol, sozinho, rodeado de máquinas e sem calças. Mas não eram só coisas boas, também batia ocasionalmente aquela solidão e a nostalgia da vida social. 

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Technoboss (2019)

Através de uma sucessão de pesquisas mal feitas e erros de correção ortográfica dou de frente com este filme. Choque frontal, como numa recta do Alentejo, sábado para domingo. Já o tinha nos filmes que queria ver, não se enganem, mas entretanto esqueci-me. Que bom que a sacrossanta mão do destino me encaminhou novamente para ele com o seu vento místico e as invisíveis correntes de ar do destino, porque amei do coração do John From. Não sabia, no entanto, nada a acerca deste filme. 

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Tenet (2020)

Mais um almoço sozinho, mais uma lata de atum. Enquanto o gato lambe as gotas de óleo de girassol que respingam da lata de atum marca branca do Lidl por entre os seus dedos tensos, um homem enfurecido olha pela janela. Lata vazia, dedos esbranquiçados da tensão. O som do ronronar é interrompido por um suspiro furioso e asmático deste senhor em fúria. Já a semana não tinha começado bem, quando a alfândega lhe confiscou o conjunto de espadas Kill Bill que tinha encomendado de Singapura, agora começam a chegar críticas negativas a Tenet. “Quem é que esta gente pensa que é?”, pensou. “De certeza que é bom, quem o viu e é boa gente gostou. De resto são haters. Os mesmos que criticaram o Dunkirk e o Inception. Sempre os mesmos. O Dunkirk ainda não vi, mas não passa deste mês. O Tenet vejo amanhã, já tenho bilhete.

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Pulp Fiction e os silêncios desconfortáveis (1994)

O último fim de semana de Novembro de 1994 foi o normal para a época. Tinha uma namorada nova que partilhava comigo os prazeres da cultura e de ver o nascer do sol nas janelas embaciadas pelo ofegante bafejar do desejo e do êxtase sensorial da descoberta. Sábado à noite, jantar no chinês. A comida misteriosa que aprisiona a cidade com o seu apelo exótico, pedida em números. O procedimento repetia-se. Jantar, café, cinema, barzinho, discoteca e ver nascer o sol nas condições supracitadas. Nesse fim de semana fomos ver o Pulp Fiction. Pulp quê? Não interessa, só estão 3 filmes em sala e os outros dois já os vimos.

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Netflix e Dave Chappelle

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A minha rotina de standup: Um jovem agricultor, um serralheiro mecânico e um decorador de interiores entram num bar. Pergunta o serralheiro “O que é que sexo anal e comer a sopa têm em comum em Fermentelos?”.Uma criança de 5 anos que se encontrava a lavar pratos pergunta “O que é sopa?”. Todos riem e o agricultor diz “Vá diz lá! O que têm em comum?”. Responde o serralheiro “São ambos obrigatórios antes de ir para a cama”. Todos voltam a rir muito e o decorador diz indignado “Sou de Fermentelos e não sei se concorde”. E pergunta o puto que estava a lavar pratos “Então porque é que não te consegues sentar?”. As freiras desatam a rir e os miúdos do orfanato batiam palmas se as algemas o permitissem. Um alce vestido inteiramente de cabedal deixando apenas o anus exposto faz o barulho de um peido com a boca e as gargalhadas são tão ensurdecedoras que até os surdos aprisionados na cave as ouvem.

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Ma (2019)

Ma (2019)

Produtora Blumhouse, 9 horas da manhã, segunda feira

O Jason Blum, proprietário da produtora, passeia-se numa trajetória oval em frente a uma comprida mesa de reuniões. Mãos atrás das costas, inclinado para a frente, expressão de profunda preocupação. Ao longo da mesa, na ponta oposta, estão algumas pessoas responsáveis pelo filme Ma. O silêncio aterrador é entrecortado por passos pesados e secos do Sr. Blum que, de repente, se detém. Respira fundo, mete uma mão na testa como a segurar a cabeça e vira-se de modo teatral para a mesa. Um movimento lento e predador. Ao fundo ouve-se um “gulp!” mas Blum não percebe quem foi. Teria que acelerar o movimento e rodar os olhos, algo que não faria como profissional do drama. Mãos na mesa, acompanhadas por um bater que ecoa pela sala. Levanta os olhos, fixa a pessoa imediatamente ao fundo, na ponta da mesa. A tensão prestes a ser quebrada não alivia ninguém.

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Glass (2018)

No dia em que fez 5 anos, Midnight Shiamané descobriu que o menino que com quem brincava desde a nascença era afinal um habilmente depilado orangotango que andava a ser treinado para um bordel em Minsk, como aliás o próprio Shiamané. Fugiu do infantário para logo perceber que era um orfanato nas traseiras de uma pizzaria romena que traficava orgãos e pianos para as minorias Urdu do norte do Botswana e na hora percebeu que a sua mamã era um tocador de harmónia Hindu cujos hobbie incluiam deixar crescer as unhas dos pés até encaracolar e jogar um jogo a que chamava “O termómetro de carne”. E aqui nasceu a natural inclinação para o twist.

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Halloween (2018)

23h58m. Estava na hora. Como sempre nos últimos 30 dias baixei as calças, sentei-me no deprimente banquinho dentro da banheira, peguei no saco de sal, tirei um punhado e esfreguei os testículos durante 5 minutos à meia noite em ponto. “Meto-me em cada uma”, pensei. Sou transportado para o fatídico sábado há um mês atrás. Na sala de espera húmida, nervoso, com uma amiga. Garantia-me que só pagava se resultasse. Era infalível, todos o fazem. Fui chamado e entrei no escuro gabinete iluminado por uma cansada lâmpada de tungsténio que projectava fotões e anos 80. Contei a história à velha senhora, o que queria da vida. E o que queria era específico. Uma mulher que gostasse de ver filmes de terror comigo, que não me julgasse por ver maus filmes. E que mantivesse a opinião, não queria apanhar uma galdéria falsa que passados 3 meses me atiraria à cara que só vejo filmes de merda. A velha senhora sorriu, pegou nuns pós azulados e soprou-os na minha cara. Disse que era um caso muito simples, quase nem precisava de ajuda. Para acelerar as coisas pediu-me para esfregar os tomates com sal todos os dias à meia noite. No último dia, caso fizesse correctamente o ritual, apareceria alguém nestas condições. Eu disse à minha amiga que sou um homem de ciência, nunca me apanhariam em tal esquema ignorante feito para iludir pobres de espírito, que isto é como os maluquinhos que acreditam na terra plana ou extraterrestres e quando cheguei a casa esfreguei os tomates com sal como se não houvesse amanhã.

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Suburbicon (2017)

Um dia os irmãos Coen ofereceram ao George Clooney um saco de arroz. Um arrozinho do mesmo que eles usam, de qualidade, do melhor que se come por aí. Ofereceram-no cru, note-se. Deram-lhe umas receitas de como o cozinhar bem e o Clooney lá foi todo contente para casa com aquele saquinho de arroz. Chegado ao lar, tira uma panela da gaveta e mete-se a cozinhar. Com falta de experiência no ramo do cozinhar arroz, Clooney enche a panela de arroz até ao topo. Além disso mete-lhe todos os condimentos que tem na prateleira das especiarias, só para dar mais sabor e para agradar a todos. Quando a água começa a ferver, o arroz começa a subir e a sair da panela. Clooney, aflito, ajusta a temperatura, remove algum arroz para outra panela. Bom, no final fica com um arroz meio merdoso e com sabor demasiado intenso e sem identidade, com a cozinha numa lástima e com um sms dos irmãos Coen a dizer que para a próxima só lhes mandam dois ovos para estrelar.

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