Desde 24 de Junho de 2003

Category: Cinema (Page 6 of 26)

Suspiria (1977)

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Ver filmes de terror na noite de Halloween é uma tradição muito portuguesa fortemente enraizada nos nossos costumes e cuja origem remonta ao distante ano de 2009. É surreal a maneira como uma tendência que conhecíamos apenas dos filmes americanos de repente se transforma num segundo carnaval neste jardim florido de lusofonia, numa medrança exponencial violentamente interrompida por um feriado que foi considerado, unilateralmente, supérfluo. Foi nesta tendência que embarquei este ano, de ver um filmezinho de terror antes de me fazer cedo ao vale de lençóis que havia que acordar cedo no dia seguinte para picar boi. A época é fértil em lançamentos novos e reedições, daí que tenha escolhido um Argento perdido que nunca tinha visto por uma daquelas razões que todos temos para ir adiando um filme. Suspiria foi a gema e em nada me arrependo.

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La merde (2014)

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Um brusco tremor e o elevador detém-se. A escuridão rapidamente é substituída por uma tímida luz de emergência que cataliza o incómodo do momento numa das paredes. Quinze dolorosos minutos de silêncio passam e um bater na porta precede as doces palavras de um gentil bombeiro “Esta merda ainda vai demorar. Os gajos da empresa dizem que o contrato de manutenção não cobre intervenções rápidas. Foi o mais barato. Se for preciso mijar, mandamos uma mangueirilha evacuatória.” Estavam presos naquele cubículo um jovem e uma idosa de aspecto bastante carcomido, como se a vida lhe tivesse passado por cima de locomotiva enquanto ela estava amarrada aos carris. Repetidas vezes. Ao dia. “Temos aqui um ligeiro problema”, insinuou a velhota. “Então?” Respondeu o rapaz incapaz de lhe fixar o olhar.  Ela inspira e confessa pesadamente. “Eu tenho uma mutação rara que se não tiver sexo 3 em 3 semanas expludo em merda pelos poros”. O jovem arregala os olhos e sem conter o espanto deixa escapar três onomatopeias imperceptíveis que a velha,estranhamente, parece entender. “É daqui a 30 minutos, olha!”. Virando-se de costas levanta a camisola e expõe o corpo nu. O rapaz continua horrorizado e ela diz “Oops!”, sorri embaraçada e levanta as peles que tapam um contador em contagem decrescente orgânico cravado na própria estrutura anatómica. O mostrador conta “00:00:00:14:36”. Volta a tapar-se e vira-se novamente para ele. “O que quer dizer com explodir em merda pelos poros?” pergunta ele hiperventilante.  “30 segundos antes da explosão sinto uma vibração na coluna. Depois dispo-me e uma reacção fisiológica evacua-me uns bons litros de fezes a alta velocidade. Como um espirro mas com merda a sair pelos poros do corpo todo.” Continua a senhora, aparentemente habituada a explicar o seu caso. “E tem isso desde quando? Consegue sempre ter sexo para evitar esse espirro?” indaga horrorizado o rapaz incrédulo nas suas próprias perguntas. “Tenho há 17 anos e só por duas vezes tive sexo para o evitar. De resto tenho uma sala em casa preparada para que isto aconteça. Coloco-me no centro, expludo em merda pelos poros e um sistema de lavagem automático limpa-me a mim e à sala em 2 ou 3 minutos. Já me habituei. Hoje teria chegado a tempo se não tivéssemos aqui ficado presos.” A suar profusamente, o rapaz analisa a velha de alto a baixo. Era uma visão de hórrida repulsa. Encarquilhada meio elefante em decomposição meio queijo Camembert, parecia ter uma excreção sebácea a escorrer pelas pernas e pescoço. O seu sorriso era como o suave beijo da morte, exalando vapores capazes de anestesiar totalmente um cavalo em pleno vigor. “E agora?” – pergunta a velha – “fodemos ou é para rebentar em merda?”.

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Zombie Hunter e a escassez contemporânea de boa série B

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Não sou contra a tendência dos grandes estúdios enveredarem pelo caminho do Grindhouse e filmes em homenagem à gloriosa série B que fez de nós homens (ou mulheres ou híbridos extraterrestres). Fazem-no com bons orçamentos permitindo a realizadores antes vetados à poupança extrema alargarem os seus limites a algumas das mais explícitas e realistas carnificinas alguma vez vistas. O problema é que esta vaga de série B mainstream veio matar a verdadeira série B, retirando-lho grande parte do escasso mercado que ainda tinha. De repente os pueris cinéfilos das nossas praças acham que Machete, Death Proof e Planet Terror são o “real deal”. Acham que os vampiros, lobisomens e zombies são assunto para blockbuster e para o Brad Pitt humedecer quanto vagináceo  trintão e quarentão por aí haja. Com este misto de boa vontade com o mais fétido mercenarismo comercial, as produções de série B que fizeram de países inteiros notáveis fontes da cinéfilia do culto do morticínio começam a desaparecer no nosso panorama. Onde antes haviam vagas de géneros exploitation capazes de encher duas salas de prateleiras com capas VHS amareladas, hoje lá vão saindo um ou outro ocasionalmente. Os Asilum e os SyFy não contam, porque são fruto da mesma desonesta exploração comercial que os blockbusters de zombies. Só que em vez de fazerem um filme, fazem 2500 com o mesmo orçamento. Opções…

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O Sérgio foi ver o Manderlay

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Olá bebé. Não dás uma beijoca ao teu xuxu?” sussurrava melosamente o Sérgio às miúdas no liceu. O intervalo tornava-se assim um laboratório de ensaios que transformariam o Sérgio num comercial de sucesso para os finais dos anos 90. Isto, claro, até uma grave crise de consumo o ter levado a aceitar um contrato de rescisão bastante lesivo para os seus interesses, que na ansia de pagar as prestações do BMW o Sérgio se vira obrigado a assinar. O Sérgio gostava do Van Damme e de filmes de porrada em geral. Não gostava quando as personagens falavam muito ou quando passavam mais de 10 minutos sem haver turbulência nos filmes que via. Sentia-se confuso com flash backs e quando alguma situação mais inesperada ocorria numa narrativa menos convencional não era raro o Sérgio perguntar “É um sonho?”. O artefacto do “sonho” era recorrente nas novelas e séries dos anos 80 que permitia avaliar a reação dos  espectadores a mudanças futuras. O sonho é também um mecanismo narrativo de failsafe, uma rede que permite fazer o rollback de um arco narrativo menos bem aceite. O Sérgio gostava mesmo era de coisas lineares. “Há um mau muito mau que aleija meninos e um bom que sabe karaté aparece para o matar, FIM.

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After Earth (2013)

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Will Smith sempre foi um insuportável bonacheirão, um pirralho de morais questionáveis, na eterna fronteira do adorável / insuportável / “matem-no com fogo”, um efeito secundário de um sitcom que correu melhor do que esperado. Agora, subitamente, transformou-se num pai preocupado, num modelo de patriarquia. Uma abrupta mudança de direcção cuja inércia do movimento rápido nos deixou a todos com uma certa náusea, algo comparável com enjoo marinho ou como quando atravessamos o Algarve pela montanha junto a Espanha num autocarro de Rodoviária de 1982, com aquele inebriante cheiro que é uma mistura de plástico em decomposição com ceroulas usadas duas semanas seguidas sem ver água. Neste novo modelo de Will Smith assistimos a tentativa após tentativa de enfardar o seu filho na elite Hollywoodiana, como que a querer encaixar um cubo num buraco redondo. É nobre que o faça, é o seu dever de pai. No entanto, como estrela de topo na indústria com décadas de experiência, Smith deveria perceber como funciona a sua própria profissão e compreender que há coisas que não podem ser forçadas. Uma criança sem carisma, sem talento e sem as qualidades representativas do seu pai irá ser, no limite, chacinado pela crítica e pelo público.

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Star Trek Into Darkness (2013)

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No saudoso verão de 2009 saiu o primeiro tomo deste franchisado reboot e eu fui ver ao cinema, como ditou o reflexo condicionado de consumidor seguidista e pouco exigente. Durante umas semanas não falei no filme, deixei que as minhas primeiras impressões e preconceitos sedimentassem. Lá me sentei numa pedra em posição yoga e ouvi os amigos que me pediam para controlar o ódio. Vi o que de positivo se podia ver nesse filme e acabei por aceitar este novo Star Trek em realidade paralela para permitir uma nova dose de aventuras que não colidissem com as anteriores. Esse amor rapidamente passou e esta sequela nem sequer a fui ver ao cinema, porque “puta que os pariu a todos mais as sequelas”. Vi o filme quando chegou ao videoclube do povo e estou então pronto para continuar a dissecar os blockbusters deste verão de má memória, e que Deus nos livre e guarde de mais épocas assim. Tende piedade de nós.

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Pacific Rim (2013)

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No início deste verão prometi a mim mesmo ficar longe dos blockbusters para bem da minha sanidade mental e daqueles que me rodeiam. Não se tratava de uma regra intransigente, antes um “prime directive” com grande probabilidade de ser quebrada. Decidi mais tarde outra coisa mais flexível, ver os filmes mas não falar deles. Basicamente para não importunar ninguém com opiniões geralmente pouco populares. Ontem estava a afiar a corrente do meu Husqvarna 240 e-series TrioBrake (com motor X-Torq) e pensei “Ora foda-se, tenho que levar todos os dias com presunções alheias sem direito a contraditório e não posso opinar em relação a meia dúzia de filmecos cujo principal intuito é secar as mesadas de teenagers que lutam ferverosamente por perder a virgindade pelas nossas lindas praias de areia branca a perder de vista? “ E eis-me aqui, no momento crucial que conclui esta complexa linha de raciocínio.

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Tucker & Dale vs Evil (2010)

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No início do ano vi um filme que algum tempo vinha sinalizado em listas de referências como “filme a não perder”. Apesar de estar já familiarizado com o nome, nunca me ocorreu que Tucker & Dale vs Evil fosse nada mais que um simples filme de terror em que meia dúzia de adolescentes se dirigem para um fim de semana de deboche descontrolado numa cabana da floresta, sem contacto com a civilização, para ver a sua diversão ser interrompida inesperadamente por uma série de decapitações, esventramentos, esquartejamentos e a tradicional decepar dos membros inferiores em plena locomoção. E é exactamente nesta expectativa redutora que Tucker & Dale vs Evil pega para nos levar a um passeio, tirando-nos da perspectiva enfadonha das patéticas vítimas (que quase sempre merecem o que o destino lhes guarda) para que possamos compreender o lado do eternamente injustiçado assassino.

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Only God Forgives (2013)

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Há uns meses atrás tive o infortúnio de assistir a um testemunho de um jovem que se sentiu impressionado em demasia com Drive, filme de 2011 de Nicolas Winding Refn. O garoto andava perdido na vida, sem planos de futuro, sem namorada, sufocado em casa dos pais, desmoralizado e sem esperança num mundo melhor. Depois de ter visto a luz no enxameio de bofetada requintado protagonizado  por Ryan Gosling decidiu passar as noites a conduzir pela cidade a ouvir a banda sonora do filme e a imaginar cenários de grandeza. Um dia foi ao McDrive e manteve a música em generoso volume. Foi atendida por uma gótica meio metalizada que provavelmente tinha dois piercings no clitóris. Ela sentiu uma atração por ele e iniciou um agressivo processo de flirting. “Olá”, “Como te chamas”, “Boa música!”, etc, até que chegou à terrível pergunta “O que fazes?”. O moço respondeu “Conduzo!” com um inexplicável orgulho. E ela volta à carga ligeiramente confusa “Conduzes o quê? Um taxi? Uma carrinha de entregas?”. Nesta altura o jovem sentiu o peso do ridículo e arrancou, tendo-se esquecido de trazer a encomenda. Podia-se adaptar para o remake português do filme. Chamar-lhe-ia “McDrive”.

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Os scifis alucinogénicos dos anos 90

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Esta semana um amigo chamou-me a atenção através de um link no facebook para uma review a um filme scifi dos anos 90 chamados Space Truckers. Cliquei no vídeo e de imediato o meu cérebro explodiu em recordações e referências obscuras de filmes que tinha visto e por alguma razão o meu cérebro achou por bem omitir. Os anos 90 foram profícuos em projectos imaginativos e de multicores caleidoscópicas, em arrojo e coragem de avançar por terrenos desconhecidos ou excêntricos. De modo mais ou menos feliz, todos garantiram lugar na memória dos tempos. Ao contrário do que se faz actualmente, reciclagem e reaproveitamento de fórmulas gastas, os estúdios dos anos 90 permitiam-se a algum divertimento, os actores aceitavam papéis perfeitamente fora do âmbito da sua paleta de representações. Os executivos, imersos em trips intermináveis de cocaína, assinavam qualquer delírio narrativo que lhes colocassem na mesa, enquanto os sesu advogados se deliciavam sexualmente com autocarros de putedo multigénero (e às vezes equídeo)  que lhes era entregue ao domicílio.  Vamos aqui falar de alguns destes filmes e dos elementos que fazem deles autênticas pérolas de devaneio criativo, coragem e testículos de aço. Dois de cada vez, para não enfartar.

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Porque deixei de ver filmes de super-heróis

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A semana passada dei boleia ao Álvaro da contabilidade. A viagem era curta, mas o infeliz acontecimento de um camião se ter despistado no meio da ponte que preciso de atravessar para chegar a casa, quando me encontrava já num ponto de não retorno, obrigou-me a enveredar pela eventualidade mais horrenda com que um ser humano se pode deparar: a conversa de circunstância. Olhei pela janela do meu lado enquanto o Álvaro olhava pela janela dele com sintomas de um ataque de pânico. Eu abomino a maior parte do contacto social, mas o Álvaro é de outra divisão. É um tipo que tem ataques de pânico frequentes por ansiedade social. Perguntei-lhe se gostava de cinema. Olhou para mim todo sorridente, suado e com aspecto ligeiramente paliativo e disse-me que sim. Disse que ia ver o Super-Homem porque era um filme espectacular. Eu perguntei-lhe porque raio acharia ele espectacular um filme que ainda não tinha visto? “Às tantas vais ver e depois é uma desilusão, Álvaro. Isto de uma pessoa criar expectativas é mau para tudo na vida, desde o sexo ao cinema.” Disse eu tentando legar alguma sapiência ao frágil Álvaro.  Bom, deviam ver como o rapaz ficou. Começou a hiperventilar e só não morri ali com o crânio esmagado porque o Álvaro é um franganito incapaz de carregar mais que uma resma de papel de cada vez. Olhou para mim com as labaredas do inferno inflamadas nas retinas e disse-me que era espectacular porque tinha visto o trailer, e que os efeitos especiais eram os mais caros de sempre, e que o Nolan também tinha realizado (sic) e até já tinha visto online umas críticas e diziam que era o melhor filme de super-heróis de sempre. Para quebrar o gelo ainda lhe perguntei o que ele achava do facto de lhe terem tirado as cuecas vermelhas do lado de  fora e o terem obrigado a manter a sua roupa interior no seu devido lugar. Não me respondeu. Pegou no telemóvel e começou a jogar Snake II.

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Spring Breakers (2012)

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Há escassos dias iniciei-me no universo de Harmony Korine com Gummo. Desde sempre que estou familiarizado com uma icónica imagem do filme, em que uma criança de aspecto socialmente descuidado come um prato de esparguete sentada na banheira. A água cinzenta escura, um tabuleiro apodrecido, os azulejas cheios de bolor e um pedaço de bacon colado com fita cola à parede. Atenção que eu acabei de escrever “um pedaço de bacon colado com fita cola à parede”… Além de ser um dos frames mais icónicos dos foruns e imageboards de cinema por essa Internet fora é também Gummo in a nutshell. Mais ainda, é um concentrado de essência do pouco que vi de Korine.

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Usenet da Telepac, a maior incubadora nacional de cinéfilos

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Todos estamos habituados a larguras de banda supersónicas, serviços web 2.0 que vieram tornar obsoleta a necessidade de saber ler mais de 140 caracteres de cada vez e interfaces gráficos tão pesados que nos obrigam constantemente a renovar o parque informático para fazer exactamente o que fazíamos há 20 anos atrás. Aceder a filmes no seu formato “não legal” é tão natural como respirar e mesmo aquele amigo que abusa da expressão “o computador está a pensar” e faz “remover hardware com segurança” para não apanhar vírus sabe como sacar uma cópia de boa qualidade do último blockbuster que foi lançado em DVD. Mas tempos houve em que não era assim, tempos antes dos blogs e das redes sociais, tempos antes mesmo dos sites dinâmicos em que o gif animado servia para colocar um símbolo “under construction” a rodar todas as cores do espectro em páginas adormecidas. O acesso a pirataria fazia-se pelos servidores de newsgroups (usenet) da Telepac.

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10 anos de Cinemaxunga: uma estável intermitência

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Faz no próximo dia 24 de Junho 10 anos que escrevi a minha primeira review de um filme sob o nome Cinemaxunga. A origem é simples e linear, sem subjectividades filosóficas ou dilemas existenciais. Estava na minha casinha de solteiro deitado a ver um filme às 4 da manhã quando me virei para os meus colegas de apartamento e disse duas coisas: “Tenho que me levantar às sete e meia para ir trabalhar e ainda aqui estou” e “Este filme é tão horrível, não acham? Estão a borrifar-se? Ai é? A Internet há-de saber disto, amanhã começo um blog e eles vão temer a minha ira, irão querer dar-me milhões para que me cale, irão ameaçar-me de morte com medo da minha voz revolucionária, irão… zzzzz” e voltei a adormecer.  E, de facto, no dia seguinte criei mesmo um blog, o que vem provar que aquelas substâncias de que falam tão mal não são prejudiciais como os média mainstream, os governos neo-liberais ou os deuses do povo escaravelho que controla secretamente o planeta nos fazem acreditar. Não era o meu primeiro blog, era apenas mais uma  tentativa de escrita numa interminável série de falhanços totais. Ignorei a imensa lista de afazeres que tinha pela frente no meu trabalho e comecei a escrever. Destilei um pouquinho de ódio e o efeito não foi tão poderoso como imaginei nas minhas fantasias de Spider Jerusalem. Publiquei e fui à minha vida.

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Warm Bodies (2013)

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Por cada filme de zombies fraquinho que é lançado, Lucio Fulci mata um gatinho do outro lado da tumba. Os filmes de terror que saem actualmente são praticamente todos maus. Os de zombies ainda pior. As causas já foram por várias vezes aqui expostas. A mais recente é esta invasão teenager à procura de emoção,  as caldeiradas hormonais, as imaturidades emocionais de quem não tem um crédito à habitação para pagar ou de quem nunca teve que abandonar o idealismo pela lógica da sobrevivência. Warm Bodies pretende ser o outro lado dos filmes de Zombies, mas é na realidade uma mal disfarçada tentativa de sacar euros à conta de um Twilight com zombies coladinho ao cheirinho de Romeu e Julieta, porque quando se copia de uma obra de Public Domain não é  plágio é adaptação livre.

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The Last Stand (2013)

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O senhor Arnold Alois Schwarzenegger está de volta. Depois de um intervalo de 10 anos para fazer o serviço político obrigatório do clã Kennedy, Arnie volta ao cinema de acção e da violência gratuita. Estaria a mentir se dissesse que este regresso me é indiferente, afinal de contas estamos a falar do herói da nossa adolescência, o protagonista dos Terminators, de Commando, Predator, True Lies, Total Recall ou Conan (o que não é homem-rã). Impulsionado por esta nova onda de “I’m too old for this shit” movies, Schwarzenegger optou por fazer mais uma perninha a assentar bofetada de criar bicho, distribuir balázio e atirar oneliners relacionadas com os problemas da velhice.

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Mama (2013)

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Para os aficionados de longa data do cinema de terror é mais que óbvio que o género está morto. Não no sentido de morto, enterrado e esquecido. Diria que está em coma induzido e mantido no limbo da ausência de criatividade, a canibalizar-se, sofre de doenças de consanguinidade. Arriscar sai caro e usar as mesmas técnicas para assustar teenagers de 14 anos funciona sempre, porque todos os anos há um lote novo de teenagers que nunca foi impressionado antes. Para nós, os que seguem o género desde o início dos tempos (videoclubes, vá!), pouco material novo existe. É mais rentável para mim apostar em clássicos que escaparam do que investir o meu precioso tempo a ver templates açaimados e letárgicos. A culpa, na minha humilde opinião, é do Saw,  do gore CGI e da banalização do jump scare.

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La Jetée e a subjectividade da segunda visualização

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Esta pretende ser uma primeira abordagem a um velho tema do universo da critica cinematográfica, que é uma segunda avaliação a um filme e um resultado completamente diferente da primeira. Todos já passámos por situações similares. Um filme que foi bom (ou mau) e que a uma segunda visualização, depois de um considerável período de tempo, afinal teve impacto completamente diferente. Os factores são vários, conhecidos e comuns. A companhia, o estado emocional ou hormonal, influencias psicotrópicas e índice de embriaguez, o peso do hype ou o amour (toujours l’amour). São influências temporárias que nos toldam o juízo e nos fazem, afinal, humanos.

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A importância dos clássicos

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“Esperei 13 semanas para conseguir alugar o primeiro Terminator, paguei uma multa avultada porque tive medo de entregar o Exorcista de noite, ouvi ralhetes humilhantes porque não rebobinei, estive 3 horas na fila para conseguir bilhete para a estreia de Back to the Future 2, esperei para ver a estreia nacional do Phantom Menace em Outubro de 1999 apesar de o ter no meu disco rígido desde Maio, ri e chorei, amei, apalpei, perdi metades inteiras de filmes com a língua a dançar na boca da minha acompanhante. Presenciei coisas que ninguém acreditaria. Um projector que pegou fogo a meio do  Blair Witch Project, uma velha que colapsou no Schindler’s List, duas primas que nunca tinham ido ao cinema a chorar os 127 minutos inteiros de Passion of the Christ porque nunca duvidaram da veracidade da escrituras sagradas. Todas estas experiências se perderão um dia, como lágrimas na chuva. É altura para falar da importância dos clássicos.”

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Kill Your Television*

Kill Your Television

Se há coisa que enfada é quando aqueles paneleiros que passam a vida a ver reality shows, programas de apanhados diários na SIC, 3 horas diárias de Facebook e meia dúzia de jogos de futebol ao fim de semana chegam junto de mim e dizem “Sinceramente, não sei como tens tempo para ver filmes, deves mesmo ser um traste desocupado. Eu mal tenho tempo para me coçar.” Normalmente opto por um sorriso e um fuga rápida para não me chatear, porque a malta com este perfil psicológico é problemática, com capacidades aperfeiçoadas de indução de culpa e geneticamente seleccionados para a peixeirada. Mas não é de bestuntos que vos vou falar, é de gestão de tempo. E falo-vos da minha experiência pessoal e dos objectivos a que me proponho.

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