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Category: Cinema (Page 6 of 27)

The New Barbarians (1983) – Walkthrough

Dr. Kuka Veludo apresenta
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The New Barbarians (1983) - Walkthrough
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Nos dias que correm as pessoas não têm tempo a perder, querem a rotina automatizada e despachada antes das 20h para poderem passar o resto da noite a ver a SIC. Ora, a pensar neste flagelo que assola a nossa sociedade, vou testar hoje o conceito do walkthrough para filmes. O walkthrough, em videojogos, é o termo usado para o guia que permite ao jogador mais impaciente avançar pelos níveis sem delongas. Em cinema pode ser igualmente útil. Porquê perder imenso tempo com os actores a matracar infindáveis bláblás quando alguém o pode fazer por nós, como uma mamã águia que mastiga os alimentos antes de os regurgitar carinhosamente na boca dos seus filhote? Interessa mesmo perceber a simbologia implícita, os segredos da composição e do grafismo, a crítica social, a arte que centenas de profissionais dedicam para que os possamos insultar quando pirateamos os seus filmes da Net? Vamos então começar por um clássico dos videoclubes dos anos 80, The New Barbarians ou Heroes of the Wasteland, que em Portugal foi abençoado com o original título “Os Implacáveis Exterminadores”. A minha descrição será acompanhada por videos em Webm, um prodígio do novo HTML5.

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Once Upon a Time in Jerusalem

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A moda cinematográfica do momento é a Bíblia. A Bíblia em 3D. A Bíblia em 3D com imenso CGI. E jovens semi-nuas, só para não alienar o público ateu, agnóstico, stoners, pedófilos, sodomitas e membros do clero em geral. O fabuloso “The Fist of Jesus”, filme já abordado por mim e por outros apóstolos em conversa casual de facebook, aproveita a onda e inicia um crowdfunding para tentar extender esta obra para um patamar de reconhecimento global em versão longa metragem sob o nome de “Once Upon a Time in Jerusalem”. Mas afinal que de que trata esta heresia do “Fist of Jesus”?

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10 factos inúteis sobre Sylvester Stallone

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Andei às voltas com os papelitos na minha carteira e decidi compilar num artigo um  manual que possa fazer qualquer azeiteiro do tunning num especialista em Sylvester Stallone, porque os mais velhos se estão a reformar e não há especialistas suficientes para os substituir. Ora aqui fica então um “10 coisas que provavelmente até sabias sobre Stallone mas nunca te debruçaste muito sobre o assunto.” Com extras.

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E o Netflix português? (o estado da nação)

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Todos os meses aparece um paneleirinho no telejornal com uma resma de folhas, listagens de impressoras matriciais em papel contínuo, a dizer que o mundo está mal e os lucros caem porque Portugal esconde o pior antro de pirataria de que há memória no planeta nos últimos 1000 anos. Que não consegue pagar as prestações dos BMWs e das casas do Algarve. Que se fosse ele a governar, mandava enforcar mil putos que fazem downloads “ilegais”, para dar o exemplo, e que devia dar em directo na TV no Zig Zag da RTP2 para as crianças aprenderem que piratear conteúdos pode correr mal. Esse mesmo paneleirinho é mais tarde chamado ao tribunal onde apanha um puxão de orelhas porque violou quantas leis existem de privacidade e as suas bases de dados não obedecem a uma única directiva da comissão nacional de protecção de dados. Que afinal até usou software pirata para elaborar os resultados porque “desconhecia que o Office era a pagar”. Esta última parte já não passa no telejornal das 20h porque não tem o glamour necessário para meter desdentadas de 91 anos a elaborar opiniões baseadas em preconceitos sócio-culturais colonialistas e orientações católicas pré-concílio vaticano segundo. E com isto fica a ideia de que somos todos uns ladrões que não querem pagar a magnifica qualidade e variedade de produtos de preço acessível que o mercado nacional nos disponibiliza em prol de uma nação desenvolvida sob a batuta da excelência artística. A verdade é que isto é a mais vil mentira. Um grupo restrito de distribuidores quer extrapolar os lucros oferecendo horríveis produtos a preços pornográficos e querem que o público os consuma à força, sob pesada ameaça, apoiados por um sistema que os protege e obriga o seu povo a empobrecer para que estes tipos possam brilhar na bolsa, nas reuniões com as empresas mãe e naquelas reuniões secretas onde invariavelmente alguém acaba voluntariamente a oferecer uma rodada de felácio*.

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Sightseers (2012)

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A dor da perda e a tardia percepção de se amar sem ser amado desencadeia uma série de mecanismos de auto-defesa compulsivos inconscientes e involuntários. Uns enfardam pastelaria sortida na tentativa de encher o colossal vazio de chocolate, creme de pasteleiro e massa folhada à base de gorduras hidrogenadas e cancerígenos em geral, outros consomem inutilidades na esperança de substituir a dor da alma pelo catálogo da Benetton, outros compram cães, gatos, coelhos e toda uma panóplia de fauna que por vezes atravessa a fronteira daquilo que é um animal de estimação para aquilo que poderá ser uma bela chanfana. Outros compram uma caçadeira de canos serrados, metem-se num ford escort de 1997 e atravessam 0 país a matar gente para depois relaxarem num belo banho de sais enquanto esfregam os sangue e as vísceras da cara. O importante é exteriorizar a dor e não enlouquecer com ela a fervilhar-nos o cérebro até à loucura

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Robocop (2014)–Em defesa de José Padilha

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No decorrer das filmagens de Robocop, José Padilha terá ligado ao seu conterrâneo também realizador Fernando Meirelles num aparente breakdown nervoso a dizer que não aguentava mais, que estava a ser a pior experiência da sua vida e que o estúdio recusava 9 em cada 10 ideias que propunha nas filmagens. Além disso, sabe-se também que Padilha e o protagonista Joel Kinnaman lutaram para que o filme tivesse um rating de R (maiores de 16) de modo a criarem uma obra mais violenta, com uma linguagem (falada e cinematográfica) que lhes permitisse dar corpo à sua visão ao mesmo tempo que se tornava mais fiel ao original. Porque terá sido Padilha assim tão castrado?

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Top 5 de flops que se tornaram no meu culto.

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O flop, esse chavão que dita o destino de um filme nas mãos de um estúdio e da contabilidade matreira de Hollywood . Só pode ser considerado flop um filme com aspirações a world domination, actualmente um filme que custe pelo menos 100 milhões de dólares a produzir, distribuir e publicitar. Ora, um filme independente  feito por amor à arte nunca é um flop, basta que apareça mais um ou duas pessoas do que mãe do realizador já é êxito transbordante. É um termo quase exclusivamente aplicável ao chamado blockbuster. No Verão de 2013 foi vê-los cair. Parecia a época de caça ás perdizes, nem tinham tempo de levantar voo, porque agora Hollywood define o flop em menos de 24 horas de exibição. Muitas são as vezes em que me meto a pensar de que alguns destes filmes podem ter êxito em circuitos diferentes daqui a 10, 20 ou 100 anos porque o tempo os ajuda a persistir. Os gostos mudam e, quiçá, uma inversão na evolução nos faça amar esta vasta parolice que Hollywood nos tenta enfiar pelas goelas abaixo todas as semanas. Isso aconteceu imensas vezes no passado e o que me traz aqui hoje é uma singela lista de 5 filmes que foram absolutamente humilhados na sua estreia e hoje em dia são filmes que considero obras superiores.

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Telemóvel, o terror dos filmes de terror.

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Até aos finais dos anos 90 os filmes de terror viviam essencialmente da criação de situações onde os protagonistas se viam isolados e de seguida, em filinha indiana, eram chacinados como cabritos em véspera de Ano Novo. Com a chegada das redes de telemóvel, que nos estados unidos foi uns aninhos mais tarde devido a questões de norma tecnológica, chegou também o pesadelo dos argumentistas. E agora? Seja qual for a situação de um filme dos últimos 50 anos, facilmente se resolveria com uma chamada para o 112 ou para um amigo. Este atalho narrativo por telemóvel não iria apenas resolver tramas em filmes de terror. Episódios de Seinfeld, filmes inteiros de Woody Allen e grande quantidade de cinema que lida narrativas que têm a génese em problemas de comunicação. É certo que o cinema (e Hollywood em particular) têm problemas em adaptar os guiões à evolução tecnológica, como é o caso da utilização de informática que raramente tem algum paralelo com a realidade. Por vezes existem até guiões que passam décadas inteira em development hell e quando estão prontos para a fase de produção vêem elementos chave serem ridicularizados por um salto tecnológico que apareceu entretanto. Como está a lidar a indústria do Horror Movie com esta alteração no tecido social?

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Resolution (2012)

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Não costumo contextualizar temporalmente os meus posts para que sejam lidos em qualquer altura sem serem maculados pelas referências a eventos que o tempo entretanto fez esquecer. Seja amanhã, daqui a dois anos ou quando os arqueólogos extraterrestres, daqui a 1600 anos, encontrarem o servidor onde tenho o blog alojado. No entanto hoje vou abrir um excepção e dizer que estamos em pré-época de Oscars, aquela silly season cinéfila onde se enfolam pastelões à categoria de obras primas para que possam servir de veículos de fama a algumas pessoas e depois ser esquecidos em enormes cestos nos hipermercados a 1.49 e ninguém os comprar. Já passei por tantos anos disto que desisti de discutir a futilidade do evento. “És do contra!”, “Não admira que não gostes destes filmes, só vês merda.” e o clássico “A crítica é unânime em eleger (novamente)  este como o filme do século.” A minha opinião é que apenas uma pequena percentagem dos filmes têm o seu real valor espelhado nestas festas, que estes eventos são actos de puro marketing que servem apenas para concentrar toda a atenção do mundo nos filmes de meia dúzia de estúdios (como se outras cinematografias não existissem) e sem valor artístico e que os vencedores são manipulados de acordo com uma agenda pré-definida. E assim procuro por me afastar para que não me volte a rebentar a veia que tenho na testa que se irrita cada vez que um paneleiro para aqui vem recitar odes às mentiras que Hollywood lhe enfia no cu. Este ano decidi regressar ao cinema de terror, um gênero do qual me tenho afastado porque sofreu um duro golpe criativo nos anos 2000. Agora parece estar a aparecer uma nova onda de belo cinema de terror independente e é isso que vou investigar. Comecei com Resolution, uma obra de Justin Benson e  Aaron Moorhead, autores que anteriormente nos trouxeram obras como… nada. Nada que tenha cá chegado comercialmente, pelo menos.

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Frances Ha (2013)

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Invejo esta juventude que se inebria instantaneamente com arte. Que perante uma avassaladora dose de poesia, lirismo ou cinefilia se deixam incapacitar fisicamente com a sensibilidade, como se o talento e genialidade criativa os deixassem em coma catártico e por momentos etéreos padecem de   “Oh my god it’s full of stars”-ismo. Porque eu sou um talego, um calhau emocional incapaz de absorver a beleza artística, mesmo que ela me seja arremessada pela própria incarnação física e cientificamente provada do deus Apolo. Lá vou melhorando com a idade, a experiência. Filmes que achava merdosos passam a fazer sentido, sentimentos que em tempos classifiquei como “de velho” fluem agora livremente por mim. Todo este processo leva o seu tempo, é como os corais ou o musgo, vai conquistando o seu espaço, vai alterando a nossa percepção, amadurecendo. A experiência é, na maior parte das vezes, a maior aliada do cinéfilo lento. Quero com isto dizer que não compreendo como se vêem agora por aí putos com 17 anos que descodificaram o sentido da vida pela cinematografia de Bergman, compilam teses académicas sobre a comoção que lhes causa o neo-realismo italiano ou como absorvem o essencial da vida pelas alegorias neuro-boémias da Nouvelle Vague. Quando eu aos 17 anos nem a moral do primeiro Rambo percebia muito bem. Este excesso de academismo e o atalho na ciclo natural da cinefilia não é, na opinião deste abandonado escrivão, saudável. E assim chegamos a Frances Ha, um filme bonito e de bela representação, mas carcomido no seu núcleo.

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Humanoids from the Deep (1980)

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Quando as festas começam a morrer, a música desaparece, o chão se torna perigosamente escorregadio e o dia começa a nascer, dou comigo a defender de modo violento a minha teoria de que os filmes de terror dos anos 80 e inícios dos anos 90 que tivessem nudez ou uma cena de sexo compostinha no primeira acto, eram uma merda em termos de valores de produção e de satisfação reduzida para o fã inveterado de uma boa matança. E nestas alturas levanta-se sempre um bêbedo do fundo da sala e pergunta “Então e o Humanoids from the Deep ?”. Então paro para repensar e reflectir na minha vida, nas minhas escolhas e a questionar todas as decisões, resoluções e juízos que fiz até então. “Será a minha vida uma ilusão? Um engano? Quem sou eu?”. E depois respondo “Ah, Ya!” num ataque fulminante de adolescência compulsiva, mas sem a habitual ereção.

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A Boy and his Dog (1975)

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Surgia em 1975 um dos filmes mais mal compreendidos de  sempre. Um pós-apocalíptico que não era drama nem acção, um bocado aparolado nas escolhas estéticas, personagens moralmente desprezíveis e cujos protagonistas eram um cão telepata e um jovem violador. Foi arrasado pela crítica, desprezado pelo público e maltratado pela sua produtora, mas o tempo fez-lhe justiça. Por isso puxem uma cadeira e comam um pudinzão, vou contar-vos a história de um rapaz e do seu cão.

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Bad Milo! (2013)

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Por muito informados que estejamos por todas as fontes que nos ejaculam ao segundo infinitos jorros de informação, nada sabe melhor que ver um filme espectacular que nunca tínhamos ouvido falar. Filmes que saltitam espontaneamente de um ou outro feed maioritariamente monótono. Filmes que apanhamos acidentalmente da RTP2. Às vezes são pessoas com gostos diametralmente opostos ao nosso que dizem “Ai que horror! Que filme horrendo, uma ofensa ao bom gosto e um atentado aos valores familiares e da moralidade pública e social.” Desta feita venho-vos falar de Bad Milo, um filme tão surreal quanto simbólico, a história de um homem que materializa um demónio com toda a sua fúria reprimida. Um típico funcionário de classe média, abusado para manter o ganha pão da sua família em tempos incertos de empregabilidade frágil. Um dia tudo é canalizado para um pequeno e adorável, mas igualmente mortífero e cruel, demónio. Uma criatura que lhe sai do rabo a cada vez que precisa de matar todos os que se atravessem no caminho do nosso herói. Quem nunca evacuou um demónio intestinal capaz de aniquilar toda a vida numa raio de meio quilómetro que atire a primeira pedra.

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Red Heat (1988) e o cacifo de titânio reforçado

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Crianças, juntem-se aqui que hoje temos história. Coloquem os vossos chapéus de papel de alumínio e elétrodos de pinça no escroto1 porque vamos viajar no tempo. Nos anos 80 os filmes de Arnold Schwarzenegger era um evento anual que nenhum teenager sedento de sangue e carnificina podia perder. Numa época sem Internets e com as revistas estrangeiras de cinema a custar meio ordenado mínimo, a criançada passava os dias a lamber os cartazes nas salas de cinema. Cartazes que às vezes chegavam a ter mais de um ano de antecedência. Tanta a antecedência que há casos de filmes mudaram entretanto de nome ou outros que nem chegaram a ver a luz do dia. Nestes tempos negros de incerteza e falácias comerciais, o conceito de “Filme novo do Schwarzenegger” era uma âncora de esperança, o quente conforto de algo que não nos ia falhar, um segundo lar… O “Filme novo do Schwarzenegger” era tão certo como apanhar umas valentes bofetões depois de chegar a casa às 20h cheios de lama e com queixas de 23 vizinhos acerca de alegada destruição de propriedade alheia e de por em risco a integridade sexual das suas filhas (essas galdérias). Isto para dizer que no ano do senhor de 1988 andámos todos eufóricos durante 7 ou 8 meses porque ia estrear um novo filme do Schwarzenegger e o elevado bodycount já nos retesava os mamilos de antecipação.  Red Heat estrearia no Outono, logo após a chegada das primeiras negativas a matemática.

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Suspiria (1977)

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Ver filmes de terror na noite de Halloween é uma tradição muito portuguesa fortemente enraizada nos nossos costumes e cuja origem remonta ao distante ano de 2009. É surreal a maneira como uma tendência que conhecíamos apenas dos filmes americanos de repente se transforma num segundo carnaval neste jardim florido de lusofonia, numa medrança exponencial violentamente interrompida por um feriado que foi considerado, unilateralmente, supérfluo. Foi nesta tendência que embarquei este ano, de ver um filmezinho de terror antes de me fazer cedo ao vale de lençóis que havia que acordar cedo no dia seguinte para picar boi. A época é fértil em lançamentos novos e reedições, daí que tenha escolhido um Argento perdido que nunca tinha visto por uma daquelas razões que todos temos para ir adiando um filme. Suspiria foi a gema e em nada me arrependo.

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La merde (2014)

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Um brusco tremor e o elevador detém-se. A escuridão rapidamente é substituída por uma tímida luz de emergência que cataliza o incómodo do momento numa das paredes. Quinze dolorosos minutos de silêncio passam e um bater na porta precede as doces palavras de um gentil bombeiro “Esta merda ainda vai demorar. Os gajos da empresa dizem que o contrato de manutenção não cobre intervenções rápidas. Foi o mais barato. Se for preciso mijar, mandamos uma mangueirilha evacuatória.” Estavam presos naquele cubículo um jovem e uma idosa de aspecto bastante carcomido, como se a vida lhe tivesse passado por cima de locomotiva enquanto ela estava amarrada aos carris. Repetidas vezes. Ao dia. “Temos aqui um ligeiro problema”, insinuou a velhota. “Então?” Respondeu o rapaz incapaz de lhe fixar o olhar.  Ela inspira e confessa pesadamente. “Eu tenho uma mutação rara que se não tiver sexo 3 em 3 semanas expludo em merda pelos poros”. O jovem arregala os olhos e sem conter o espanto deixa escapar três onomatopeias imperceptíveis que a velha,estranhamente, parece entender. “É daqui a 30 minutos, olha!”. Virando-se de costas levanta a camisola e expõe o corpo nu. O rapaz continua horrorizado e ela diz “Oops!”, sorri embaraçada e levanta as peles que tapam um contador em contagem decrescente orgânico cravado na própria estrutura anatómica. O mostrador conta “00:00:00:14:36”. Volta a tapar-se e vira-se novamente para ele. “O que quer dizer com explodir em merda pelos poros?” pergunta ele hiperventilante.  “30 segundos antes da explosão sinto uma vibração na coluna. Depois dispo-me e uma reacção fisiológica evacua-me uns bons litros de fezes a alta velocidade. Como um espirro mas com merda a sair pelos poros do corpo todo.” Continua a senhora, aparentemente habituada a explicar o seu caso. “E tem isso desde quando? Consegue sempre ter sexo para evitar esse espirro?” indaga horrorizado o rapaz incrédulo nas suas próprias perguntas. “Tenho há 17 anos e só por duas vezes tive sexo para o evitar. De resto tenho uma sala em casa preparada para que isto aconteça. Coloco-me no centro, expludo em merda pelos poros e um sistema de lavagem automático limpa-me a mim e à sala em 2 ou 3 minutos. Já me habituei. Hoje teria chegado a tempo se não tivéssemos aqui ficado presos.” A suar profusamente, o rapaz analisa a velha de alto a baixo. Era uma visão de hórrida repulsa. Encarquilhada meio elefante em decomposição meio queijo Camembert, parecia ter uma excreção sebácea a escorrer pelas pernas e pescoço. O seu sorriso era como o suave beijo da morte, exalando vapores capazes de anestesiar totalmente um cavalo em pleno vigor. “E agora?” – pergunta a velha – “fodemos ou é para rebentar em merda?”.

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Zombie Hunter e a escassez contemporânea de boa série B

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Não sou contra a tendência dos grandes estúdios enveredarem pelo caminho do Grindhouse e filmes em homenagem à gloriosa série B que fez de nós homens (ou mulheres ou híbridos extraterrestres). Fazem-no com bons orçamentos permitindo a realizadores antes vetados à poupança extrema alargarem os seus limites a algumas das mais explícitas e realistas carnificinas alguma vez vistas. O problema é que esta vaga de série B mainstream veio matar a verdadeira série B, retirando-lho grande parte do escasso mercado que ainda tinha. De repente os pueris cinéfilos das nossas praças acham que Machete, Death Proof e Planet Terror são o “real deal”. Acham que os vampiros, lobisomens e zombies são assunto para blockbuster e para o Brad Pitt humedecer quanto vagináceo  trintão e quarentão por aí haja. Com este misto de boa vontade com o mais fétido mercenarismo comercial, as produções de série B que fizeram de países inteiros notáveis fontes da cinéfilia do culto do morticínio começam a desaparecer no nosso panorama. Onde antes haviam vagas de géneros exploitation capazes de encher duas salas de prateleiras com capas VHS amareladas, hoje lá vão saindo um ou outro ocasionalmente. Os Asilum e os SyFy não contam, porque são fruto da mesma desonesta exploração comercial que os blockbusters de zombies. Só que em vez de fazerem um filme, fazem 2500 com o mesmo orçamento. Opções…

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O Sérgio foi ver o Manderlay

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Olá bebé. Não dás uma beijoca ao teu xuxu?” sussurrava melosamente o Sérgio às miúdas no liceu. O intervalo tornava-se assim um laboratório de ensaios que transformariam o Sérgio num comercial de sucesso para os finais dos anos 90. Isto, claro, até uma grave crise de consumo o ter levado a aceitar um contrato de rescisão bastante lesivo para os seus interesses, que na ansia de pagar as prestações do BMW o Sérgio se vira obrigado a assinar. O Sérgio gostava do Van Damme e de filmes de porrada em geral. Não gostava quando as personagens falavam muito ou quando passavam mais de 10 minutos sem haver turbulência nos filmes que via. Sentia-se confuso com flash backs e quando alguma situação mais inesperada ocorria numa narrativa menos convencional não era raro o Sérgio perguntar “É um sonho?”. O artefacto do “sonho” era recorrente nas novelas e séries dos anos 80 que permitia avaliar a reação dos  espectadores a mudanças futuras. O sonho é também um mecanismo narrativo de failsafe, uma rede que permite fazer o rollback de um arco narrativo menos bem aceite. O Sérgio gostava mesmo era de coisas lineares. “Há um mau muito mau que aleija meninos e um bom que sabe karaté aparece para o matar, FIM.

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After Earth (2013)

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Will Smith sempre foi um insuportável bonacheirão, um pirralho de morais questionáveis, na eterna fronteira do adorável / insuportável / “matem-no com fogo”, um efeito secundário de um sitcom que correu melhor do que esperado. Agora, subitamente, transformou-se num pai preocupado, num modelo de patriarquia. Uma abrupta mudança de direcção cuja inércia do movimento rápido nos deixou a todos com uma certa náusea, algo comparável com enjoo marinho ou como quando atravessamos o Algarve pela montanha junto a Espanha num autocarro de Rodoviária de 1982, com aquele inebriante cheiro que é uma mistura de plástico em decomposição com ceroulas usadas duas semanas seguidas sem ver água. Neste novo modelo de Will Smith assistimos a tentativa após tentativa de enfardar o seu filho na elite Hollywoodiana, como que a querer encaixar um cubo num buraco redondo. É nobre que o faça, é o seu dever de pai. No entanto, como estrela de topo na indústria com décadas de experiência, Smith deveria perceber como funciona a sua própria profissão e compreender que há coisas que não podem ser forçadas. Uma criança sem carisma, sem talento e sem as qualidades representativas do seu pai irá ser, no limite, chacinado pela crítica e pelo público.

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Star Trek Into Darkness (2013)

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No saudoso verão de 2009 saiu o primeiro tomo deste franchisado reboot e eu fui ver ao cinema, como ditou o reflexo condicionado de consumidor seguidista e pouco exigente. Durante umas semanas não falei no filme, deixei que as minhas primeiras impressões e preconceitos sedimentassem. Lá me sentei numa pedra em posição yoga e ouvi os amigos que me pediam para controlar o ódio. Vi o que de positivo se podia ver nesse filme e acabei por aceitar este novo Star Trek em realidade paralela para permitir uma nova dose de aventuras que não colidissem com as anteriores. Esse amor rapidamente passou e esta sequela nem sequer a fui ver ao cinema, porque “puta que os pariu a todos mais as sequelas”. Vi o filme quando chegou ao videoclube do povo e estou então pronto para continuar a dissecar os blockbusters deste verão de má memória, e que Deus nos livre e guarde de mais épocas assim. Tende piedade de nós.

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