CinemaXunga

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Nalgas Film Club – Uma flor que brota no deserto

Anatomy of a Murder (1959)

A meio do apocalipse epidémico  2020, 75% dos elementos do podcast Nas Nalgas do Mandarim viram-se isolados nos seus palacetes. Bloqueados dos prazeres do mundo, da magia do cinema em sala, das lojas de roupas amaricadas que tanto prezam e dos restaurantes que enfeitam tão bem os itens que temos no frigorífico. Ficar em casa também tem as suas vantagens, pouco contacto com humanos que na sua grande maioria são a espuma da ruminância. Menos eu, ali entalado no trabalho de sol a sol, sozinho, rodeado de máquinas e sem calças. Mas não eram só coisas boas, também batia ocasionalmente aquela solidão e a nostalgia da vida social. 

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Technoboss (2019)

Através de uma sucessão de pesquisas mal feitas e erros de correção ortográfica dou de frente com este filme. Choque frontal, como numa recta do Alentejo, sábado para domingo. Já o tinha nos filmes que queria ver, não se enganem, mas entretanto esqueci-me. Que bom que a sacrossanta mão do destino me encaminhou novamente para ele com o seu vento místico e as invisíveis correntes de ar do destino, porque amei do coração do John From. Não sabia, no entanto, nada a acerca deste filme. 

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Tenet (2020)

Mais um almoço sozinho, mais uma lata de atum. Enquanto o gato lambe as gotas de óleo de girassol que respingam da lata de atum marca branca do Lidl por entre os seus dedos tensos, um homem enfurecido olha pela janela. Lata vazia, dedos esbranquiçados da tensão. O som do ronronar é interrompido por um suspiro furioso e asmático deste senhor em fúria. Já a semana não tinha começado bem, quando a alfândega lhe confiscou o conjunto de espadas Kill Bill que tinha encomendado de Singapura, agora começam a chegar críticas negativas a Tenet. “Quem é que esta gente pensa que é?”, pensou. “De certeza que é bom, quem o viu e é boa gente gostou. De resto são haters. Os mesmos que criticaram o Dunkirk e o Inception. Sempre os mesmos. O Dunkirk ainda não vi, mas não passa deste mês. O Tenet vejo amanhã, já tenho bilhete.

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Pulp Fiction e os silêncios desconfortáveis (1994)

O último fim de semana de Novembro de 1994 foi o normal para a época. Tinha uma namorada nova que partilhava comigo os prazeres da cultura e de ver o nascer do sol nas janelas embaciadas pelo ofegante bafejar do desejo e do êxtase sensorial da descoberta. Sábado à noite, jantar no chinês. A comida misteriosa que aprisiona a cidade com o seu apelo exótico, pedida em números. O procedimento repetia-se. Jantar, café, cinema, barzinho, discoteca e ver nascer o sol nas condições supracitadas. Nesse fim de semana fomos ver o Pulp Fiction. Pulp quê? Não interessa, só estão 3 filmes em sala e os outros dois já os vimos.

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Netflix e Dave Chappelle

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A minha rotina de standup: Um jovem agricultor, um serralheiro mecânico e um decorador de interiores entram num bar. Pergunta o serralheiro “O que é que sexo anal e comer a sopa têm em comum em Fermentelos?”.Uma criança de 5 anos que se encontrava a lavar pratos pergunta “O que é sopa?”. Todos riem e o agricultor diz “Vá diz lá! O que têm em comum?”. Responde o serralheiro “São ambos obrigatórios antes de ir para a cama”. Todos voltam a rir muito e o decorador diz indignado “Sou de Fermentelos e não sei se concorde”. E pergunta o puto que estava a lavar pratos “Então porque é que não te consegues sentar?”. As freiras desatam a rir e os miúdos do orfanato batiam palmas se as algemas o permitissem. Um alce vestido inteiramente de cabedal deixando apenas o anus exposto faz o barulho de um peido com a boca e as gargalhadas são tão ensurdecedoras que até os surdos aprisionados na cave as ouvem.

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Ma (2019)

Ma (2019)

Produtora Blumhouse, 9 horas da manhã, segunda feira

O Jason Blum, proprietário da produtora, passeia-se numa trajetória oval em frente a uma comprida mesa de reuniões. Mãos atrás das costas, inclinado para a frente, expressão de profunda preocupação. Ao longo da mesa, na ponta oposta, estão algumas pessoas responsáveis pelo filme Ma. O silêncio aterrador é entrecortado por passos pesados e secos do Sr. Blum que, de repente, se detém. Respira fundo, mete uma mão na testa como a segurar a cabeça e vira-se de modo teatral para a mesa. Um movimento lento e predador. Ao fundo ouve-se um “gulp!” mas Blum não percebe quem foi. Teria que acelerar o movimento e rodar os olhos, algo que não faria como profissional do drama. Mãos na mesa, acompanhadas por um bater que ecoa pela sala. Levanta os olhos, fixa a pessoa imediatamente ao fundo, na ponta da mesa. A tensão prestes a ser quebrada não alivia ninguém.

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Glass (2018)

No dia em que fez 5 anos, Midnight Shiamané descobriu que o menino que com quem brincava desde a nascença era afinal um habilmente depilado orangotango que andava a ser treinado para um bordel em Minsk, como aliás o próprio Shiamané. Fugiu do infantário para logo perceber que era um orfanato nas traseiras de uma pizzaria romena que traficava orgãos e pianos para as minorias Urdu do norte do Botswana e na hora percebeu que a sua mamã era um tocador de harmónia Hindu cujos hobbie incluiam deixar crescer as unhas dos pés até encaracolar e jogar um jogo a que chamava “O termómetro de carne”. E aqui nasceu a natural inclinação para o twist.

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Halloween (2018)

23h58m. Estava na hora. Como sempre nos últimos 30 dias baixei as calças, sentei-me no deprimente banquinho dentro da banheira, peguei no saco de sal, tirei um punhado e esfreguei os testículos durante 5 minutos à meia noite em ponto. “Meto-me em cada uma”, pensei. Sou transportado para o fatídico sábado há um mês atrás. Na sala de espera húmida, nervoso, com uma amiga. Garantia-me que só pagava se resultasse. Era infalível, todos o fazem. Fui chamado e entrei no escuro gabinete iluminado por uma cansada lâmpada de tungsténio que projectava fotões e anos 80. Contei a história à velha senhora, o que queria da vida. E o que queria era específico. Uma mulher que gostasse de ver filmes de terror comigo, que não me julgasse por ver maus filmes. E que mantivesse a opinião, não queria apanhar uma galdéria falsa que passados 3 meses me atiraria à cara que só vejo filmes de merda. A velha senhora sorriu, pegou nuns pós azulados e soprou-os na minha cara. Disse que era um caso muito simples, quase nem precisava de ajuda. Para acelerar as coisas pediu-me para esfregar os tomates com sal todos os dias à meia noite. No último dia, caso fizesse correctamente o ritual, apareceria alguém nestas condições. Eu disse à minha amiga que sou um homem de ciência, nunca me apanhariam em tal esquema ignorante feito para iludir pobres de espírito, que isto é como os maluquinhos que acreditam na terra plana ou extraterrestres e quando cheguei a casa esfreguei os tomates com sal como se não houvesse amanhã.

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Suburbicon (2017)

Um dia os irmãos Coen ofereceram ao George Clooney um saco de arroz. Um arrozinho do mesmo que eles usam, de qualidade, do melhor que se come por aí. Ofereceram-no cru, note-se. Deram-lhe umas receitas de como o cozinhar bem e o Clooney lá foi todo contente para casa com aquele saquinho de arroz. Chegado ao lar, tira uma panela da gaveta e mete-se a cozinhar. Com falta de experiência no ramo do cozinhar arroz, Clooney enche a panela de arroz até ao topo. Além disso mete-lhe todos os condimentos que tem na prateleira das especiarias, só para dar mais sabor e para agradar a todos. Quando a água começa a ferver, o arroz começa a subir e a sair da panela. Clooney, aflito, ajusta a temperatura, remove algum arroz para outra panela. Bom, no final fica com um arroz meio merdoso e com sabor demasiado intenso e sem identidade, com a cozinha numa lástima e com um sms dos irmãos Coen a dizer que para a próxima só lhes mandam dois ovos para estrelar.

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A Ghost Story (2017)

Na viragem do século, metade dos internautas ficava a teclar noite adentro em salas virtuais com pessoas que conheciam apenas pelas palavras que liam. Muitos se apaixonaram, muitos se enervaram, muitos sonhavam com os imaginários technicolor 4D de realidade aumentada saídos daquelas sessões text-only. E o que se ouvia mais, e que não era exagerado, era que se calhar essa Marta de 19 anos que gosta de livros de Douglas Coupland, discos dos Massive Attack e chocolate quente ao nascer do sol é afinal um mecânico suado de 45 anos e costas peludas chamado Armando. E por vezes assim acontecia. Nos dias que correm o perigo ainda é mais bizarro. Será que as pessoas com quem interagimos na Internet são realmente pessoas? Ou serão bots de inteligência artificial a fazer-se passar por humanos? Questões para levar a sério. E daqui a 20 anos? Qual será o perigo? Serão Aldacianos de Turis 24 da galáxia Nervusis a influenciar as nossas opiniões acerca da mineração das luas de Kiroa 2 em Alpha Centauro? Serão macacos evoluídos que preferiram a revolução digital à revolução a cavalo na ponte de São Francisco? Ou a tecnologia de comunicação tornou-se tão sensível ao ponto dos fantasmas que palmilham o limbo poderem agora interagir com humanos via wireless, fazendo-se passar por uma esteticista chamada Rute Juliana que até manda fotos convincentes da pachacha lisa como a careca do Jean Luc Picard?

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Lady Bird (2017)

As minhas expetativas iam a zero no que a Lady Bird concerne. O filme Francis Ha, escrito pela realizadora Greta Gerwig, está-me ainda entalado nas goelas como uma casca de milho da farsolice. Aquela treta do mumblecore que assolou o planeta há 5 anos e a sua celebração do desconforto social ainda me afeta hoje. Isto de confundir doenças mentais com coolness é algo a que nunca me habituarei. E ali estava eu, preparado para ver Lady Bird sem saber nada do filme além da sua abominável genealogia.

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Last Action Hero (1993)

Haveria de passar uma semana até saber o que o destino havia guardado para o futuro do cinema. Mas naquela noite, ao início da madrugada de um tempo em que apenas existia para mim a sessão da meia noite, naquela noite fresca e convidativa para a juventude se abandonar à conversa casual e das certezas absolutas dos 20 aninhos, naquela noite tinha saído do Cineteatro Avenida em Coimbra onde vi o Last Action Hero. Os meus olhos brilhavam como uma teenager de Anime e o coração batia forte. O último filme de Arnold Schwarzenegger era um marco incontornável no cinema e na carreira do meu action hero preferido. Arnie reinventou-se numa altura em que toda a gente se perguntava “E agora? O que vai Schwarzenegger fazer quando já chegou ao pináculo?”. Bom, e foi assim que se reinventou num meta filme dentro de um filme dentro de um filme a olhar de fora para dentro e, simultaneamente, de dentro para fora, e dos lados e de cima para o cinema. Inverter a estrutura, partir a 4ª parede e criar a 5ª dimensão.

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Three Billboards Outside Ebbing, Missouri (2017)

Numa época pós-reality TV, do direto e da reengenharia do realismo as pessoas começam a confundir-se com o que é a realidade. O que é uma narrativa realista, estamos perante algo plausível ou é uma fantasia sexual encapsulada e reprimida de um argumentista drogado? É demasiado polido para ser um relato do quotidiano? “As peças narrativas encaixam demais? Já me enganaram estes malandros.” E por vezes andamos nisto, neste ping pong do pós-neo-pré-meta-ultra-hiper-micro realismo. E claro, como tudo o que discute hoje não tem interesse nenhum. É o discurso estéril destas redes que nos aprisionam a conversa num curral que parece não ter portas nem janelas, onde o ar entra filtrado. Daí existir esta necessidade de falar um pouco de Three Bilboards não sei quê… Deixa googlar Three Billboards Outside Ebbing, Missouri.

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The Disaster Artist (2017)

Por várias gamas de razões nunca entrei a bordo do comboio “The Room”. A comunidade parecia-me sólida e interessante, no entanto nunca se fez o clique. “Oh, vá lá!”, diziam-me, “Tu gostas de filmes maus, adoras obras trash. Anda connosco neste fartote desenfreado de masturbação circular.” E não consegui. Talvez por lhe faltar aquele nível ideal de guerreiros pós-apocalípticos de mota liderados por um mutante deformado ou decapitações a cada 15 minutos. Tinha seios e sexo, mas um sexo inqualificável que pode ser apreciado em família num contexto de sofá pós-almoço de Páscoa.

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Little Mermaid (1989) e o efeito Mandela

O efeito Mandela é um chavão usado muito na Internet para definir aquelas situações em que nos lembramos erradamente de coisas que nunca existiram, como se existissem num universo paralelo. Foi assim baptizado porque se associava a pessoas que se lembravam vividamente que Nelson Mandela teria morrido na prisão. A mim aconteceu em duas situações recentemente e sempre relacionadas com cinema. A primeira foi ao ler o livro Ready Player One. O nosso protagonista citou a expressão “Oh my God it’s full of stars” dizendo tratar-se de uma frase do filme 2010. Ora, que raio! Tinha quase a certeza que era do 2001. A frase que o Dr. Dave Bowman diz ao entrar no campo estrelado como novo humano no final do filme. Curiosamente aparece no livro, que também li. Aparece depois em maior proeminência no 2010, livro e filme. Ah caraças, andei a citar mal toda a minha vida.

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Little Evil (2017)

Há duas coisas na vida às quais damos importância desnecessária. Temas que nos remoem o cérebro por dentro, que nos tiram o sono, que nos encharcam as noites de suor e nos fazem ponderar a existência com a pergunta obrigatória “Valerá a pena continuar?”. A primeira destas corrosivas ideias tem a ver com os filhos. Na gravidez, nos primeiros anos, na escola, no crescimento para adultos, em todas as fases nos questionamos constantemente acerca da sua saúde física, mental e social. De facto é só isso que queremos, um filho normal. Um malandrim que cometa as mesmas malandrices da média dos malandrins da sua idade. Não queremos desvios. E o certo é que os nossos filhos terão sempre uma peculiar varada na mona que nos faz sempre olhar para o âmago da nossa essência e concluir que de certeza é da parte da família da mãe. Ou seja, não vale a pena pensar se o nosso filho será normal, nunca é. E isso é bom. A segunda questão dilacerante que pode fazer implodir a própria sociedade e à qual a resposta é sempre não é “Desde que deixou de ser vocalista dos  Muse, fará o Adam Scott* algum filme de jeito?”

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Pumpkinhead (1988)

Não é raro que alguns prodígios de áreas técnicas de Hollywood assumam o leme de projectos pessoais de modo a poderem expandir as suas capacidades, em vez de ficarem à mercê dos realizadores. Não costumam ser projectos rentáveis mas são quase sempre divertidos e memoráveis. Como Dark Crystal de Jim Henson e Frank Oz, Maximum Overdrive de Stephen King e este Pumpkinhead de Stan Winston.

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Colossal (2016)

Não há nada pior na vida que um gajo sentir-se um bardamerdas. Um gajo perceber que é um resto de uma bosta de cão agarrado à sola desta gigantesca bota cósmica onde viajamos pelo espaço/tempo. Talvez nem um resto de bosta sejamos, reavaliando a metáfora será mais apropriado dizer que somos um electrão de um átomo de carbono de uma molécula que compõe esse minúsculo pedaço de bosta. Como desejamos ser um pedaço de bosta a sério ou, sonhando muito alto, uma bosta inteira numa sola da bota celestial na qual estamos agarrados a viajar pelo espaço/tempo. Para que a humanidade possa sentir-se melhor existe a ficção e dentro da ficção o cinema. E dentro do cinema aquilo de que vos vou falar a seguir.

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Ah, é verdade! Valerian (2017)

Ah, é verdade! Valerian… Bom, para fazer o teste da ficção científica ao miúdo lá fomos ver o Valerian. Começou mal quando me foi dito que os descontos, cartões, talões, promos, cunhas, piscadelas de olho ou subornos em pastelaria não funcionam nesta sessão. Mostrei o cartão de colombófilo, a funcionária voltou a acenar negativamente com ar zangado. Preço de antestreia, oito euros e meio. Sem óculos. Com direito a pipocas, o balde mais pequeno. De meio metro cúbico. Já não pagava tanto por um bilhete desde… sei lá, provavelmente nunca paguei tanto por um bilhete. Aposto que há países orientais em que se podia fazer uma orgia de médio porte com este valor. O que hei-de fazer? O prometido é devido. Meti o meu saco de rúpias com o símbolo de cifrão em cima da mesa e pedi os bilhetes. Sala composta, este trimestre a NOS apresenta resultados positivos à custa das minhas poupanças. “Até ao fim do mês o jantar é salsichas Izidoro todos os dias, miúdo!”. Deu-me um sorriso de cortesia com os olhos de “lá está o meu pai com aquele discurso que ninguém entende”.

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Menino, amanhã vamos ver o Valerian!

Uma das conversas que tive recentemente com o meu filho revelou-se um pesadelo paternal. Na sequência de um conjunto cirúrgico de elaboradas perguntas cheguei à catastrófica conclusão que o miúdo não tem interesse por ficção científica. “Como é que isto é possível?”, pensei. Quer dizer, parece-me humanamente impossível alguém não gostar de ficção científica, esse género nobre das artes narrativas. Star Wars? Nada. Star Trek? Quê? Desenhos animados nos canais de putos com temas de ficção científica? Nenhuma. Temática sci-fi no Netflix? Nem lhe toca. Nessa noite adormeci em posição fetal banhado em lágrimas. O pontapé furioso com o dedo mindinho descalço num canto bicudo na cómoda não ajudou a aliviar a dor. “Então é isto que tanto falam, na desilusão de um pai que criou um filho para nada.”. Chorei no ombro da minha esposa.  “Tenho quase a certeza que não é nada disso.” Respondeu-me ela. “Eu também não gosto de ficção científica.” Incrédulo, gritei num tom agudo e pueril. Senti uma das chávenas da coleção Space 1999 a rachar com a frequência. “O… quê???? E os filmes que vimos?”, perguntei furioso. “Menti. Fingi. Pronto, está dito!

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